A prisão domiciliar - Frederico Passos*

Até junho de 2012, na Faixa de Gaza, o conflito árabe-israelense já havia consumido 349 almas.

Até junho de 2012, no Iraque, os conflitos envolvendo governo e militares americanos contra grupos da oposição já dizimara 449 vidas;

Até junho de 2012, no Afeganistão, os conflitos envolvendo milícias pró-governo e militantes talibãs ceifara a vida de 502 pessoas;

Já em Manaus, cidade com pouco menos de 2 milhões de habitantes, sem conflitos aparentes com as capitais vizinhas, como Belém, Rio Branco, Macapá, Boa Vista ou com qualquer outra cidade da região metropolitana, como Presidente Figueiredo, Manacapuru, Iranduba, Silves etc, até junho de 2012, já registrávamos a ocorrência de 596 assassinatos, segundo dados da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros – DEHS (Diário do Amazonas, 11.07.2012, p. 14).

Ao que parece, Manaus vive uma guerra surda, onde nossos governantes não escutam os disparos das balas dos revólveres que matam as pessoas diariamente. Manaus vive uma guerra cega, onde o Governador do Estado e o Secretário de Segurança parecem não querer enxergar o aumento da violência em todos os bairros da cidade. Manaus vive uma guerra suja, entre traficantes, usuários de drogas, policiais corruptos, roubos em lojas, bancos, comércio etc. Manaus se transformou numa cidade sem lei, a “Casa da mãe Joana”, com governantes que brincam de administrar, e administrados que se dizem cidadãos. Manaus está um caos. Vale ressaltar, caros leitores e únicos amigos, que os 596 assassinatos ocorreram em Manaus e não no Estado do Amazonas. Tais números são estarrecedores.

Lá onde moro, por exemplo, diversas pessoas já foram assaltadas no meio da rua. Os assaltantes estavam numa moto, o veículo utilizado para abordar as vítimas. Elas tiveram seus celulares, bolsas e dinheiros roubados. Os assaltantes agora se armam de armas e de motos para fugirem mais rápido, sem deixar rastros de seus rostos cobertos por capacetes. E todo mundo sabe disso. A polícia, os moradores, os comerciantes, as crianças, os cegos, os surdos e mudos. Até o governador e o prefeito sabem que os ladrões estão utilizando motos em seus assaltos. E qual é a forma de combater isso? Será que a Secretaria de Segurança é incapaz de planejar uma ação na cidade contra essas investidas criminosas? Será que a Polícia Militar não tem motos que possam ficar em locais estratégicos para inibir a fuga desses bandidos? Será que o governo não possui gasolina para retirar os carros e as motos de suas garagens?

Sou do tempo em que nossos governantes exibiam automóveis e motos no estacionamento do Vivaldão para aparelhar a Polícia Civil e Militar. Todos comprados com licitação, a preço de mercado! Era a forma que eles tinham para mostrar à população que o crime estava com os dias contados. E os dias passavam, os meses passavam, os anos passavam, e a única coisa que diminuía era o poder de compra dos salários dos policiais. Isso já acabou? Os policiais, civis e militares ganham o suficiente para arriscarem suas vidas no combate ao crime organizado? Ou estamos entregando os pontos, perdendo essa guerra?

Recentemente, a Construtora Delta, aquela do bicheiro Cachoeira, envolvida até o pescoço em negócios escusos, ganhou uma licitação do Governo do Estado, no valor de R$ 144 milhões, para realizar o programa Ronda nos Bairros. O programa piloto está sendo desenvolvido na zona Norte, onde, segundo dizem, os homicídios foram reduzidos em 26%. Ou seja, se na zona Norte morreram 100 pessoas ano passado, até junho deste ano só morreram 74! Temos que comemorar o feito!

E o combate ao narcotráfico está contemplado no Ronda nos Bairros? O comércio ilegal de drogas foi reduzido? Parece que não, mas por que os automóveis do Ronda nos Bairros ainda não possuem nariz. Só filmadoras, máquinas fotográficas, copiadoras, computadores de bordo, ar condicionados etc. A milionária tecnologia do programa Ronda nos Bairros é incapaz de combater alguns delitos. Apenas inibe a ação dos bandidos.

“As grades do condomínio são pra trazer proteção, mas as vezes trazem a dúvida se é você que está nesta prisão...”

Rappa

Hoje, o manauense sai para o trabalho cedo e não sabe se vai voltar. O estudante vai para escola e não sabe se na porta do colégio é mais fácil encontrar um traficante ou um policial militar. Andamos pelas ruas da cidade sempre meneando a cabeça, com medo, suando frio, sobressaltados. À noite, quando caminhamos pelas ruas, temos medo de nossas sombras, criadas pelas raras luzes emitidas pelas lâmpadas das vias públicas. Em nossas residências, vivemos cercados de grades de ferro, de cercas elétricas e portões elétricos, tudo em nome da segurança. Parece que nós somos os bandidos e, estes, os juízes, que nos condenaram à prisão domiciliar. E quem nos acode? E quem ouve nossas vozes? E quem atende nossas súplicas? E quem enxuga nossas lágrimas?

Acabaremos torcendo para que nosso empregador aceite nos manter em casa trabalhando. Assim, enclausurados, estaremos mais seguros, distantes dos assaltos e dos tiroteios das ruas. Aqui, nesta cidade, vale a máxima: lugar de bandido não é na cadeia!

* E-mail: fred_passos@yahoo.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Conheça Débora dos Santos, exemplo de mãe da direita.

GUERRA COMERCIAL ENTRE ESTADOS UNIDOS E CHINA.

A maioria do povo brasileiro é contra a anistia à tentativa de golpe.