O tema não parece ser prioritário na Câmara e no  Senado. Frente Parlamentar de Combate à Corrupção quer selecionar  prioridades e convencer líderes a colocar as propostas em votação.
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| Para Praciano, Congresso não vota projetos anticorrupção por causa do envolvimento de parlamentares com escândalos. | 
Há  no Congresso Nacional 116 propostas diferentes destinadas a apertar o  combate à corrupção no Brasil. Destas, 17 já foram arquivadas. E outras  99 tentam avançar sem muito êxito nas pautas da Câmara e do Senado.  Destas, metade pretende aumentar as punições para quem paga e recebe  propinas, desvia dinheiro público e comete improbidade administrativa. O  grosso das propostas inclui reduzir ou acabar com a prescrição (prazos  em que o réu é absolvido mesmo que tenha praticado o delito), tornar  certos crimes inafiançáveis e tornar mais transparentes os gastos do  governo e as contas das campanhas eleitorais. 
Os dados são de levantamento da Frente Parlamentar de Combate à  Corrupção, formada por 202 deputados e senadores. O coordenador geral do  grupo, o deputado Francisco Praciano  (PT-AM), marcou reunião na semana que vem com os líderes da frente para  fazer uma seleção de prioridades dentre as 116 matérias. E, depois,  fazer um “lobby positivo” sobre os presidentes da Câmara, Marco Maia  (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), os líderes partidários e os  presidentes de comissões, para acelerar a votação das matérias mais  importantes. A ideia de Praciano é ambiciosa: ele quer tirar esses  projetos das gavetas em que se encontram e votar uma proposição por mês.
Praciano reclama que muitas propostas não andam e diz que algumas  estão há três ou quatro anos sem definição de relator. O motivo, diz o  deputado, são os interesses particulares dos parlamentares. Praciano põe  sem medo o dedo na ferida. “É a própria natureza da Câmara. Temos  muitos deputados envolvidos com corrupção”, dispara Praciano. Levantamento do Congresso em Foco mostra que 168 (28%) dos 594 senadores e deputados são alvo de 396 inquéritos e ações penais apenas no Supremo Tribunal Federal.
PROPOSTAS ANTICORRUPÇÃO Proposições em tramitação e arquivadas no Senado e na Câmara  
 Fonte: Chefia de gabinete do deputado Francisco Praciano (PT-AM) Veja a lista com as todas as 116 propostas | 
O  deputado Praciano quer discutir com seus colegas da frente a prioridade  nas propostas a encampar. Mas, pessoalmente, já elegeu quatro  essenciais. Duas delas propõem tirar das mãos dos governadores e de  membros do Legislativo a indicação de membros dos tribunais de contas e  dos procuradores gerais dos Ministérios Públicos estaduais. O deputado  afirma que a maioria dos 189 conselheiros e ministros de contas é  formada por ex-vereadores, ex-secretários e demais ex-autoridades. “O  fiscalizado não pode indicar o seu fiscal. Raposa não pode administrar  galinheiro”, diz Praciano. 
Outra prioridade defendida pelo coordenador da frente é a criação  das varas, câmaras e turmas especializadas em julgar casos de  corrupção, improbidade administrativa e crimes contra a administração  pública. Para o parlamentar, isso aceleraria o andamento dos processos.  “Hoje, temos 60 milhões de processos. Se os crimes de corrupção entrarem  na mesma fila, estamos mortos”, diz Praciano. Ele também é favorável a  priorizar a proposta que torna hediondos os crimes do colarinho branco.  Assim, as penas seriam maiores e a possibilidade de cumprir a sentença  em liberdade seria reduzida.
Mordaça nas CPIs
Conhecido por se dedicar às causas da ética e do combate à corrupção,  o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) discorda da tese de Praciano segundo a  qual as propostas moralizadoras não andam no Congresso por causa do  envolvimento de parlamentares em escândalos. Segundo ele, as matérias se  atrasam porque é natural que tudo ande devagar no Legislativo,  independentemente do tema do projeto. Levantamento do Congresso em Foco  mostrou que existiam 2.400 propostas, dos mais variados assuntos, à  espera de votação apenas nos plenários do Senado e da Câmara em março do  ano passado.
Para Dias, o problema maior no combate à corrupção dentro do Senado e  da Câmara é o fato de as CPIs, os Conselhos de Ética e os requerimentos  de informação e de convocação de autoridades não funcionarem  efetivamente. Ainda que uma comissão de inquérito seja criada e  instalada, o resultado costuma ser pífio, como aconteceu com a CPI das  ONGs, da Petrobrás e dos Cartões Corporativos. A última que rendeu  informações e embasou denúncias à Justiça foi a dos Correios, que  investigou o mensalão.
“O governo aprendeu a inviabilizar as CPIs. Designa pessoas fiéis e  não divide o comando com a oposição. O governo amordaçou as CPIs”,  analisa Dias, que anuncia já ter 27 assinaturas no Senado por uma  investigação no sistema de saúde. Agora, quer o apoio dos deputados para  formar uma CPI mista.

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