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sábado, 30 de julho de 2011

E SE … ENTÃO... INOVAÇÃO

Por: Jonas Gomes da Silva*

Recentemente viajei de barco ao Município de Novo Airão, a fim de prestigiar um evento cultural que escolhelheu os grupos folclóricos que irão representar o Amazonas nacionalmente em 2012. Os fatos que ocorreram durante o percurso da viagem me fizeram refletir sobre as inúmeras oportunidades de inovação que poderíamos realizar em nosso Estado, as quais compartiho com os leitores nas próximas linhas.

Ao chegar com a minha filha, esposa e amigos, às 22h, ao pequeno porto de São Raimundo, situado perto da ponte de mesmo nome, me veio alguns questionamentos: (1) E se desde 28 de janeiro de 1808, quando o Imperador D. João VI decretou a abertura dos portos às nações amigas, as políticas públicas de investimentos fossem capazes de eficientemente (bom uso dos recursos sem desperdício e corrupção) modernizar os nossos portos, será que mais turístas e investimentos não estariam vindo para o Estado? (2) E se houvesse sintonia entre as gestões dos portos e das Prefeituras Municipais, através de seus Planos de Desenvolvimentos e Zoneamento Portuário (PDZP) e Diretor Urbano (PDU), será que nossos portos estariam menos congestionados e sem habitações desordenadas, sendo um belo cartão postal aos que aqui chegam via fluvial? (3) E se houvesse fomento a pesquisas para caracterizar os principais problemas e necessidades locais dos portos, a fim de propor a implementação de tecnologias ou inovações necessárias para a adequação dos portos aos novos desafios da região, será que não ajudaria os tomadores de decisão a modernizá-los? (4) E se houvesse uma boa relação entre a academia e os gestores dos portos será que não haveria claros benefícios mútuos? Enquanto a academia pode produzir ciência e formar pessoal altamente capacitado, os portos podem receber os benefícios de gerenciar suas operações de maneira eficiente, ecológica e socialmente responsável;

Depois de encontrar o barco, todos arrumaram suas redes e partimos rumo a Novo Airão. Perto das 1h15 da madrugada, uma forte ventania e chuva alcançaram o barco, cujo motor de energia não funcionou obrigando o capitão a momentaneamente desligar o motor geral para evitar colisão com a terra ou com algum objeto flutuante tendo em vista que a visibilidade era quase zero. Graças a uma lanterna, conseguimos visualizar que não estávamos perto de terra e as 2h45 conseguimos escapar da chuva e continuar a viagem normalmente. Fora as questões de segurança, um pouco precária no barco, o colunista ficou questionando se existia pesquisa local para desenvolver equipamentos ou sensores que permitissem ao capitão de qualquer embarcação, identificar em viagens noturnas os obstáculos que estão pela frente, sua dimensão e localização, a fim de evitar colisões e mortes, tão comuns em nossa região.
 
Ao sairmos da região chuvosa, um céu bem estrelado apareceu, fazia muito tempo que não contemplava as constelações e as estrelas cadentes. E se nos principais barcos acontecesse oficinas de astronomia, com direito a lunetas, binóculos e telescópios? E se houvesse pelo menos um barco com equipamentos de astronomia viajando pelos interiores da Amazônia, não somente para fazer pesquisa, mas também para popularizar a astronomia para os interioranos e também fazê-los viajar pelo universo das estrelas? Será que não estaríamos de forma divertida, despertando a vocação científica de nossos moradores, bem como conhecendo as suas histórias, lendas e conhecimentos tradicionais relativo ao céu, terra e água?

Raiando a aurora do sábado do dia nove de julho/2011, fiquei positivamente surpreendido com o porto de Novo Airão, bem diferente do porto que partimos. Após pesquisar alguns hotéis, escolhemos a Pousada Recanto das Orquídeas, um estabelecimento que chamou a atenção pelas plantas, flores e orquídeas que rodeiam cada quarto do recinto. Tivemos o prazer de conhecer e conversar com o Senhor Luís Carlos de Mattos Areosa, proprietário do imóvel e ex-prefeito do município, o qual nos atendeu com uma educação diferenciada e que infelizmente veio a falecer na noite de domingo, momento em que estávamos torcendo pelo nosso grupo folclórico. Sua morte repentina me fez refletir sobre os encontros que temos durante a vida e o legado que deixamos para as futuras gerações. E se cada gestor agisse pensando no longo prazo e não apenas nos quatro ou oito anos de governo? Será que nossos sistemas governamentais não teriam criado uma ambiência favorável à inovação?

Ao retornar para Manaus, a Ponte Manaus Iranduba chamou a atenção de todos os passageiros. Olhando o modelo de ponte adotado, me questionava: E se o mastro central de 165m de altura, tivesse sido projetado para ser além de sustendo, também ter um acabamento que representasse uma grande estátua do índio AJURICABA? E se cada pilar da ponte representasse um município do Amazonas, todo grafitado por artístas locais, contendo direção, estatisticas e as potencialidades da cidade? E se, a exemplo da Ponte de Yokohama do Japão, a parte inferior da ponte fosse composta de pequenos observatórios, onde os turístas poderiam ter acesso ao topo do Ajuricaba para visualizar toda a região do Rio Negro e a cidade de Manaus? E se você leitor questionasse, fiscalizasse e apontasse melhoria, então a inovação teria mais chance de florescer, pois enquanto isso não acontece, muitos aditivos serão criados para saquear o nosso erário e enriquecer o bolso de poucos em nome do desenvolvimento.
 
*Dr. Em Engenharia de Produção e Professor da UFAM.
E-mail: gomesjonas@hotmail.com

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