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terça-feira, 16 de abril de 2013

Flaviano Limongi: Verdade é obrigação! - Nailson Castro


A nossa rotina futebolística, mudada lenta e quase que permanentemente no decorrer da década de 90, foi uma ferida profunda no coração de nosso querido amigo Limongi. Esse homem, vulto por diversos prismas, foi o principal responsável por inúmeras ações que alavancaram o futebol amazonense, do amadorismo varzeano para o profissional ilustre.

Muito foi dito e seria até chato repetir o que todos os outros jornalistas que um dia conviveram com Limongi, ou que pelo menos estudaram seus feitos, já disseram. Particularmente eu tenho um agradecimento, feito muitas vezes pessoalmente a ele, e que vou repetir depois de dizer o porquê.

Era o ano de 2006 e o São Raimundo, Tricampeão do Norte, seguia ou pelo menos mantinha-se na 2ª divisão do Campeonato Brasileiro. Já sem a mesma eficiência quando jogava em casa, todos os jornalistas esportivos do Amazonas criticavam a postura do time, a estratégia dos vários técnicos (retranca ao jogar em casa), a falta de autodoação dos atletas (80% oriundos de outros estados) entre outras suposições.
Foto-montagem: Nailson Castro
No caderno de esportes do decapitado O Estado do Amazonas, eu, André Viana e Cesar Nunes (estagiário acima da média) seguíamos, com uma mínima estrutura, dando conta de nossas oito páginas diárias, com ou sem as orientações nosso editor-chefe, Agnelo Oliveira (diferente de nós deve ter comemorado o reencontro com Limongi).

E eu, quase sempre incumbido pelas notícias do desporto amazonense, decidi expor a verdadeira razão pelos resultados do Tufão. Naquela turma de descompromissados jogadores o cabeça era o Piá, vindo do interior paulista. Chegando por aqui descobriram as festas, de segunda-a-segunda. Pagode num dia, forró no outro, sítio e churrasco e rock nos demais dias. E não importava se haveria treino ou jogo. As saídas e farras eram prioridade para os 11, dentre os quais pelo menos seis eram titulares. Primeiro abordei o assunto sem citar nomes, em uma coluna semanal que era publicada às quintas-feiras.

Explanei e afirmei que tinha provas, pois eu tinha fotografado a turma em duas diferentes casas de festas. No sábado havia jogo, contra o ABC do Rio Grande Norte, contumaz freguês do Tufão nos jogos aqui e dependendo do resultado eu daria “nomes aos bois”. Na sexta-feira ao tentar fazer a matéria do chamado treino apronto, o ultimo antes dos jogos, fui avisado por um dos funcionários da Colina: “Cuidado com os jogadores! Eles querem te acertar por causa da tua denúncia!”.

Eu, que havia abandonado os campos em 1996 e passei a me dedicar aos tatames, judô e jiu-jitsu, não dei ouvidos ao aviso. Ao entrar em campo fui encarado por quase todos os importados, que não me conheciam fora dos momentos profissionais. Fiz as entrevistas com os jogadores do Amazonas (Nando, Vidinha, Luíca, André entre outros) que faziam parte do plantel, sem dar “moral” aos meus denunciados. Eles, inconformados com a minha presença, ao fim da minha última entrevista, me ameaçaram verbalmente. E o bicho pegou e eles me “conheceram”.

Ao chegar ao jornal, com a redação inteira sabendo da “briga”, Flaviano me acenou de sua poltrona e disse: “Não afrouxe pra ninguém meu camarada. Se estiver com a razão, faça o que um jornalista tem que fazer e durma tranquilo”. 

O São Raimundo perdeu o jogo do dia seguinte para o ABC. Fizemos toda a cobertura jornalística e na quinta-feira, dia da minha coluna, citei todos os nomes e publiquei duas fotografias dos “barqueiros”. Oito atletas foram imediatamente demitidos pelo então diretor de futebol Ivan Guimarães, o que também rendeu muitas matérias e comentários.

E dois dias depois, no plantão do fim de semana, Sêo Limongi entrou na redação para escrever sua coluna semanal. Eu fiquei esperando dele o elogio. Ele passou por mim sem dizer nada. No meio da tarde pagou a merenda para todos que estavam no plantão. Às 16:30h me chamou e eu levantei entusiasmado, mas ele apenas me mandou ligar pra sua residência para que alguém fosse buscá-lo, o que fiz. Quando o acompanhei para ajudá-lo a descer a pequena escada da entrada do jornal, hoje Tv Band Manaus, ele me disse: “Essa é a nossa obrigação!”

Perguntei a ele sobre o que ele falava, para que o elogio não ficasse subentendido. Ele respondeu : “Sempre ajude os mais velhos. Quanto ao São Raimundo, aquilo foi obrigação”.

Gostaria muito que nossos editores esportivos, tivessem convivido, nem que fosse um só dia com você! Alguns deles precisam muito encontrar a verdade! Quem sabe assim comecem a fazer a coisa certa.

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