Manaus sofreu uma grande perda no último dia 10 de abril. Partiu Armando Soares Dias, ou simplesmente Armando, o imigrante português simples, com poucos estudos, que, ainda na década de 70, transformou um botequim da Praça São Sebastião em um reduto da democracia, onde as divergências político-ideológicas acaloradas de seus frequentadores (boêmios, intelectuais, políticos, artistas, estudantes, professores, funcionários públicos, etc.) eram resfriadas pelas cervejas estupidamente geladas. Mais do que um ponto de encontro, o Bar do Armando transformou-se num símbolo de resistência de Manaus.
Armando, que nunca deixou transparecer as suas preferências políticas, a todos recebia com aquela rudeza que escondia um homem de bem e de coração generoso. Raros eram os dias em que não pendurava as contas dos clientes mais assíduos, aconselhava os mais jovens ou passava trotes nos mais velhos.
Em um mundo em que os pesos dos cargos ocupados e da conta bancária são fatores mais que importantes para se receber homenagens, Armando foi devidamente homenageado em vida e agora em sua morte pelos relevantes serviços que prestou à cidade que escolheu para morar e criar as suas filhas. Sua contribuição mais conhecida foi a Banda da Bica, o bloco carnavalesco mais politizado e irreverente do carnaval manauara.
Tive a honra, em 1998, quando era vereador de Manaus, de contribuir para uma justa homenagem ao Armando. Naquele ano, acatando sugestões de dezenas de seus amigos, apresentei na Câmara Municipal uma proposição que concedia, ao mais querido dos portugueses, uma Medalha de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados a nossa terra.
Poucas vezes Manaus, e creio que o Amazonas, prestou uma homenagem tão sincera a um homem que, sem títulos ou cargos que atraíssem os bajuladores e os oportunistas de plantão, se notabilizou pela simplicidade, pela honestidade e pelo trabalho, se constituindo em parte importante da memória afetiva da cidade de Manaus.
* Publicado terça-feira, 17 de abril de 2012, no Jornal Dez Minutos
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