sábado, 23 de março de 2013

Seguir Jesus Crucificado - Júlio Lázaro Torma*


"Desejei ardentemente comer convosco esta ceia da Páscoa antes de sofrer" (Lc 22,15)

Neste final de semana celebramos o "Domingo de Ramos", o inicio da Semana Santa, da "Grande Semana", a "Semana das Semanas". Para nós cristãos e cristãs é a mais importante das semanas, onde celebramos o centro da nossa Fé, que é a entrega, morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Somos convidados a ler, meditar e rezar o Evangelho de Lucas, os relatos do livrinho da "Paixão e Ressurreição de Jesus" (Lc 22, 14-23,56).

Onde nos é apresentado a última ceia, Pedro, Judas Iscariotes, multidão, Simão Cirineu, piedosas mulheres (carpideiras) e o bom ladrão.

Olhando as pessoas envolvidas nos trágicos episódios do martírio de Jesus, nós podemos nos encontrar em cada um deles.

Assim como nos anos de 80-100 d.C, havia também nas comunidades lucanas pessoas que aderiam, havia os que negavam, traiam a fé no projeto de vida trazida por Jesus de Nazaré.

O homem carregando o cântaro, nos mostra que está tudo fora do lugar, fora do tino, pois carregar cântaro é trabalho para escravo e mulheres, na cultura semita como na greco-romana. Jesus se põe   à mesa e se entrega por nós no sacrifício da cruz, ao se oferecer na forma do pão e do vinho. Onde pede para fazer em "memória de mim"; fazer a memória de Jesus é viver, assumir o seu projeto, viver a sua vida e ter os mesmos sentimentos em que ele teve, que moveu a sua vida no anúncio do Reino de Deus.

Ao viver está caminhada em comunidade encontramos obstáculos,pois viver a vida de Jesus é assumir a cruz, ela exige renúncia e entrega total, onde eu devo ser servo, seguir aquele que se fez servo (Is 50,4-7; Fl 2,6-11).

No seguimento encontramos aqueles que acreditam que devem ser melhor que o outro. Mas se esquecem que devem servir e não ser servido. Onde caem no carreirismo e na competição, exibicionismos, que tem ferido e sangrado muito a Igreja o corpo Místico de Cristo (I Cor 12,12).

Muitas vezes somos Judas Iscariotes que traem o projeto de Jesus, nos afastamos da comunidade, Judas não foi expulso, ele se auto-afastou ao trair Jesus. Retorna as velhas práticas ao projeto de morte do anti-reino. Ao se deixar seduzir pelos benesses do reino deste mundo, dos falsos valores que contradizem o programa de Jesus de Nazaré.

Pedro que professa a fé em Jesus em nome da comunidade (Lc 9,20), reconhecendo-o como "O Cristo de Deus", fraqueja e o nega três vezes.diante das dificuldades, onde parece que estamos só, com os pés fora do chão, fraquejamos,da pressão negamos a nossa fé com medo das represálias, chacotas e de sofrermos até o martírio.

E diante do poder de Pilatos e Herodes, a multidão pede a morte de Jesus do autor da Vida. Manipulados pelos falsos valores do capitalismo, neoliberalismo e do consumismo desenfreado, nós trocamos o projeto de vida que liberta, por um projeto de morte que é um programa duvidoso e caímos na armadilha, como falava Pedro as multidões; "Agora irmãos, sei que o fizestes por ignorância" (At 3,17).

O caminho da cruz é doloroso,Jesus após sofrer um julgamento injusto, falso, forjado, contraditório nas mãos do sinédrio, de Pilatos e Herodes, agora condenado pela religião e pela política, agora vai carregar a cruz até o Calvário.

No caminho encontram Simão Cirineu, que a escolta obriga a levar a cruz, um cortejo no meio da multidão.

Simão Cirineu é solidário á Jesus ele carrega a cruz, divide o peso da cruz, daquele desconhecido. Olhamos para o Cirineu, ele é solidário com a dor do outro, prontamente assume a sua causa e sua dor.

E vemos as mulheres "carpideiras" que o segue pelo caminho, Jesus lhes lembra a dura realidade da destruição de Jerusalém e de sua pátria.

No Calvário fora dos muros da cidade, longe do poder na periferia, mais uma vez Jesus é rejeitado, como aconteceu no seu nascimento, onde nasce na periferia do mundo, na gruta entre os pastores. Agora ele é rejeitado e morto, é assassinado, como um criminoso, delinquente, terrorista, entre dois ladrões, como diz o profeta; "Ele foi contado entre os malfeitores" (Is 53,12).

O inocente é barbaramente condenado e morto como o pior dos piores criminosos que a terra já viu.

Assim como naquela noite os pastores acolhem Jesus no seu nascimento; no seu suplício da dor e da morte, um delinquente se arrepende e adere ao projeto de JESUS, "onde os últimos serão os primeiros", contrariando os discípulos que queriam ser os primeiros.

No Natal aparece a luz que ilumina a longa noite, agora no meio da tarde, as trevas tomam conta, a morte e as trevas matam a vida e o principio de toda a vida.

O pecado que mata Jesus, mata a humanidade, destrói a criação e a nossa relação com os outros, Deus e com toda a criação que acaba submetida pelo nosso egoísmo e desamor.

Somos chamados a pegar a cruz: "Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (LC 9,23).

Onde ao viver o programa de Jesus devemos saber que devemos sofrer perseguições, vamos cair por terra e até sofrer o martírio a incompreensão das pessoas, as vezes daqueles que mais gostamos e amamos.

Ao olharmos para Jesus, nos, nos perguntamos se estamos dispostos a segui-lo?
Tomar a sua cruz e sofre as conseqüências?
Ou somos como Judas que trai?, Pedro que nega?, 
Simão Cirineu que é solidário? , as mulheres que choram impotentes?
Ou como o bom ladrão que no alto da sua cruz no Calvário, assim como o centurião romano, adere e reconhece Jesus como Libertador da humanidade?

Este reconhecimento só acontece quando estamos dispostos a fazer uma opção preferencial pelos pobres, ai sabemos se de fato assumimos a cruz de Cristo.

Ou ficamos opaco e desvinculado do verdadeiro Jesus que derramou o seu sangue na cruz e morreu como delinquênte na periferia a mando dos donos do poder político e religioso.

Nesta Semana Santa pensamos se estamos mesmo dispostos a assumir de fato a cruz de Cristo e enfrentar as conseqüências que está opção acarretará ou não.

E refletir diante da cruz de Cristo quem eu sou afinal? e o que eu desejo de fato?

Boa meditação e bom final de semana.
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* Membro da Equipe Arquidiocesana da Pastoral Operária de Pelotas/ RS

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