Adaptado do texto de Luis Nassif, publicado em: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-primavera-de-manaus
A afirmação é do jornalista Luis Nassif e diz respeito, por um lado aos coronéis do Amazonas e, de outro, a busca por parcerias para sustentar maracutaias.
O texto denuncia fatos que, em conjunto, representam uma das histórias mais pesadas de corrupção e gansterismo da história contemporânea brasileira, envolvendo, na ponta mais frágil, uma médica e um grupo de blogueiros e, na extremidade mais cruel e poderosa, a CBN de Manaus do Tirandes (?) e o prefeito Amazonino Mendes.
Vocês conhecerão em detalhes um episódio ilustrativo do Brasil contemporâneo, juntando de um lado jovens tuiteiros, de outro o pacto entre o coronelismo mais atrasado e as grandes redes de comunicação, em um dos mais podres sistemas políticos brasileiros: o do Amazonas. Conferirão que não existem idiossincrasias nas relações políticas e midiáticas: Amazonino é do PDT de Leonel Brizolla; Tiradentes da CBN da família Marinho.
Fosse em São Paulo ou Rio, a médica Bianca Abinader seria a musa da CBN em uma Marcha Contra a Corrupção. Jovem, bonita, bem casada, médica de família da prefeitura de Manaus, funcionária exemplar, filha de um comerciante rigoroso nos negócios, sem nenhuma relação com o meio político, Bianca descobriu a militância através do Twitter.
Em fins de 2009, antes que cidadãos de Ipanema desfraldassem a bandeira – e as vassouras – e sorrissem para as câmeras de TVs nas Marchas Contra a Corrupção do centro-sul, Bianca ousou. Com mais 150 tuiteiros de Manaus, organizou o Movimento Manaus de Olho, destinado a pressionar a Câmara Municipal a não aprovar a taxa do lixo – que aumentaria enormemente o IPTU local.
Não se tratava daquelas cenas festivas, sem risco, fotografadas e filmadas, conferindo os cinco minutos de fama, mas do enfrentamento de um dos mais corruptos sistemas políticos do país, com personagens – como o prefeito Amazonino Mendes – que nada ficam a dever aos piores coronéis políticos do nordeste.
Era a Primavera de Manaus, o lado moderno, virtual, confrontando o atraso e instaurando a cidadania virtual. O movimento tinha três líderes, Bianca, a fisioterapeuta Carolina Coelho e o blogueiro Ismael Benigno.
Poderia ser um capítulo inédito na modernização política do Amazonas, de cidadãos munidos de armas virtuais enfrentando um poder político anacrônico.
Mas, na ponta contrária, apoiando o esquema Amazonino Mendes, estava a poderosa rede CBN, através de sua afiliada, CBN Manaus e do diretor Ronaldo Tiradentes, um dos personagens centrais dessa novela amazônica.
Tiradentes abriu inúmeros processos contra Ismael. Depois, foi até a empresa onde Carolina trabalhava, para pedir sua cabeça. Multinacional sólida, o pedido foi negado com estranheza.
Voltou-se então para a médica Bianca Abinader. Começava ali uma luta desequilibrada, entre uma pessoa física, armada apenas de Twitter, teimosia e do apoio da família e dos amigos – e dos tuiteiros – e, do outro lado, o mais tenebroso esquema político do Brasil moderno, algo que começa com Gilberto Mestrinho, estende-se por Amazonino Mendes, Alfredo Nascimento, Eduardo Braga, Omar Aziz e uma relação de políticos e de métodos obscuros sem paralelo, sustentado por relações com o poder e pela associação com a mais poderosa rede de emissoras de rádio do país.
Antes de enveredar pelo enredo principal, um pouco de Amazonino Mendes e do esquema político do estado do Amazonas.
No federalismo torto brasileiro, do presidencialismo de coalizão ao modelo da radiodifusão, há uma lógica cruel em relação aos rincões.
