Primavera de Manaus 4: o radialista que amava Roberto Carlos - Por Luis Nassif
Antes de contarmos a história do nosso personagem principal, Ronaldo Tiradentes, um rápido apanhado sobre como atua no mundo virtual.
Quando escrevi os primeiros posts sobre o caso Bianca Abinader recebi comentários virulentos de um perfil fake no Twitter, de codinome @caionunes. Depois, ele invadiu meu blog com ataques de baixo nível.
O IP é do mesmo mesmo provedor e da mesma central, em Manaus, dos ataques desfechados contra Bianca e contra o blogueiro Ismael pelo mesmo @caionunes. Na época, identificou-se Ronaldo Tiradentes como a pessoa por trás do fake, devido às informações veiculadas pelo Twitter de @caionunes, que antecipou todos os movimentos da Secretaria de Administração em um dos inquéritos movidos contra a médica.
A conta é da Vivax, provedor da Net. O equipamento encontra-se a 7 km da sede da CBN Manaus. Na Net, informam-me que a rua da CBN Manaus está na área atendida pela central identificada no IP.
Transponham essa virulência para o mundo real de Manaus. Na ponta ofensiva, uma rádio de alcance amplo, não meros comentários de baixo calão; na ponta atacada, pessoas físicas cercadas pelo poder político de Amazonino, pelas políticas de intimidação da CBN. No meio, a virulência sem limites de um personagem como Ronaldo Tiradentes.
Ele apareceu em Manaus vindo de Minas. Começou a carreira como vendedor de uma loja de CD. Depois, tornou-se apresentador do “Clube do Rei”, na TV local, enaltecendo Roberto Carlos. Começou aí sua popularidade. A partir dessa vitrine, elegeu-se deputado estadual nos anos 90. Não foi reeleito. Mas foi secretário de Comunicação na primeira gestão de Amazonino Mendes, quando começou a montar sua fortuna.
Aproximou-se do mundo político do estado, oferecendo a matéria prima mais valorizada por aquelas plagas: uma virulência sem limites.
Arthur Virgílio chegou a pagar para que fosse à França fotografar um suposto castelo de Amazonino Mendes. Eleito, Amazonino cooptou-o com gordas verbas publicitárias para suas rádios.
Em 1997 conseguiu a concessão da rádio Tiradentes, que colocou em nome de parentes. Quando, em 2003, o Ministério das Comunicações abriu concorrência para novas frequências no Amazonas, conseguiu a concessão da rádio que se filiou à rede CBN. Em 2004 conseguiu a Rádio Tiradentes FM (89,7), em 2005, a TV Tiradentes, de Porto Velho e a Tiradentes FM, em Parintins.
Valendo-se da falta de controle das autoridades do setor, passou a utilizar uma frequencia que pega a cidade toda, pagando multas irrisórias pelos abusos. No dia 21 de setembro passado, sofreu uma multa de R$ 2.400,00 por utilizar a frequência da CBN Iranduba fora da sede da cidade.
No dia 11 de agosto passado foi alvo de uma homenagem. Graças à força que lhe foi outorgada pela rede CBN, estavam presentes o governador, prefeito e vereadores.
Segundo o relato do site da CBN, “Ronaldo foi às lágrimas ao lembrar o começo de vida em Belo Horizonte, como cobrador e camelô”. E mostrou sua estreita ligação com as Organizações Globo: “O apresentador do CBN Manaus lembrou de sua passagem pela TV Amazonas, onde foi o primeiro repórter a emplacar matéria local no Jornal Nacional. E a emissora o homenageou, com espaço destacado no Jornal do Amazonas deste começo de noite”.
Depois do sucesso do “Clube do Rei”, Ronaldo estreitou as relações com as Organizações Globo. Tornou-se repórter da TV Amazonas, afiliada da Globo e, depois, apresentador do Jornal da Amazônia, que antecedia o Jornal Nacional. Foi o que lhe abriu as portas para ser o homem da CBN em Manaus.
Parte de sua história é narrada no livro “O ronco da pororoca: histórias de um repórter da Amazônia“, de Marcos Losekann. Nos anos 90 enviou capangas a Niterói para espancar um cronista de Manaus que o criticou.
Sob seu comando, a CBN tornou-se defensora das piores causas de Manaus.
