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sexta-feira, 14 de março de 2014

A defesa da retomada das reformas de base de Jango


“Hoje, estamos com os mesmos problemas que poderíamos ter resolvido há 50 anos. A reforma agrária proposta por Jango em 64 está empacada hoje, estamos confundindo reforma agrária com reforma fundiária”, destacou João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, ao participar nesta 5ª feira (ontem) do seminário promovido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o cinquentenário do Comício pelas Reformas de Base realizado na Central do Brasil.

João Vicente tem defendido a retomada das propostas de reformas de base elaboradas por seu pai em entrevistas. Remessa de lucros é um dos temas em discussão no momento pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com entidades e representantes do empresariado nacional e multinacional.

No seminário alusivo àquele comício de 13 de março de 1964, também a filha do ex-presidente, Denise Goulart, ressaltou a importância de se resgatar a memória para esclarecer o momento histórico do pré-golpe militar. “Lembrar fatos como esse não representa só um resgate, mas esclarecer um momento histórico brutalmente interrompido. Vamos lembrá-lo sempre e que o golpe de 64 nunca mais volte a acontecer”, assinalou Denise.

O medo naquele dia 13 de março de 1964

No seminário, a viúva do ex-presidente, Maria Tereza Fontella Goulart, insistiu que as reformas propugnadas por Jango ainda não aconteceram. “É muito importante – destacou – que as pessoas pensem até hoje que as propostas dele eram muito interessantes para o país, mas até agora não foram realizadas.”

A ex-primeira-dama Maria Thereza afirmou ao chegar ao seminário que teve medo de participar do Comício da Central. “Eu tive muito medo porque estava uma pressão muito grande, ele (o presidente Jango) não estava bem de saúde. Também havia boato de que haveria um atentado”, confessou a viúva do presidente Jango.

Consultor-geral da República no governo Goulart, o ex-ministro Waldir Pires fez a sua análise sobre o comício dentro do governo naquele ano e o amplo apoio popular que o evento teve. “Nossa percepção daquele dia foi admirável. Eu e Darcy Ribeiro (então chefe da Casa Civil da Presidência) conversamos com o presidente 15 minutos antes no Palácio das Laranjeiras. Era uma convocação popular, foi o maior comício público que já se fez no Brasil, e ali ele fez afirmações básicas, as reformas de base. O discurso dele foi primoroso”.

Comício funcionou como senha para acelerar o golpe

O Comício da Central foi proposto pelo ex-presidente como forma de tentar pressionar o Congresso a aprovar as reformas de base, entre as quais a agrária e a eleitoral. Mas, para a direita, o comício funcionou como senha para acelerar o golpe em marcha e 19 dias depois do evento na Central, Jango foi deposto pelos militares. Sua viúva encerrou o evento ontem na UFRJ.

“A todos – concluiu com a voz embargada – meu muito obrigada pelo carinho e pela lembrança de que vivemos aqueles momentos de um passado tão marcante na história do nosso país. Acho que foi Deus que me deu ajuda para estar aqui nesse momento, 50 anos depois, para uma reflexão do Brasil de Jango, que tanto sonhou com muita esperança para o povo. Meu tempo já é pouco, mas aos jovens desejo que lutem pelo futuro do Brasil e pela paz”.

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