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quarta-feira, 25 de junho de 2014

ROSE MARIE MURARO: Uma mulher de coragem.


Faleceu no fim de semana, aos 83 anos, a escritora e feminista Rose Marie Muraro, uma das principais vozes da luta do feminismo (o movimento de emancipação das mulheres) no país entre os anos 1970 e 1980 e da Teologia da libertação, base da luta da Igreja Católica pela emancipação dos oprimidos naqueles anos.

Militante ativa dessas duas frentes, Rose foi uma das vozes mais lúcidas e acatadas no movimento feminista, uma maiores combatentes da ditadura militar. Por isso, foi perseguida em todas as trincheiras que ocupou e em todos os momentos em que vez ouvir sua voz em nome das causas pelas quais lutou e dedicou sua vida. Rose nasceu praticamente cega, e apenas aos 66 anos conseguiu recuperar a visão após uma cirurgia.

Os restos mortais de Rose foram cremados no domingo, no Memorial do Carmo, no bairro do Caju, no Rio, em cerimônia reservada da qual participaram apenas familiares e amigos próximos. Segundo sua filha, Tonia Muraro, ela tinha câncer na medula óssea há 10 anos e passou a última semana internada no CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana, em tratamento de complicações decorrentes da quimioterapia.

Mais de 60 anos dedicados à conquista de direitos pelas mulheres

Ao todo ela dedicou mais de 60 de sua vida à luta pela conquista dos direitos das mulheres. Escreveu mais de 40 livros e editou cerca de 1600 títulos, quando foi diretora da Vozes. Nos anos 80, presenciou a virada conservadora da Igreja. Em 1986, Rose e Boff foram expulsos da Editora Vozes por ordem do Vaticano – ele, pela apologia que fazia da Teologia da Libertação; eça, pelo mesmo motivo e mais, por editar e publicar o livro «Por uma erótica cristã».

Rose Muraro também trabalhou, por vários anos, na Editora Rosa dos Tempos. Durante os mais fechados anos da ditadura militar, mesmo sob severo controle dos órgãos de repressão, na editora em que trabalhava, teve a a coragem de publicar autores de esquerda então classificados como malditos como Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Freire e outros.

Por estas e outras razões, no dia 30 de dezembro de 2005 foi proclamada oficialmente, pela presidenta Dilma Rousseff, “Matrona (Patrona) do Feminismo Brasileiro”. Uma das marcas de seu profundo humanismo legada às futuras gerações é a Fundação Instituto Cultural Rose Marie Muraro, onde trabalhou até quase seus últimos dias, montado segundo sua filha Tonia, porque a mãe tinha o sonho de construir um mundo mais solidário e lutou por isso.

Nascida em uma das famílias mais ricas do do Brasil, aos 15 anos, com a morte repentina do pai, Rose Marie Muraro rejeitou sua origem e dedicou o resto da vida à construção de um novo mundo, que ela descreveu como mais justo, mais livre. Conheceu o então padre Helder Câmara e se tornou membro de sua equipe. Os movimentos sociais criados por ele nos anos 40 tomaram o Brasil inteiro na década seguinte.

A mensagem de pesar da presidenta Dilma

No dia de sua morte, sábado pp, a presidenta Dilma Rousseff, em uma rede social, lamentou: “Foi com tristeza que soube da morte de Rose Marie Muraro, ícone da luta pelos direitos das mulheres. Intelectual notável, Rose Mariue foi uma mulher determinada em tudo, na luta contra a barreira da cegueira, na luta pelas suas ideias. Somos todas gratas à dedicação incansável de Rose Marie”, escreveu. Também em rede social, o Instituto Rose Marie Muraro postou um poema inédito da escritora com o título “O Pássaro de Fogo”.

Rose Marie Muraro foi eleita, por nove vezes, «A Mulher do Ano». Em 1990 e 1999 recebeu o título de «Mulher do Século», e em 1994, de Intelectual do Ano, da União Brasileira de Escritores. Seu trabalho como editora foi considerado um marco na história da resistência ao regime militar, e devido a ele recebeu do Senado Federal o Prêmio Teotônio Vilela, em comemoração aos 20 anos da anistia no Brasil.

Como diz Leonardo Boff em seu artigo aqui no blog hoje, “Rose mostrou em sua saga pessoal que o impossível não é um limite mas um desafio. Ela se inscreve na linhagem das grandes mulheres arquetípicas que ajudam a humanidade a preservar viva a lamparina sagrada do cuidado por tudo o que existe e vive. Nesse afã ela se tornou imorredoura.”

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