Abriu microfones para o vereador Sabino Castelo Branco, acusado de agredir a própria esposa. Depois, para o irmão do governador Omar Aziz, que invadiu a UFAM (Universidade Federal de Manaus) para espancar um professor, que comentara em sala de aula as acusações contra o governador na CPI da Exploração Sexual, anos antes.
Abriu espaço para Omar se defender das acusações de pedofilia. Depois, para Carlos Souza, quando foi acusado de comandar o crime organizado em Manaus; para Antonio Cordeiro, flagrado pela Operação Albatroz por desviar R$ 500 milhões do governo do Estado.
Defendeu Adail Pinheiro, o ex-prefeito de Coari, acusado pela Polícia Federal de desvios de mais de R$ 30 milhões e de envolvimento na escabrosa rede de pedofilia que envolvia políticos do estado. Em seus programas, Ronaldo Tiradentes fazia apelos para que a Justiça desbloqueasse os recursos da prefeitura de Coari. A cidade vive de royalties de petróleo.
Em 2009, um dos escândalos da esquema Adail, através de seu sucessor Rodrigo Alves da Costa (posteriormente cassado por corrupção) consistiu na contratação, por R$ 4,3 milhões, de trios elétricos pelo período de cinco meses. Os trios pertenciam à AMZ Produções, de Robson Tiradentes, irmão de Ronaldo. Cassado o homem de Adail, Ronaldo fez sua defesa (http://www.cbnmanaus.com.br/ronaldotiradentes/?p=5062) imediatamente iniciou campanha contra seu sucessor (http://pt-br.paperblog.com/possibilidade-da-camara-municipal-cassar-mandato-do-prefeito-de-coari-e-ventilada-nos-meios-de-comunicacao-176475/).
O prefeito cassado foi acusado pela Operação Vorax da Polícia Federal de envolvimento em organização criminosa (http://www.carnelegal.mpf.gov.br/noticias/noticias_new/noticias/noticias-do-site/copy_of_criminal/mpf-am-denuncia-envolvidos-na-operacao-vorax). Na CBN se veiculava a falsa informação de que sua culpa teria sido participar de uma festa política com distribuição de prêmios.
Abuso da sobrinha
A parte mais obscura da carreira de Tiradentes veio à tona em 2009, quando seu ex-sócio, o advogado Afonso Luciano Gomes foi a Brasilia entregar ao presidente da CPI documentos que supostamente comprovariam que Tiradentes abusou de uma sobrinha de 13 anos. A menina teria engravidado de um menino, então com 14 anos – a mãe já com 27.
A agência Senado noticiou assim:
“O advogado Afonso Luciano Gomes Amâncio entregou nesta terça-feira (1º), ao presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, senador Magno Malta (PR-ES), denúncia de abuso sexual praticado por Ronaldo Lázaro Tiradentes, em Manaus (AM), contra sua sobrinha Keyla Roberta Gregório da Silva. O advogado entregou cópia de depoimento da vítima à Polícia Federal no amazonas e pediu à CPI apuração do caso em que sua cliente foi vítima. Segundo o depoimento de Keyla, Ronaldo Tiradentes a criou depois que ela ficou órfã de pai, aos 4 anos de idade. Keyla, hoje com 27 anos, afirma que, no período em que vivia na casa do tio, foi abusada sexualmente por ele, o que a fez decidir sair de casa aos 13 anos. Em seu depoimento ela também relata que, mesmo depois de sair de casa, Ronaldo Tiradentes continuou a assediá-la até que teve uma filha, que está com 11 anos, não reconhecida por ele. Magno Malta afirmou que vai levar a denúncia à CPI da Pedofilia e, se necessário, serão convocados o acusado e sua esposa, Maria José, bem como a vítima”.
A sobrinha chegou a conceder entrevista confirmando a versão. Ronaldo atribuiu as denúncias ao seu adversário político, ex-Ministro Alfredo Nascimento (http://portalamazonia.globo.com/new-structure/view/scripts/noticias/noticia.php?id=91735). Tempos depois, a sobrinha voltou atrás e Tiradentes apresentou um exame de DNA que supostamente o inocentaria da acusação de gravidez.
Mensalmente, a prefeitura de Manaus joga mais de R$ 1 milhão de publicidade nas duas emissoras de Ronaldo, a CBN Manaus e a rádio Tiradentes.
Aguarde o próximo episódio
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