Por: Valdnor Santarém*
No último dia primeiro de outubro, sábado, na reunião do Diretório Municipal do PT, uma notícia, estranha e totalmente inusitada, causou o maior frisson entre os diretorianos presentes. Ao Presidente do PT, senhor Valdemir Santana, também Presidente da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos e de outras “coisas inominadas”, coube a missão de transmitir a boa nova. Segundo ele, o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, estaria criando uma nova secretaria para abrigar petistas que são simpatizantes de sua administração e de sua forma de lidar com o dinheiro público. O novo órgão seria a Secretaria Municipal de Habitação. Após a boa nova, antigas vozes contrárias à administração de Amazonino e antigos desafetos de Valdemir Santana transformaram a Babel numa só voz, num só canto, numa só melodia, com poucos protestos. E diversas vozes passaram a enaltecer os feitos de Amazonino como administrador público.
Os defensores da ida do PT para a administração de Amazonino (Adilson Vieira, Nonato Neves, Valtair Cruz e alguns outros petistas de renome) tinham a seguinte justificativa:
- Com o PT na administração municipal será mais fácil fiscalizar o dinheiro federal que vem para a prefeitura. A célebre frase foi concebida no calor da madrugada, durante um sono profundo de Valdemir Santana, que sonhou em fazer parte, como ministro ou auditor, do Tribunal de Contas da União – TCU. Em seguida, diversos de seus seguidores passaram a repetir o mesmo intuito pedagógico e de extrema altivez do chefe: a de fiscalizar o dinheiro federal que abarrota os cofres da Prefeitura de Manaus. Eles não sabiam, mas tal gesto célebre (o de fiscalizar dinheiro federal) é de competência do TCU, do Ministério Público Federal - MPF, da Controladoria Geral da União – CGU - e, até, da Polícia Federal. Mas os adeptos da fiscalização do erário público não falaram dos reais motivos que os levaram a defender tamanha encruzilhada a favor da moralidade pública. Dizem, não tenho provas, que, na realidade, os atuais aliados e antigos desafetos de Valdemir Santana estavam de olhos abertos nos cargos e nos gordos salários da futura secretaria, capaz de mudar qualquer comportamento ideológico em fisiológico. Um gordo salário também é capaz de transformar desafeto em amigo de longa data. Um gordo salário também é capaz de elevar quem não entende de nada a, subitamente, entender de tudo, inclusive de construção de casa, casebre, palafita, cortiço etc. Só temo que esta secretaria não faça uma casa durante seu tempo de vida e que gaste o suficiente para construir diversos condomínios populares com os cargos que serão criados para os petistas.
A pergunta que alguns se fazem é: como Valdemir Santana, que não entende nada de controle, de fiscalização e de auditoria, convenceu alguns antigos desafetos a fazer parte do governo Amazonino Mendes apenas para fiscalizar o dinheiro do governo federal e, depois, quem sabe, apoiá-lo para prefeito?
Tentarei explicar. Valdemir Santana é uma figura insólita. Seus ancestrais eram padres na época medieval, que viviam pelas tavernas, comendo muito e se embebedando de vinho. Daí vem sua gula pelo poder. No entanto, seu poder não se sustenta pela sua liderança, ou seja, pela sua autoridade. Não há uma “viva alma” que esteja em sua companhia por gostar dele. Todos que o rodeiam toleram e suportam seu autoritarismo. Não é à toa que muitos somem de sua vida e depois retornam, humilhados e ofendidos, aos braços do libertador de suas mazelas. Por isso, seu poder reside no que tem a oferecer em troca de apoio, respeito e admiração. Assim, o poder de Valdemir Santana advém de sua capacidade de conseguir formas de sustentar sua corte. É um poder autoritário, em que a moeda de troca é sempre baseada no fisiologismo. Com ele sempre vale a máxima: é dando que se recebe. Para dominar o PT em Manaus, por exemplo, Valdemir Santana filiou centenas de milhares de pessoas. Para acomodar aliados, por exemplo, emplacou uma secretaria no Estado e, de quebra, também levou o ITEAM. Sabendo que necessitava rechaçar qualquer possibilidade, ainda que remota, de o PT lançar candidatura própria, articulou uma aliança com antigos desafetos e, por meio da futura Secretaria de Habitação, acomodará algumas lideranças que possuem votos no Diretório Municipal para sepultar a candidatura própria do partido e levá-lo para os braços e o colo de Amazonino. Esse é Valdemir Santana. E é assim que articula suas pretensões políticas: compra desafetos por meio de cargos. Ele já puniu e absolveu antigos desafetos. Também já transformou ferrenhos inimigos em simpatizantes de suas causas. E quais são as causas de Valdemir Santana?
Confesso que não sei. Por vezes, acredito que é o poder pelo poder. Eu temo este senhor que parece um padre medieval. Espero não ficar em sua lista negra, afinal ainda sei cozinhar para padres!
E agora, PT, “que será de tu”?
Se prevalecer a ida de alguns petistas para a administração de Amazonino Mendes, com certeza, o próximo passo será o de aprovar a coligação entre PT e PDT (atual partido do Prefeito), com o PT indicando o vice. E quem será o vice? Não sei, talvez o próprio Valdemir Santana; ou Valtair Cruz (duvido um pouco, pois seu grande sonho de consumo é ser um dia secretário de alguma coisa); ou Jorge Guimarães (um antigo e ardoroso desafeto de Valdemir Santana); ou Vital Melo (atual Secretário Municipal do Trabalho; ou Adilson Vieira (o homem das relações ambientais do grupo); ou, quem sabe, para agradar a ala mais antiga do partido, o Nonato Neves!
E aqueles que são contra tamanha sandice, o que devem fazer?
Protestar. Acredito que a militância do PT que não aparece nos encontros, que está afastada, deve se manifestar. A coligação com Amazonino será muito cruel para o partido, pois contraria toda sua história de luta contra a corrupção e a malversação do dinheiro público.
Está na hora de levantarmos nossas bandeiras e dizermos não aos que desejam destruir o partido e suas bandeiras de luta a favor da democracia, da ética, da moralidade pública e da participação popular.
Está na hora de retirarmos a venda de nossos olhos e as fitas de nossas bocas. Militante petista não pode aceitar que por conta de cargos e gordos salários alguns poucos filiados joguem na lama a história de lutas do PT nesta cidade e neste Estado. Não foi pra isso que muitos militantes tombaram. Não foi para consolidar esse projeto fisiológico que muitos lutaram. Não, não foi pra isto que o PT nasceu!
É hora, caros filiados e militantes do PT, de mostrarmos ao senhor Valdemir Santana que ele não é o dono partido. Como já disse, sua liderança se respalda no que ele tem pra oferecer. Sem nada, ninguém vai querer mais saber dele. Pense bem: o grupo liderado por ele é assim: se cortar a “cabeça”, cai o corpo!
Acordem, petistas!
* Filiado ao PT desde 1988
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