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domingo, 2 de março de 2014

Surge, pela 1ª vez, o nome de um militar torturador de Rubens Paiva


O coronel (reformado) do Exército Armando Avólio Filho contou em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) ter visto por uma porta entreaberta, em janeiro de 1971, um colega de DOI-CODI-Rio, o tenente identificado como Antônio Fernando Hughes de Carvalho (já falecido), torturando um preso político que, pelas características físicas, era o ex-deputado Rubens Paiva, morto sob tortura, nas dependências daquele órgão de repressão da ditadura militar.

Avólio é ex-integrante do Pelotão de Investigações Criminais da Polícia do Exército (PIC-PE) e segundo revelou no depoimento, o tenente Hughes pulava sobre o corpo do preso que torturava, na carceragem do DOI-CODI-Rio, do então I Exército – hoje comando Militar do Leste – na rua Barão de Mesquita, na Tijuca.

No depoimento à CNV, Avólio confessa que tempos depois, ao tomar conhecimento do desaparecimento do ex-deputado, percebeu que a vítima torturada por Hughes, um homem branco e forte, era o ex-deputado Rubens Paiva, assassinado no local naqueles dias. Com a revelação e o nome dado por Avólio, tem-se conhecimento de praticamente tudo o que aconteceu e envolveu o assassinato do ex-deputado, menos o que fizeram com seus restos mortais, ou onde o sepultaram – se o sepultaram.

A tragédia de Rubens e da família Paiva

Rubens Paiva foi preso em casa, no Leblon, dia 20 de janeiro de 1971, por uma equipe do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA), entregue no mesmo dia ou no seguinte ao DOI-CODI e desde então consta na lista dos desaparecidos com sumiço provocado pela ditadura militar.

Paiva foi levado sob a acusação – nunca formalizada – de trazer correspondência de exilados no Chile para brasileiros, como o ex-vice-prefeito do Rio Paiva Muniz, a quem receberia em casa no dia em que em que foi levado. A mulher, Eunice, e a filha, Eliana, de 15 anos, também foram presas – a garota foi libertada 24 horas depois, mas mas Eunice ficou 15 dias presa no DOI-CODI da Barão de Mesquita.

No depoimento agora, 33 anos depois, à CNV, Avólio, que como Hughes era tenente à época, contou que logo após testemunhar a cena do espancamento, a tortura, chamou seu chefe imediato, o então major Ronald José Baptista de Leão, e levou o caso ao comandante do DOI, o também major José Antônio Nogueira Belham, e ao comandante da PE, coronel Ney Fernandes Antunes. Em carta à Comissão, Leão confirmou o episódio – Leão morreu no início deste ano.

Citados na tortura e morte de Paiva eram dos órgãos de repressão

Hughes vinha do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) e foi descrito no depoimento de Avólio como um “militar loiro”. O banco de dados digital do projeto Brasil Nunca Mais confirma que ele participava de ações da repressão contra a esquerda atuando em parceria com militares do CISA.

O depoimento de Avólio foi prestado à CNV no ano passado, ao ex-procurador geral da República Cláudio Fontelles, então membro da Comissão. Fontelles também ouviu o general (reformado) José Antônio Nogueira Belham. O general disse estar de férias quando da prisão e desaparecimento de Rubens Paiva, sendo substituído pelo major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. Mas mostrou documento à CNV pelo qual, em determinados dias daquele janeiro, teve as férias suspensas para o cumprimento de missão especial e por ela chegou a receber diárias.

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