Em sua coluna publicada neste domingo nos jornais Folha de S.Paulo e O Globo sob o título "O quartel da PE e a morte de Rubens Paiva", o jornalista Elio Gaspari, com um exemplo extremamente elucidativo - sobre o assassinato do ex-deputado -, reafirma aquilo que temos dito aqui no blog todos estes anos: as Forças Armadas erram ao não admitir e não assumir a tortura, os assassinatos e os desaparecimentos políticos de adversários do regime durante a ditadura militar (1964-1985).
Erram ao não cooperar com a Comissão da Verdade e com as sucessivas tentativas de familiares e autoridades do governo de encontrar os desaparecidos. Melhor fariam se fornecessem todas as informações ao país e pedissem desculpas e perdão à nação pelo crimes da ditadura militar. Como já fez o Estado brasileiro. Mais cedo ou mais tarde se tornará público o nome de todos os que cometeram crimes escudando-se que o faziam em nome do Estado.
Como já vem acontecendo, não adianta querer protelar, tentar esconder estes nomes por mais tempo. Como ocorre no caso do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva e no desaparecimento de seu corpo, e como acontece em relação a tantos outros mortos e desaparecidos, cujos nomes dos assassinos já são hoje conhecidos.
Caso Rubens Paiva, prova exemplar da covardia e da barbárie
No caso gravíssimo do ex-deputado Rubens Paiva, com praticamente todos os nomes de seus torturadores e assassinos já conhecidos, temos a prova exemplar da barbárie e covardia contra ele cometidas. Não há mais o que esperar. O que se aguarda, agora, é a convocação pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) dos oficiais ainda vivos para depoimento.
Elio Gaspari, em sua coluna deste domingo, afirma que "o silêncio dos comandantes militares em torno dos crimes cometidos em quartéis por oficiais que cumpriam ordens dos hierarcas da ditadura teve três efeitos sucessivos" a saber: ao negarem que as torturas e os assassinatos ocorreram (eles) contaminaram as instituições militares nacionais; um segundo efeito foi a prática dos militares de passar a responsabilidade nominal e exclusiva (pelos crimes) para oficiais que à época eram no máximo coronéis; e o terceiro é a prática que adotam, agora, de "deslizar" a responsabilidade pelos crimes para a "memória" de oficiais mortos.
O articulista exemplifica a situação com o caso Rubens Paiva. Diz que a responsabilidade maior no caso do assassinato do deputado é agora atribuída ao coronel Ney Fernandes Antunes, que nem tinha comando sobre o DOI-CODI-Rio, onde Rubens morreu, embora o centro de tortura funcionasse dentro de seu quartel. O coronel Ney está morto. No caso Rubens Paiva, citam o oficial médico Amilcar Lobo, que atendeu o ex-deputado já agonizante. Amilcar também já morreu.
Militares, agora, só imputam crimes a oficiais mortos
Mas Elio diz que dois outros oficiais, o tenente Armando Avólio Filho - que avisou a Amilcar que Rubens estava morto - e o então major José Antônio Nogueira Belham, comandante do DOI-CODI quando do assassinato (agora general da reserva), estão vivos e são dois testemunhos "ao alcance da Comissão da Verdade e de suas averiguações".
Elio Gaspari registra que as Forças Armadas não falam sobre esses e outros oficiais vivos, nem os associam à morte de Rubens Paiva. "Se os deslizamentos não forem contidos, o caso Rubens Paiva terminará assim: ele foi massacrado na PE do cel. Ney Fernandes, e o responsável pode ter sido o major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. Quem sabe o comboio da desova poderia ter sido organizado só pelo major Freddie Perdigão Pereira, do CIE (Centro de Informações do Exército). Todos mortos como Rubens Paiva".
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