O senador e o poeta, uma história de luta

Por: João Pedro Se­nador (PT-AM)

A sala da Comissão de Di­re­itos Hu­manos do Se­nado foi tomada, na manhã da úl­tima quinta-feira (16.6), por uma at­mos­fera difer­ente da que at­ual­mente cerca os se­nadores. Não era dia de en­cam­in­hamentos, palavras de ordem ou votações, mas sim de hom­e­nagem a um dos maiores po­etas brasileiros vivos – o ama­zo­nense Thiago de Mello. Em sua ex­tensa lista de mais de trinta obras pub­li­cadas, pelo menos dez são ded­i­cadas à Amazônia, muitas das quais traduzidas para mais de trinta id­iomas. “Tudo isso não con­stitui um mo­tivo de orgulho, e sim o de dever e ex­igência do meu próprio ser, porque eu nasci com o dom de re­fletir sobre nossa ex­istência”, de­fine o poeta. 

Amadeu Thiago de Mello, lit­er­ari­a­mente con­hecido como Thiago de Mello, é meu amigo desde o final dos anos 70, quando o poeta re­tornou ao Brasil de­pois de longo exílio provo­cado pela di­tadura mil­itar. O que nos aprox­imou foram as con­vicções políticas mú­tuas e a poesia, que muitas vezes serviram de in­spi­ração para o meu en­ga­ja­mento nas lutas so­ciais travadas no es­tado do Ama­zonas. Uma dessas lutas foi a busca pela de­moc­ra­ti­zação do país.No exílio, Thiago de Mello com­bateu a di­tadura com po­emas inesquecíveis, ainda que ex­trema­mente tristes por de­screver a si­tu­ação es­tar­rece­dora que vivia a so­ciedade brasileira naquele mo­mento, com tor­turas, cen­suras e perseguições. É desse período um dos mais céle­bres livros escritos pelo poeta – o “Faz Es­curo, mas Eu Canto”, com uma re­união de po­emas que procu­rava rea­cender a es­per­ança dos com­pan­heiros que lu­tavam no Brasil por liber­dade e pela es­per­ança de dias mel­hores para o povo brasileiro.“Os Es­tatutos do Homem”, escrito ainda no início do regime di­ta­to­rial, causou não só enorme incô­modo no meio mil­itar, como ex­erceu forte in­fluência na minha vida política. Uma das prin­ci­pais pas­sagens do poema, o ar­tigo XII, cita “que nada será obri­gado, nem proibido, tudo será per­mi­tido...”. Ainda hoje essa pas­sagem nos traz a lem­brança de 1968, quando o gov­erno se em­brutecia ainda mais, mas os es­tu­dantes se re­belavam e gri­tavam nas ruas “É proibido proibir”.Thiago se refu­giou na ci­dade de Bar­reir­inha, onde vive até hoje. Local que tive prazer de con­hecer. De lá, o poeta con­tinuou a missão de escrever em de­fesa da hu­manidade, prin­ci­pal­mente das pop­u­lações que habitam a Flo­resta Amazônica.“De mãos dadas com João Pedro, quero pedir aos com­pan­heiros se­nadores que não aban­donem os di­re­itos hu­manos, pois essa causa sig­nifica o di­reito à vida”, aclamou o poeta de 85 anos. A audiência pública foi para res­saltar o Dia Na­cional da Poesia, comem­o­rado em 14 de março. Muitos escritores brasileiros, jor­nal­istas e os amantes da lit­er­atura foram rev­er­en­ciar o mestre Thiago de Mello.

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