Comitê da Verdade do Amazonas pressiona para que investigação de crimes contra waimiri-atroari seja iniciada


Segundo relatório do CVMJ enviado para a Comissão Nacional da Verdade, aproximadamente dois mil indígenas no Amazonas foram mortos durante ditadura militar.

Preocupada com as dificuldades que a Comissão Nacional da Verdade (CNV) vem encontrando para iniciar as investigações de crimes praticados contra os índios waimiri-atroari durante a ditadura militar, o Comitê da Verdade, Memória e Justiça (CVMJ) do Amazonas vai marcar uma ampla reunião em Brasília para discutir o assunto. A decisão foi tomada na semana passada pelo Comitê. A data da reunião foi marcada para o dia 3 de abril em Brasília. 

Um documento expondo as razões da decisão foi enviado no último final de semana a Maria Rita Kehl, membro do CNV designada para investigar as violações contra os povos indígenas durante a ditadura militar. Uma cópia também foi encaminhada para o portal acrítica.com. A proposta do CVMJ é que as lideranças waimiriaAtroari, Mário Paruwe Atroari e Viana Wome Atroari, sejam convidados e participem da reunião. Uma lista composta por indigenistas e pesquisas que já atuaram junto aos waimiri-atroari participem da reunião. 

Os membros do comitê também propõem a realização de uma segunda reunião dentro da Terra Indígena Waimiri-Atroari para informá-los sobre a existência e o papel da Comissão Nacional da Verdade e do Comitê Estadual da Verdade do Amazonas bem como do direito que eles têm de que a verdade sobre sua história seja contada. 

“Estamos deveras preocupados com o andamento do trabalho da CNV com respeito ao caso waimiri-atroari. O relatório do Comitê da VMJ do Amazonas foi o primeiro Relatório Coletivo que a Comissão recebeu, conforme declaração do representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Gilney Viana, na oportunidade da entrega na sede da OAB-Amazonas, no dia 17 de outubro de 2012, portanto, há quase meio ano. Até o momento não recebemos nenhuma informação sobre o andamento desse trabalho em especial ao necessário aprofundamento das investigações a não ser a acusação de recebimento e de que o mesmo estava sendo lido atentamente”, diz trecho do documento. 

Adiamento 

Conforme apurações feitas pela reportagem, Maria Rita Hehl, até o momento, ainda não conseguiu confirmar junto ao Programa Waimiri-Atroari, responsável pela gestão das atividades junto a este povo, a data da visita. Inicialmente, a visita estava marcada para fevereiro, mas o coordenador do PWA, Porfírio Carvalho, apresentou as dificuldades que os indígenas teriam para organizar a vista em um prazo tão curto, segundo justificativas dadas à Maria Rita. 

O coordenador da CVMJ, Egydio Schwade, disse que a reunião é uma forma de agilizar a realização da investigação das mortes dos waimiri-atroari nos anos 70. Schwade é o principal responsável pela divulgação de um massacre que teria ocorrido durante a construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista). A rodovia atravessou o território waimiri-atroari. Ao mesmo tempo, a pressão contra os waimiri-atroari também foi causada por empreendimentos de exploração minerária. 

Contatada pela reportagem, Maria Rita Kehl respondeu terça-feira (06), por email, que ainda aguarda respostas do coordenador do PWA, Porfírio Carvalho a respeito de uma possível reunião inicialmente prevista para este mês. Por enquanto, segundo ela, ainda não há data para a vinda da CNV a Manaus. 

“A agenda das viagens e pesquisas da CN não pode ficar atrelada aos prazos e datas dos pesquisadores das diversas regiões, “por mais que tenhamos respeito por ele, disse a psicanalista. 

A ação indigenista junto aos waimiri-atroari difere de todas as outras do gênero no país. Por um acordo feito nos anos 80 com a Eletronorte durante o processo de construção da Hidrelétrica de Balbina, empreendimento que causou grandes impactos na terra dos indígenas, não é a Fundação Nacional do Índio (Funai) e sim a concessionára, por meio do PWA, a responsável pelos programas realizados junto a esta população indígena. 

No mês passado, Porfírio Carvalho foi procurado pela reportagem para responder a questionamentos feitos em um artigo publicado. Conforme Porfírio, as notícias publicados em um jornal local sobre a visita à aldeia Yawara não eram do conhecimento das lideranças indígenas. 

Conforme Porfírio, ao ser procurado por ele, as lideranças disseram que a data inicialmente marcada (8 de fevereiro) não era possível porque os indígenas estavam “em plena atividade cultural (iniciação de 16 crianças). Nesta atividade, a maioria estava retornando às suas aldeias em caminhadas dentro da floresta com as crianças. 

Como a caminhada compreendia 500 quilômetros a previsão de chegada nas aldeias era de 30 dias, aproximadamente. 

Porfírio disse que explicou para Maria Rita, atendendo a um pedido de informações solicitadas por ela, que “para tratar de assunto tão relevante para os waimiri-atroari, as lideranças de todas as 30 aldeias existentes, querem participar da reunião”. Conforme Porfício, a melhor data seria no final de março, em um “local central” da TI Waimiri-Atroari, localizada na margem direita do rio Alalaú.

Fonte: http://acritica.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hamas devolve corpos de mais quatro reféns a Israel.

A entrega foi feita através da Cruz Vermelha, como no dia anterior, quando os restos mortais de mais quatro israelenses foram devolvidos. Em...