Comissão da Verdade do Rio supera resistência e começa a funcionar

Passado quase meio ano depois de a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovar a lei que criou a Comissão Estadual da Verdade, o governador Sérgio Cabral (PMDB) publicou nesta 4ª feira (ontem) no Diário Oficial o decreto que oficializa e regulamenta o seu funcionamento. Ainda assim, sem a nomeação dos sete membros integrantes do colegiado. Alvíssaras! E assim a Comissão fluminense já realizou sua primeira reunião, na sede da OAB-RJ.

Aliás, o edifício-sede da OAB-RJ é o mesmo onde, no último dia 7, uma bomba explodiu, num suposto atentado contra o presidente da Comissão e ex-presidente da seccional fluminense da Ordem, Wadih Damous. A bomba explodiu depois que ele sofreu ameaça de morte. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) e precisa mesmo ser apurado em profundidade.

"Na Assembleia, houve obstrução durante meses de parlamentares que não queriam a Comissão da Verdade. Essa é uma resistência política e cultural que existe no Brasil, mas que foi enfrentada. A Comissão já começou a funcionar hoje (ontem). Logo depois das nomeações, começaremos a trabalhar. Isso é o que importa. Esse atraso é de natureza política. Já foi contornado e agora vamos cumprir nossa missão", afirmou Damous.

Continua resistência à criação e trabalhos das comissões da verdade

Na verdade, sua declaração e a bomba que explodiu constituem uma denúncia das resistências que a instalação e o trabalho das comissões da verdade ainda enfrentam no Brasil. Ontem, durante a 1ª reunião da Comissão da Verdade fluminense, ficou decidido que ela vai se concentrar na investigação de 164 casos de mortos e desaparecidos no Estado durante a ditadura militar (1964-1985).

"Este número - explicou Damous - foi levantado pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos (do governo federal), mas precisa ser confirmado. Aí estão incluídos Rubens Paiva, Mario Alves, e Stuart Angel. Vamos procurar saber o que aconteceu com essas pessoas, como foram assassinadas e a mando de quem."

O presidente Wadih Damous adiantou que a Comissão decidiu priorizar a análise de casos emblemáticos como a bomba que em 1980 matou a secretária da OAB nacional Lyda Monteiro e a bomba que no 1º de maio de 1981 explodiu no colo de militares que iriam praticar um atentado num show no Riocentro.

Sob investigação financiamentos privados à repressão

"Também vamos investigar os mecanismos de que a repressão se valia, como financiamentos privados. Vamos lembrar da casa da morte de Petrópolis, uma propriedade privada cedida à ditadura para assassinatos. De lá quase ninguém saiu vivo. Só uma pessoa (Innês Etienne Romeu) conseguiu sobreviver", completou Damous.

Embora conhecida e já vivida em outras ocasiões, essa resistência politica e cultural à criação da Comissão da Verdade leva a uma pergunta inevitável: quem tem medo da verdade? O início do funcionamento da Comissão fluminense é de extrema importância porque o Rio era então (1964) o principal centro de guarnições militares do país e, tendo à frente a figura do governador Carlos Lacerda, foi o maior foco de conspiração e oposição ao governo constitucional do presidente João Goulart, o Jango, que conseguiram derrubar.

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