O chamado eixo moderno – São Paulo, Rio e Sudeste – olha com desprezo o anacronismo político de estados comandados por coronéis. Mas a lógica federativa – e da radiodifusão – induz a alianças com o que tem de mais atrasado na política nacional. O governo, pelos três senadores de cada estado; as redes, pelas verbas publicitárias dos governos estaduais.
Foi esse modelo torto que garantiu o coronelismo do Amazonas dominado, inicialmente, por Gilberto Mestrinho, o Boto de Tucuxi; depois, por Amazonino Mendes, o “Negão”.
No centro-sul, pouco se sabe sobre as estripulias, esquemas empresariais e esbirros autoritários de personagens como Amazonino. É uma relação colonial: o governo extrai o poder político, as redes as verbas publicitárias. E deixam-se populações inteiras sob o jugo do atraso e do autoritarismo.
De vez em quando, um ou outro episódio ganha repercussão nacional. Foi assim na história da compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso – na qual Amazonino desempenhou papel central. E também no episódio das 2 mil motosseras distribuídas por todo o Amazonas, depois vendidas a preço de banana para madeireiros.
A mansão alugada. Em 2001, a mansão de Amazonino foi tema nacional, 2.500 metros no Tarumã, com paredes de vidro, heliporto, piscinas, lagos artificiais, avaliada em mais de R$ 10 milhões. E também pelo fato de ele não se dizer dono dela, mas inquilino do empreiteiro Otávio Raman Neves, dono das duas maiores empreiteiras do Estado, a Capa e a Exata, que, suspeita-se, têm Amazonino como sócio oculto. Na época, Amazonino informou o valor do aluguel pago: R$ 2.000,00 mensais. O episódio serviu para revelar um pouco o que é a corte de Amazonino, atualmente no PDT.
Exploração Sexual e Corrupção. A CPI da Exploração Sexual indiciou o prefeito de Coari, Adail Pinheiro, também indiciado pela Polícia Federal na Operação Vorax, acusado de desvios de mais de R$ 70 milhões. Seu sucessor também foi cassado, defendido pela CBN Manaus, por manter negócios com o irmão do diretor Ronaldo Tiradentes.
Nas relações espúrias da política amazonense Artur Virgilio Neto se permitiu fazer comício de mãos dadas com Adail. Outra CPI, da Exploração Sexual, conduzida pela Assembleia Legislativa, envolveu próprio governador Omar Aziz, que começou a carreira como Secretário de Segurança no governo Amazonino. Uma moça admitiu ter tido relações com ele aos 14 anos, mediante o cachê de R$ 150,00. Deu entrevistas para a revista Época que serviram de base para um inquérito da Polícia Federal (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI103663-15223,00-ESCANDALO+EM+MANAUS.html).
Posteriormente a moça voltou atrás em suas declarações e um promotor ordenou o encerramento do inquérito sem ouvir mais ninguém. Tempos depois, irmãos de Aziz espancaram um professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) que comentou o caso em sala de aula.
No ano passado, o vice-prefeito de Amazonino, Carlos Souza, foi afastado do cargo, por decisão do juiz da 2ª Vara Especializada em Crimes de Uso e Tráfico de Entorpecentes (Vecute), suspeito de participar de uma organização criminosa comandada por seu irmão, ex-deputado Walace de Souza.
Nacionalmente, conhece-se um pouco da política do Amazonas através dos braços que conseguiram montar esquemas nacionais, como o ex-Senador Gilberto Miranda, que enriqueceu intermediando cotas de produção para empresas que se instalavam na Zona Franca de Manaus. Ou da empreiteira empreiteira Enconcel obteve contratos de mais de R$ 50 milhões com o governo do estado, na época do episódio da compra de voto.
As ligações de Amazonino com a empreiteira foram objeto de investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Acabou se livrando por suas ligações com a área federal.
Um dos pilares midiáticos centrais dessa estrutura é justamente a CBN Manaus e seu diretor Ronaldo Tiradentes, um dos principais personagens desta série.
Aguarde os próximos episódios.
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