A verdade sobre os crimes da ditadura virá à tona



A recusa das Forças Armadas em dar todas as informações à sociedade, à Comissão da Verdade e aos familiares é um erro. A cada dia, a cada mês e cada ano, assessores, filhos e mesmo integrantes da repressão virão a público contar a verdade. E um dia tudo vai se esclarecer e os responsáveis responderão pelos seus crimes perante os tribunais e a história.

Digo isso hoje motivado por duas coisas: o depoimento dado ontem (5ª) por parentes e amigos de quatro mulheres militantes desaparecidas durante a ditadura e a entrevista que o ex-braço direito do torturador e assassino Sérgio Paranhos Fleury, antigo chefe do DOPS paulista, deu ao iG.

Comecemos pelas quatro companheiras desaparecidas no Araguaia. Parentes e amigos das militantes do PCdoB falaram em audiência pública na Comissão da Verdade de São Paulo. Helenira Rezende de Souza Nazareth, Luisa Augusta Garlippe, Maria Lúcia Petit da Silva e Suely Yuniko Kanayama sumiram na Guerrilha do Araguaia, no Sul do Pará, no início dos anos 1970. Até agora, o episódio não foi esclarecido.

“Infelizmente, decorridos 40 anos desses fatos, a gente ainda não teve todos os crimes esclarecidos”, disse Laura Petit, irmã de Maria Lúcia. Ela afirma que a punição dos responsáveis, como determinou a Corte Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, é apenas um dos desejos dos parentes.

“Tudo é conhecido, tudo é sabido. A gente fica aguardando que se estabeleça a verdade. Chega de mentira, chega de ocultação.” Ela cobra um empenho maior das autoridades para localizar os restos mortais dos desaparecidos.

Também depondo na comissão, Criméia Almeida, participante da Guerrilha do Araguaia, presa e torturada em 1972, contou sobre sua recente participação nas buscas pelos restos mortais no Araguaia: “Os moradores disseram que, depois do massacre, em 1975 ou 1976, houve uma operação limpeza. Realmente existiu, porque nós encontramos uma dessas sepulturas que tinha restos de ossos, mas não tinha ossos longos. Não tinha fêmur, não tinha crânio, e tinha projéteis de arma militar”.

Tortura e assassinato

Agora, sobre o torturador Sérgio Paranhos Fleury. Em entrevista ao iG, o delegado Carlos Alberto Augusto disse que está ansioso para falar nas comissões que investigam os crimes da ditadura.

“Vou contar tudo e não só a verdade que a comissão deseja ouvir. Quero que a sessão seja acompanhada pela imprensa ou, se possível, transmitida ao vivo”, diz o delegado. Acusado de ser um feroz agente da repressão, o delegado tenta fazer jogo de cena ao dizer que pretende relevar ações das organizações de esquerda.

Ele já é réu em processos criminais sobre o desaparecimento de presos políticos e é acusado do sequestro do corretor de imóveis Edgar de Aquino Duarte, preso em 1971 e desaparecido desde junho de 1973.

O importante agora, além desses processos, é que ele seja ouvido pelas comissões e que o depoimento ajude a esclarecer episódios macabros da ditadura militar brasileira. É dever das comissões ouvir e cobrar respostas do delegado.

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