Comissão da Verdade completa um ano sem acesso a arquivos das Forças Armadas


É grave, gravíssimo mesmo, o que afirma hoje em entrevista ao Estadão Rosa Maria Cardoso, que assume amanhã - e pelos próximos três meses - a coordenação da Comissão nacional da Verdade (CNV). Ao falar sobre a recusa dos militares de fornecer documentos à Comissão, Rosa diz com todas as letras o que era dito até agora nas entrelinhas - ou nunca o foi com tanta clareza:"Tentamos todas as formas de solicitação institucional. Procuramos o ministro da Defesa (Celso Amorim) e temos recebido sempre a informação de que os arquivos foram queimados".

"Mas estamos procurando outros caminhos", informa a conselheira, que confirma explicitamente ao O Estado de s.Paulo que as Forças Armadas, como escreve o jornal "continuam desafiando as investigações de crimes cometidos por agentes do Estado no período da ditadura militar (1964-1985)". Ela não adiantou quais são essas alternativas e novos caminhos.

A Comissão completa hoje um ano de funcionamento sem conseguir acesso aos arquivos da repressão desencadeada pelas Forças Armadas naqueles anos. Pelo contrário, registra o Estadão: "O grupo encarregao de investigar crimes do Estado teve sua entrada barrada pelas Forças Armadas nas dependências do CISA, CIEX e CENIMAR, os centros de inteligência (órgãos de informação) da Aeronáutica, Exército e Marinha que organizavam as operações de combate a grupos armados nas cidades e nas áreas rurais".

CNV terá mais seis meses de trabalho, no mínimo

Pela lei que a criou, A CNV teria mais um ano de funcionamento e dia 16 de maio do ano que vem divulgaria seu relatório final, mas a presidenta Dilma Rousseff já anunciou que os trabalhos serão prorrogados por mais seis meses chegando até o final de 2014.

Já o coordenador que entrega o cargo amanhã para Rosa, Paulo Sérgio Pinheiro - a função é exercida rotativamente por três meses entre os sete conselheiros da comissão - antecipou que no balanço que divulga na próxima semana sobre o primeiro ano de atividades, a CNV vai indicar os centros de tortura clandestinos utilizados pelos comandos dos órgãos de repressão durante a ditadura.

Segundo Pinheiro, na relação constarão casas e propriedades rurais usadas para reprimir os opositores do regime militar. Este ralatório-balanço da comissão identificará, também os nomes verdadeiros dos diversos militares e agentes da repressão que atuavam nesses locais. "É um levantamento dos centros de tortura e um grande organograma no qual os espaços antes desconhecidos começam a ser preenchidos com nomes, cargos e inttituições", adiantou Pinheiro.

Relatório vai sugerir revisão de mentiras e mitos sobre 1964

Outra excelente - e necessária - iniciativa que constará do relatório final dos trabalhos, antecipada por Pinheiro: a Comissão recomendará que se faça uma "revisão drástica" do ensino de História nas academias militares, para que mude a forma como o golpe é ensinado e visto por estas instituições.

"É preciso - destaca Pinheiro em entrevista a O Globo - uma revisão drástica do ensino de História nas academias militares, onde mentiras e mitos sobre 64 são repassados. Como a de que o golpe foi uma revolução contra o comunismo. Isso é história da carochinha. Esse golpe de 64 foi sendo preparado desde Juscelino Kubitschek. Esse desejo de imposição da ditadura em nome da segurança nacional é velho. Foi o terrorismo de Estado, que implementou uma ditadura".

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