Acessos

domingo, 17 de março de 2013

Habemus Papam - Júlio Lázaro Torma*


"Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido busca-lo quase ao fim do mundo... Eis me aqui". (Franciscus PP)

Fiquei apreensivo como outros e outras 1,2 bilhões de católicos ao ver a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina, na chuvosa e fria noite de 13 de Março de 2013, do inverno Romano.

E mais supreso quando o Cardeal Diácono Jean-Louis Tauran no balcão da Basílica de São Pedro, anunciava "Habemus Papam" e dizia o nome do futuro Pontífice "Franciscum".

O Cardeal Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Jesuíta Papa, argentino, latino-americano, ítalo-argentino, que assume o nome de "Francisco". Na Igreja Católica quando o Papa assume um nome mostra o perfil de vida que este Papa vai seguir.

A mídia incentivava que os principais nomes ao papado era Angelo Scola (Milão) e Odilio Pedro Sherer (São Paulo), pois quem no conclave entra "Papa sai Cardeal".

América latina em dois conclaves teve fortes nomes ao Pontificados, os Cardeais Eduardo Francisco Pironio (1920-1998) da Argentina e Dom Frei Aloisio Leo Arlindo Lorscheider O.F.M (1924-2007) do Brasil, nos conclaves que elegeram João Paulo I, João Paulo II (1978).

Hoje o continente latino-americano, a periferia do mundo, o sul concentra 40% dos 1,2 bilhões de católicos, numa Igreja viva na religiosidade popular e no martírio. Desta Igreja latino-americana que sai Francisco, do sul "perto das raízes", como escrevia o poeta Mario Benedetti (1920-2009).

Jorge Mario Bergoglio nasce no seio de uma família de imigrantes italianos.

No final do séc XIX e inicio do séc XX, após a unificação, o Reino da Itália vivia uma situação de pobreza e miséria, onde muitos italianos pobres, se aventuravam em busca de uma vida melhor do outro lado do Atlântico, no "Novo Mundo", em busca da "cucagna", "far la mérica", o destino era os Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Uruguay e Argentina.

Onde levas de imigrantes partiam das aldeias em romaria da esperança, pelas estradas rumo ao porto de Gênova, dali em vapores com péssimas condições de viagem ao desconhecido novo mundo, a América.

As familias Bergoglio e Sivori deixam a aldeia de Portacamaro Station, Paróquia de San Bartolomeo, na região de Asti no Piemonte, em destino a Argentina, onde desembarcam em Buenos Aires.

Do matrimônio do operário ferroviário Mario Bergoglio e da dona de casa Regina Maria Sivori, nasceram cinco filhos, entre eles, nasce Jorge Mario no dia 17 de Dezembro (Dia de San Lázaro), no Bairro de Flores, na capital porteña.

Se formou como técnico químico e depois abraçou o sacerdócio, ingressou no seminário de Villa Devoto, bairro de Buenos Aires.

1958 ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em Santiago do Chile, onde fez o jovenato. Em 1960 graduou-se em Filosofia na Universidad Católica da Argentina e Teologia em 1964, em Buenos Aires.

Neste período de 1964-1966 lecionou Literatura e Psicologia na Província de Santa Fé e Buenos Aires. No dia 13 de Dezembro de 1969 é Ordenado Presbítero e emite votos na Companhia de Jesus em 1973.

Na Companhia de Jesus desempenhou algumas funções como Mestre de Noviços no Seminário de Villa Barilari em San Miguel.

De 1973-1980 foi ministro provincial dos Jesuítas na Argentina. De 1980-1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia em San Miguel e depois viaja para a Alemanha, onde faz doutorado.

Ao retornar a Argentina desempenha o serviço de confessor e diretor espiritual.

O Papa João Paulo II (1978-2005), o designa á bispo auxiliar de Buenos Aires, onde recebe a ordenação Episcopal pelas mãos de Dom Antonio Quarracino, cardeal de Buenos Aires.

No ano de 1997, é elevado a arcebispo coadjutor e em 28 de Fevereiro de 1998, o Papa João Paulo II, o torna arcebispo metropolitano.

No Consistório Ordinário Público de 21 de Fevereiro de 2001, se torna pelas mão de João Paulo II, Cardeal, recebendo o titulo de Cardeal-Presbítero de São Roberto Belarmino.

Participou em 2005 do Conclave que elegeu Bento XVI e foi na V Conferência de Aparecida, sendo o relator do Documento de Aparecida, além de ter sido presidente da Conferência Episcopal Argentina de 2005-2011.

É um homem simples, humilde, sensível amigo das pessoas, conversa com todos sem distinção de classe, credo ou ideologia; gosta de estar no meio das pessoas pobres, como era visto nas villas misérias, centuriões da capital porteña.

Não vivia no luxo, não frequentava restaurantes, fazia o trabalho doméstico, como cozinhar, lavar roupas e limpeza de seu apartamento.

Usava o transporte público para vistar Paróquias e capellas, as vezes ia de bicicleta, torcedor do time de futebol San Lorenzo. Celebrava a Eucaristia nas capellas, ajudando seus padres.

Amigo dos " Curas Villeros", visitava e os apoiava, como no caso de um padre villero ameaçado de morte pelos traficantes de paco (crack), na qual foi na casa do padre e passou no meio dos traficantes fortemente armados, sem escolta policial.

Sua visão pastoral não é retrógrada, aprovou mudanças litúrgicas (pois o Concilio Vaticano II, deixa a cargo da Igreja local). Visão moral é contra o aborto e o casamento gay, ao mesmo tempo em que condenou padres que se recusavam batizar filhos e filhas de pais não casados na Igreja.

Bergoglio chega ao Vaticano discreto, longe dos palpiteiros, holofotes, onde ninguém apostava, azarão, chegou "Cardeal e saiu Papa". Olhando o Papa Francisco, nos lembra outros três Papas a fisionomia de Pio XII, sorriso de João Paulo I e vontade de mudanças de João XXIII.

Que o Papa Francisco consiga restaurar a Igreja e fazer com que a nau de pedro navega na rota traçada no seguimento apaixonado por Jesus, como viveu o Poverello de Assis, na busca incessante de Cristo pobre e crucificado entre os mais pobres do mundo.

Que são os primeiros do Reino de Deus e que vão ser os nossos juízes e que vão nos receber de braços abertos no Reino de Deus que é nosso.

Creio que o Papa Francisco, assim como o filho de Pedro Bernardone, surpreendeu os moradores de Assis com o seu gesto.

Papa Francisco irá surpreender a todos nós, mas devemos dar o tempo ao tempo, rezar para que ele consiga fazer a reforma que a Igreja tanto necessita e precisa urgentemente.
Viva Francisco!!!
_________________
* Membro da Equipe da Pastoral Operária Arquidiocesana de Pelotas/ RS

Um comentário: