Foto: Carlso Alberto - RS |
Por Keka Werneck*
Militantes de Comitês Populares da COPA das cidades brasileiras que vão sediar os jogos estão reunidos em Brasília, de 18 a 22 de abril, para um curso da Witness sobre produção de vídeo.
A Witness é uma ONG internacional que promove vídeos sobre violação de Direitos Humanos em todo o mundo. O foco agora são as remoções forçadas e megaeventos esportivos.
A intenção é provocar os comitês a usarem mais e com mais competência a linguagem de vídeo no fortalecimento da luta contra impactos negativos da COPA.
“Não somos contra o futebol, mas sim a favor de uma COPA que deixe legados duradouros para a população local”, explica Priscila Néri, gerente de Programas da Witness.
O Comitê Popular da COPA Mato Grosso, que existe no âmbito do Fórum de Diretos Humanos e da Terra, entende que não há qualquer motivo claro que justifique Cuiabá como cidade sede dos jogos. Como se diz no ditado popular, viabilizar isso é “forçar uma barra”, que vai custar caro para o povo que precisa tanto de serviços básicos.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma forma de explicitar a qualidade de vida em Mato Grosso, que tem IDH médio de 0.796, considerado apenas mediano. O IDH mede expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capta.
Isso indica que os governos precisam investir pesado em saúde e trabalho se quiser tirar o Estado desse limbo.
Cuiabá é uma capital pequena, que não tem um futebol forte e nem políticas públicas significativas para mudar isso. Além disso, a exemplo de várias outras capitais, não tem estrutura para receber os jogos. No entanto, havendo a obrigação de trazer uma sede para a região pantaneira, Cuiabá e Campo Grande entraram em um cabo de força, apostando qual cidade é mais poderosa. Cuiabá saiu na frente, com a força do dinheiro da soja, representado pelo então governador Blairo Maggi, que puxou campanha pró-Cuiabá. Essa competição acabou esfumaçando os problemas sociais que a COPA vai trazer.
Ao invés de obras sociais, quase meio milhão de reais serão usados na construção do estádio que tomou o lugar do histórico Verdão, demolido.
Em 2011, 304 pessoas morreram na hora em acidentes em Cuiabá, onde o trânsito é caótico. Porém, antes do advento da COPA, nada de amplitude havia sido feito para melhor a vida dos usuários das vias públicas, motoristas, passageiros e pedestres.
A Secretaria Extraordinária para a COPA (Secopa) de Mato Grosso se transformou em alvo de escândalo, ao invés de vir para refletir sobre os impactos dos jogos. O secretário Éder Moraes foi exonerado na última quarta-feira (18). Ele é acusado de usar a secretaria para fazer lobby por uma vaga em disputa no Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Outros comitês
O Comitê de Fortaleza já está realizando sessões de cinema com os vídeos produzidos sobre os impactos da COPA e está organizando campeonatos de futebol nas comunidades que serão demovidas por causa das grandes obras.
Curitiba e Rio de Janeiro já estão realizando diálogos com a sociedade sobre isso, sendo que em Curitiba o projeto chama “(De)bate-bola” e no Rio, “Esporte, paixão e negócio”.
Manaus está pedindo audiência pública sobre o assunto, "entendo que as decisões estão sendo tomadas à revelia do povo", denunciou Amadeu Guedes, um dos representantes do Amazonas no evento.
Em Salvador está sendo feito um trabalho junto à imprensa, para dar visibilidade aos impactos da COPA, para além das notícias somente positivas.
Natal cobra transparência sobre os dados públicos, tanto valores das obras, quanto o número de pessoas que elas vão atingidas.
Outros comitês também levantaram caminhos para trazer a população para essa questão, para que os brasileiros e brasileiras torçam muito também por uma COPA que não represente a violação de Direitos Humanos.
* Assessora de Imprensa do Centro Burnier Fé e Justiça
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