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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Um jornalista e político que se orgulhava mesmo era de ser escritor.


Rodolfo Konder aparentava ser tímido, mas na verdade era uma figura reservada, extremamente orgulhosa de sua carreira literária. Mais do que tudo, que sua história de vida, atividade política, militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), combate e resistência a ditadura, vida pública e cargos que ocupou, o que envaidecia Konder era ter escrito seus livros, crônicas e artigos para jornais e revistas.

O jornalista, escritor professor Rodolfo Konder morreu no feriado da semana passada, aos 76 anos, depois da última internação, de 20 dias, na UTI do Hospital da Beneficência Portuguesa, onde tratava de um câncer. “Ele estava em uma batalha insana contra a doença. Rodolfo foi uma pessoa muito séria, muito íntegra, muito intrigante. Era um excelente pai. Muito divertido. Foi uma perda muito grande”, disse à Folha de S.Paulo sua esposa Silvia. O corpo de Konder foi cremado no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), em cerimônia restrita aos familiares – ele tinha um filho.

Seu pai, Valério Konder, foi dirigente do PCB e ele era irmão do filósofo Leandro Konder. Com esse histórico e antecedentes, era inevitável: iniciou sua atividade política no proscrito PCB, onde também militou o ex-ministro José Dirceu. Os dois nem sempre estiveram do mesmo lado, divergiram em política muitas vezes, mas é a pedido de Dirceu que homenageamos Konder neste blog.

Combatente contra a ditadura, testemunhou a tortura e assassinato de Herzog

Rodolfo Konder lutou contra a ditadura militar desde a 1ª hora em que ela foi implantada em 1964. Na clandestinidade, ele fez traduções para o editor Ênio Silveira e pouco depois começou a trabalhar como redator na agência de notícias Reuters. Em 1975, ele foi preso junto com o jornalista Vladimir Herzog no DOI-CODI do II Exército, onde Herzog foi assassinado.

Konder, seu amigo, testemunhou na cela ao lado, a tortura de que ele foi vítima e foi o primeiro a denunciar que o colega havia sido morto pelos torturadores. Como militante do PCB, ele foi obrigado a se exilar, quando viveu no Canadá e trabalhou na Rádio Montreal.

Na volta, já na redemocratização do país, atuou em grupos de Direitos Humanos, fundou e presidiu a seção paulista da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a seção brasileira da Anistia Internacional. Konder foi também professor de jornalismo na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), diretor da FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado).

Um cargo polêmico na vida pública

Passagem das mais polêmicas de sua vida pública, na década de 1990, ele foi secretário municipal de Cultura dos prefeitos Paulo Maluf (1993-1996) e Celso Pitta (1997-2000). Konder atuou nas redações das revistas Realidade, Singular Plural, Visão, Isto É, Afinal, Nova, Playboy, Revista Hebraica e Época.

Durante quatro anos foi editor-chefe e apresentador do Jornal da Cultura, na TV Cultura de São Paulo, e colaborador permanente de O Estado de São Paulo, durante 10 anos. Como colaborador, publicou artigos nos jornais Movimento, O Diário, Voz da Unidade, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde, Gazeta Mercantil, Diário Popular, Pasquim, O Paiz, La Calle, El Clarin, História, Venus, Opinião, Povos e Países, Jornal do Brasil, Jornal da Semana, Leia Livros, Shopping News, Américas e Shalom.

Como escritor, publicou os livros: Cadeia para os Mortos; Tempo de Ameaça; Comando das Trevas; De Volta, Os Canibais; Anistia Internacional: uma Porta para o Futuro; O Veterano de Guerra; Palavras Aladas; O Rio da nossa Loucura; As Portas do Tempo; A Memória e o Esquecimento; A Palavra e o Sonho; Hóspede da Solidão; Labirintos de Pedra; Rastros na Neve; Sombras no Espelho; Cassados e Caçados; Agonia e Morte de um Comunista; A Invasão; As Areias de Ontem; Educar é Libertar; e O Destino e a Neve.

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