Por Najla Passos
MIlitantes brasileiros e estrangeiros que participam do Fórum Social Mundial Temático preocupam-se com a possibilidade de a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável legitimar 'pirataria' da biodiversidade e capitalismo predatório travestido de 'economia verde'. Rio+20, que acontece em junho, é foco principal do Fórum.
PORTO ALEGRE - A luta pelo controle das tecnologias para transformação da biomassa e a tentativa de esconder as mazelas do capitalismo sob a capa de uma 'economia verde' darão o tom da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, marcada para o Rio de Janeiro, em junho, na opinião de ativistas políticos estrangeiros e brasileiros que participam do Fórum Social Mundial Temático.
“As grandes corporações internacionais já estão preparadas para virem à Rio+20 concretizar o processo de pirataria iniciado na conferência anterior, a Rio 92”, afirma o ativista alemão Pat Roy Mooney, diretor-executivo da ETC Group, incitando os movimentos sociais a fazerem o mesmo.
De acordo com ele, a conferência da ONU realizada no Rio de Janeiro há 20 anos significou o maior roubo de recursos naturais da história da humanidade, fato que tende a se repetir agora, se os movimentos sociais não se prepararam adequadamente.
“Os governos assinaram acordos perdoando os roubos de amostras da biodiversidade do Sul, efetuados pelo Norte, em mais de 500 anos de história. Agora, as grandes corporações querem voltar para tomar posse daquilo que, naquela época, ainda não tinha valor de mercado e foi relegado a segundo plano”, disse.
O ativista explica que, na conferência de 1992, as grandes corporações definiram o modelo predatório de exploração de recursos naturais como o petróleo, por exemplo, centro da economia mundial do período.
Hoje, com o aprimoramento de tecnologias não disponíveis antes, também querem botar as mãos na biomassa que pode ser extraída das florestas e savanas para ser transformada em energia, insumos industriais e alimentos.
“Qualquer tecnologia introduzida em uma sociedade injusta aumenta o abismo entre ricos e pobres: os ricos ficam mais ricos, e os pobres, ainda mais miseráveis”, afirmou Mooney.
O ativista francês Christoph Aguiton, membro da Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos (Attac), alertou para o fato de que a chamada “economia verde”, apresentada como a solução para o atual processo de desenvolvimento destrutivo, nada mais é do que uma adaptação do velho e tradicional capitalismo predatório, com o objetivo de cooptar o apoio de parte dos movimentos sociais que lutam contra o neoliberalismo.
Segundo ele, há 13 anos, a luta anticapitalista coincidia com a luta contra o neoliberalismo. “Por isso, todos os movimentos se uniram, construíram iniciativas como o Fórum Social Mundial e impuseram várias derrotas ao modelo neoliberal. Entretanto, hoje, a conjuntura mudou”, afirma.
Para o ativista, que foi um dos fundadores do Fórum, mesmo organizações que, naquela época, estavam coesas na luta antineoliberal, hoje propõem a economia verde como solução ao desenvolvimento.
“A defesa da biodiversidade, no contexto atual, significará uma radicalização das lutas dos movimentos sociais, mesmo que isso signifique uma redução no número de atores envolvidos”, disse o francês.
A ativista brasileira Beatriz Whitaker, que atua no Comitê Francês Contra a Austeridade dos Governos e em Solidariedade à América Latina, ressaltou a correlação existente entre a apropriação do meio ambiente e a crise econômica capitalista, que abala as economias dos países centrais.
“Esta crise sem precedentes que afetará todo o mundo, inclusive o Brasil, que afirma estar nadando em um mar de felicidades”, afirmou ela, lembrando que, na Europa, nem mesmo as democracias burguesas estão a salvo dos interesses do grande capital. “Eles já destituíram os governos da Itália e da Grécia e impuseram uma política de austeridade fiscal que prejudica demais os trabalhadores”
Para a militante, o poder econômico mundial não poupará esforços para se refazer e encontrar novas formas de exploração capitalista. Whitaker acredita que, ou os movimentos assumem a defesa de uma lógica de ruptura com o sistema capitalista, ou terão que entrar na lógica proposta pela economia verde de um capitalismo menos desumano, mais que prejudicará muitas vidas, em um mundo onde 3 bilhões de pessoas ainda vivem em condições desumanas.
“Não é por acaso que a Rio+20 ocorrerá paralelamente à reunião do G-20 [grupo das vintes economias mais poderosas do planeta) e à reunião comercial entre União Europeia e América Latina. A tecnologia nos permite, hoje, ‘coisificar’ até mesmo o ar que respiramos, mas é incapaz de transformar o mundo em um lugar menos desigual”, afirmou.
Fonte: Carta Capital
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