Metade do mundo faz dieta, outra, passa fome


Por Dom Luiz Soares Vieira - Arcebispo de Manaus
 
Está na moda fazer dieta, o que mostra a preocupação de muita gente ou com a saúde ou com a vaidade ou com ambas. Quase diariamente aparecem modos de reduzir ou conservar o peso. É viver com verduras ou sucos. É seguir as fases da lua ao alimentar-se. É evitar açúcar e massas. Impressiona até onde chegam as modelos para manterem a magreza e o emprego. Dizia um humorista que em nossos dias metade da população passa fome porque não tem alimentos e a outra parte passa fome porque não come para permanecer magra.

É um exagero, mas, como todo exagero, existe aí parte de verdade. Sem dúvida a difusão do cuidado com a comida é uma bela conquista de educação e merece louvores. Dizem que os peixes e nós, humanos, morremos pela boca. Um povo obeso é um povo doente. O texto-base da atual Campanha da Fraternidade, que temos como tema “Fraternidade e Saúde Pública”, alerta sobre o problema da obesidade no Brasil e no mundo. A Organização Mundial de Saúde projetou que para 2015 no mundo haverá 700 milhões de obesos e no Brasil 15% do povo chegou lá. Hipertensão arterial, diabetes, acidentes vasculares cerebrais e outras enfermidades esperam esse pessoal. Hábitos saudáveis geram vida com bem -estar e isenta de problemas.

Na Quaresma a Igreja também propõe o jejum como meio de purificação espiritual e de controle dos próprios instintos, seguindo, aliás, ensinamentos que nos chegam dos ensinamentos bíblicos e da sabedoria mundial. O jejum é outro nome dado à dieta. São Paulo escreveu um trecho em que apresenta os sacrifícios realizados pelos atletas a fim de estarem fisicamente bem para vencerem competições, e os compara aos esforços que nos compete fazer para atingir vitórias maiores. “Não sabeis que, no estádio, todos correm, mas que só um ganha o prêmio? Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio. Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem para conseguirem uma coroa corruptível.Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível.”(1 Cor 9,24-25).

O jejum deve ser visto a partir da virtude da moderação. Saber controlar os próprios impulsos é princípio da sabedoria do bem viver. Gandhi, que não era cristão mas foi um homem de Deus, só tomava decisões importantes após diminuir o tamanho e o número de suas refeições. Jesus, nosso Mestre e Salvador, só iniciou seus três anos de pregação após 40 dias de jejum vividos em lugares ermos. A gula recebe o nome de pecado capital porque é fonte de inúmeros vícios e desgraças. Quem não controla o apetite, dificilmente será capaz de resistir a tentações vindas de outras necessidades reais ou criadas. O livro dos Provérbios fala assim do comilão: “Põe uma faca em tua garganta, se és guloso”. (Pr 23,2).

Esta Quaresma apresenta-se como bela oportunidade para reeducar nossos hábitos alimentares, a fim de termos melhor saúde física e, sobretudo, espiritual. Vamos aproveitá-la porque “é melhor um pobre são e cheio de forças do que um rico fraco e atormentado em seu próprio corpo. A saúde do corpo é melhor do que ouro e prata”. (Eclo 30,14-15).

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