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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Pesquisa revela que extrativismo da borracha mantinha escravos no Amazonas

O estudo foi realizado pelo mestre em história social, Provino Possa Neto, e revela um contexto escravocrata no Amazonas na segunda metade do século.

A escravidão no Amazonas, de fato ocorreu. O estudo ‘Ave Libertas: ações emancipacionistas no Amazonas Imperial’, realizado pelo pesquisador Provino Possa Neto, traz essa temática à tona e coloca em discussão a escravidão no Amazonas.

Mestre em História Social por meio do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Neto afirma que, por muito tempo, essa questão foi colocada em segundo plano, não sendo analisada de forma específica. O estudo teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

“O estudo mostra a existência de histórias de liberdade, capazes de mover ações populares e políticas na região, prova que o tema merece atenção justamente por ser relevante e necessária à compreensão da história de nosso Estado”, ressaltou Neto.

Segundo o pesquisador, o estudo, que objetivou elucidar o impacto das ações emancipacionistas no contexto escravocrata do Amazonas Imperial na segunda metade do século 19, consistiu em sua investigação analisar dados na imprensa e nos relatórios da Província que constam de 152 cartas de alforria (1850 – 1887).

Escravidão 
Neto explica que os escravos desempenhavam atividades urbanas, mineradoras e agrícolas, sendo que a última deteve percentual considerável da mão de obra escrava africana. Alguns pesquisadores argumentaram que a atividade extrativista, era preponderante e que se apresentou como um fator que pouco impulsionou o comércio de escravos, sendo a mão de obra indígena mais requisitada para esta atividade.

Segundo o pesquisador foram encontrados dados que comprovam a utilização da mão de obra escrava em atividades extrativistas como a extração da borracha, por exemplo, sendo que o extrativismo e a agricultura não foram atividades excludentes.

Abolição
Outro dado levantado pelo pesquisador aponta que, embora esta seja uma questão complexa, as fontes analisadas indicam uma baixa expressividade numérica de escravos ligados à questão econômica em que se encontrava o Amazonas, sem a qual não seria possível a província decretar uma lei que determinasse um alto valor de indenização senhorial para a antecipada abolição da escravatura na província.

“Movimentos emancipadores e propagandas libertárias, repletos de interesses políticos para construir uma província livre, que atraísse imigrantes e investidores, e o efetivo aproveitamento por parte dos escravos e civis dos ventos propícios à liberdade são fatores que também tiveram peso na forma em que se caracterizaram essas ações”, frisou Neto.

Parâmetro
O pesquisador explica que o estudo é resultado de fontes inéditas o que possibilitou o suporte da pesquisa ampliando o estudo mais apurado, sob um novo parâmetro interpretativo. “Os aspectos das ações políticas e sociais analisadas neste trabalho permitiu-nos questionar a homogeneidade dos nobres sentimentos de liberdade com que sempre se atribuiu a elite local”, comentou.

Desta forma, o pesquisador analisou como se deu o antecipado abolicionismo no Amazonas, onde a pauta de discussão política prioritária era a indenização senhorial - respeitando assim o direito de propriedade – e, consequentemente, a segurança de medidas que não colocassem em risco a ordem social.

A pesquisa aponta para os meandros do abolicionismo, mostrando que a luta pela liberdade foi, de fato, uma luta, ou seja, repleta de suor, de criatividade e laços formados em direção à liberdade.

“E esses caminhos e experiências são a herança direta de nossa cultura presente. Sendo assim, o levantamento de novos caminhos interpretativos representa uma contribuição para o entendimento da cultura presente, tanto no meio social quanto acadêmico”, disse.
Fonte: Agência Fapeam

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