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quinta-feira, 12 de abril de 2012

A cachoeira e as duas torres

Por Frederico Passos - fred_passos@yahoo.com.br

Uma queda d’agua natural, tão forte quanto o furacão Katrina, proveniente de uma cachoeira, acabou de produzir o desmoronamento de duas torres em Brasília. É o que se comenta pelos corredores do Senado Federal e nos bares e restaurantes brasilienses. A enxurrada, que devastou as duas torres de um prédio, pode, segundo alguns, destruir outras residências e mansões na capital federal. A cachoeira pertencia a um tal Carlinhos, histórico contraventor de Goiás. Já o prédio, com as duas torres, pertencia a Demóstenes, senador pelo mesmo Estado.

Segundo constam nos noticiários, Demóstenes frequentava a cachoeira do Carlinhos, sempre furtivamente, sem levantar suspeitas, pois não queria que sua amizade com o contraventor viesse a público. Demóstenes, que sempre foi tido, no Senado, como o paladino da justiça, da moral e dos bons costumes, temia que sua relação com Carlinhos causasse um “tsunami” em sua vida. Não era pra menos. Demóstenes sempre se apresentava como um ser humano perfeito, sem defeitos, pronto a cutucar com o dedo mindinho a ferida dos outros. Como diria o compadre de um amigo, Demóstenes era uma pessoa proba, reta, impoluta, de caráter inabalável e reputação ilibada. Sua ética não cabia no Vaticano, na Igreja Universal, na Assembléia de Deus ou em qualquer sinagoga. Demóstenes era quase um santo, se demorasse mais pouco, talvez se candidatasse a Deus. Mas, Demóstenes escondia de todos um grave defeito: o gosto pelas máquinas caça-níqueis. Era viciado no jogo. E o Carlinhos? Era o dono das máquinas.

Também constam nos jornais de Brasília que Carlinhos frequentava o prédio que abrigava as duas torres do Demóstenes. Ali tratavam de vários negócios no escuro, digo, negócios escusos. E tinha de tudo: licitações fraudulentas; contratos com a administração pública sem licitação; doações ilegais a diversos políticos de Brasília; divisão do lucro da máfia dos caça-níqueis; avisos sobre investigações da Polícia Federal e outros. Demóstenes era o homem do Carlinhos no Senado. Era a principal peça do contraventor para alavancar seus negócios em Brasília.

E agora? E agora, graças à Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal, o Demóstenes tá vivendo seu inferno astral. Já saiu do DEM, está sem partido. O STF autorizou a quebra de seu sigilo bancário. O Conselho de Ética do Senado abriu processo contra o senador por quebra de decoro. Será que ele perderá seu mandato ou vai renunciar? Não sei...

Sinto certa comiseração do senador. E pensar que essa tão sólida amizade teve início quando ele, Demóstenes, aceitou receber de Carlinhos, como presente de casamento, uma geladeira e um fogão. Isso prova, caros leitores e únicos amigos, que a amizade entre duas pessoas não custa assim tão caro!

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