Por Carlos Santiago*
Na democracia o cidadão tem o direito de participar diretamente das decisões de governos e fiscalizá-los ou delegar, por meio das eleições, pessoas para lhes representar, como deputados, senadores e vereadores, tendo como princípio o interesse coletivo. O programa Fantástico, da TV Globo, do último domingo, mostrou que essa não é a regra adotada pelas assembleias legislativas. Deputados recebendo mordomias pagas com dinheiro público, como 14° e 15° salários, além de despesas médicas, tornaram-se fato tão natural que o mandato de deputado deixou de ser uma representação da sociedade para se tornar uma profissão.
Enquanto isso, a maioria da população vive com baixos salários e dorme nas filas dos hospitais públicos. Segundo a reportagem do Fantástico, nove estados brasileiros estão pagando 14º e 15º salários por ano para cada deputado. Situação semelhante existe no Congresso Nacional, que paga o 14° e do 15° aos deputados e senadores. Na Assembleia Legislativa do Maranhão, os parlamentares recebem o 13°, 14°, 15°, 16°, 17° e até 18°salários durante o ano, além de R$ 1.050,00 por mês de complemento para o plano de saúde.
Foi o sociólogo alemão Max Weber que fez uma distinção entre o homem que vive para a política e o que vive da política. O primeiro seria composto por grandes cidadãos letrados, empresários, comerciantes e líderes sociais que buscam o mandato político para expor seus pensamentos e interesses de classes, não tendo como finalidade viver de altos salários, de mordomias do cargo e nem de negócios escusos. Uma raridade na política brasileira! O segundo é aquele que faz do mandato uma profissão lucrativa, buscando a qualquer tempo mordomias e encontrando-se sempre envolvido em escândalos e tratando o povo como mercadoria que pode comprar nas eleições. Um típico sujeito da política do País!
É uma realidade. Os deputados têm obrigações constitucionais e necessitam de recursos para melhor desenvolver suas atividades. No entanto, as facilidades dos deputados em incorporar privilégios são enormes. Situação que dá inveja a qualquer grande executivo de empresa privada. Não parece moral usar uma representação delegada pelo povo para benefício próprio. Escândalos de corrupção no Brasil são quase sempre protagonizados por profissionais da política; e que há muito tempo não representam a sociedade.
* Cientista político
Nenhum comentário:
Postar um comentário