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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Há 44 anos a UnB era invadida por tropas do Exército

UnB
Completaram-se 44 anos ontem (29), da invasão por tropas do Exército, da Universidade de Brasília (UnB). Ela foi a instituição de ensino superior que mais sofreu violência durante a ditadura militar, segundo afirma um de seus professores, o historiador José Otávio Nogueira Guimarães - coordenador de investigação da Comissão de Memória e Verdade Anísio Teixeira.

Na invasão, um estudante foi baleado, 60 pessoas foram presas e 500 detidas, junto com parlamentares, na quadra de basquete da universidade. A UnB foi concebida para ser um modelo para a educação brasileira pelo antropólogo, político e professor Darcy Ribeiro, no governo do presidente João Belchior Marques Goulart, o Jango.

Foi vítima do obscurantismo do regime de exceção exatamente pelo seu projeto inovador em termos educacionais, que assustava e não era aceito pelo conservadorismo e reacionarismo dos militares. O estopim para os militares iniciarem a invasão foi o protesto dos alunos contra a morte do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, na tentativa de retomada do restaurante Calabouço, no Rio.

PM, Polícia Civil, DOPS e Exército fizeram a invasão

O regime militar baixou um decreto determinando a prisão de sete universitários, o que serviu de pretexto para os agentes das polícias Militar e Civil, do DOPS e do Exército invadirem a universidade. “A ignorância militar era uma coisa absurda. A UnB incomodava por causa da maneira como foi idealizada”, rememora em entrevista à Agência Brasil Cláudio Antônio de Almeida, então estudante de economia.

Já no dia 9 de abril de 1964, nove dias após o golpe, nove professores foram demitidos, além do reitor Anísio Teixeira e do vice-reitor Almir de Castro. As demissões tinham como base o Ato Institucional (o 1º da ditadura não tinha número) que previa “investigação sumária”, com demissão e dispensa de funcionários públicos que atentassem contra "a segurança nacional, o regime democrático (sic) e a probidade da administração pública".

Outros 223 professores pediram demissão da universidade em setembro de 1965 por causa das intervenções. Cláudio Antônio de Almeida era amigo de Honestino Guimarães, aluno de geologia e presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (FEUB), um dos sete que tinham ordem de prisão decretada na invasão.

Começam os gritos: "prenderam Honestino"

Almeida conta à Agência Brasil que estava numa aula de política e programação econômica quando começaram os gritos: “prenderam Honestino!”. Os alunos saíram correndo da sala. “Fomos avisados de que um grupo de policiais saiu arrastando Honestino de maneira violenta, batendo nele. Colocaram-no numa viatura e saíram dando tiros pela janela, até o próprio motorista (atirava)”, conta.

A invasão da UnB marcou uma mudança nas intervenções na universidade. A partir dali, o governo militar usou outras estratégias para combater o que considerava “subversão” acadêmica: entre elas, a exclusão de professores e estudantes de programa de bolsas, a produção de material contra docentes e depoimentos falsos. “O propósito era criar fatos para desmoralizar as pessoas e fazer uma limpeza na universidade”, analisa José Otávio Guimarães.

A invasão da UnB foi uma das muitas ocorridas no regime discricionário. Em 1964/1965 e depois em 1977 cometeram-se outros atentados contra a autonomia universitária. Mas, esta invasão de 29 de agosto de 1968 foi a mais violenta.

Não adiantou: a resistência venceu e a democracia voltou

É por isto, e felizmente, que hoje sua história está sendo resgatada pela Comissão da Memória e Verdade que leva o nome de seu reitor, Anísio Teixeira, um grande educador demitido pela ditadura e sobre o qual há suspeitas de que também foi assassinado.

Aquela invasão marcou uma mudança e uma radicalização na ditadura que iria desembocar poucos meses depois, no 13 de dezembro de 1968, na edição do AI-5 e na ocupação das grandes universidades do país por forças militares.

Esta nefasta ofensiva e recrudescimento da Linha Dura do regime começou pelo prédio da Maria Antônia, sede da Faculdade de Filosofia e Letras da USP, de seu combativo Grêmio e do seu campus onde o seu conjunto residencial (CRUSP) sempre foi um alvo da ditadura pelo seu papel na luta estudantil.

Ainda bem, e graças à resistência estudantil, apoiada por parte da cidadania e da sociedade, aquele retrocesso e reacionarismo exacerbado expressos pela repressão de nada adiantou. Menos de 10 anos depois, os estudantes da USP e da UnB ocupavam as ruas de Brasília e de São Paulo novamente, e em 79 a UNE estaria reconstruída.

Ficou para a posteridade o triste aniversário - neste 2012, de 44 anos - sobre o qual nada se tem a comemorar, mas há que registrar para lembrar o episódio às novas gerações e que essa história nunca mais se repita.

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