Duas pesquisas divulgadas neste fim de semana, trazem um alerta importante sobre e para a juventude brasileira. A primeira, em O Globo, aponta que 1/5 dos jovens brasileiros não trabalha, nem estuda. A segunda, divulgada no portal UOL, aponta a importância de se ter um diploma universitário hoje.
Na minha visão, o maior desafio do Brasil nos próximos dez anos é a juventude e seu acesso à educação, lazer, esportes e cultura. É este acesso que trará proteção frente às drogas e ao crime. Que levará cidadania e emprego aos nossos jovens. E, sobretudo, que permitirá ao país uma inserção renovadora da juventude em nossa sociedade.
Em conversa com Jefferson Lima, Secretário Nacional de Juventude do PT (JPT), pedi que ele fizesse um comentário sobre estas duas pesquisas. Vamos a elas (as pesquisas) primeiro. Depois, acompanhem a análise de Jefferson.
1/5 de jovens sem trabalho, nem estudo
Segundo o estudo, divulgadeo durante o seminário “Juventude, desigualdades e o futuro do Rio de Janeiro” e coordenado pelo professor Adalberto Cardoso, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 1/5 dos jovens de 18 a 25 anos não estuda, nem trabalha.
Deste total, o número de moças que permanecem em casa – boa parte jovens mães - é o dobro do de rapazes. São 3,5 milhões de moças ante 1,8 milhão de rapazes. Além disso, na parcela de jovens mais pobre da população brasileira (renda per capta até R$ 77,75), 46% estão sem trabalho ou estudo. E mais: dos que trabalham, 50% não têm nem nível médio.
Essa baixa qualificação tende a aumentar o fosso das desigualdades em nosso país. Prova disso é a situação dos universitários brasileiros, bastante favorável. Segundo o estudo “Um olhar sobre a Educação”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de cada 10 brasileiros com diploma universitário, entre 25 e 64 anos, 9 estão empregados.
E mais: o salário de quem tem diploma é quase 4 vezes maior do que a renda de que não concluiu o ensino médio. Cerca de 68% dos que terminaram a faculdade ganham mais do que duas vezes o rendimento médio da população. Já 29% dos que não completaram o ensino médio ganham menos do que metade desta média.
Confiram a seguir a análise de Jefferson Lima, Secretário Nacional de Juventude PT (JPT).
Precisamos reavaliar o modelo da escola atual
Jefferson LimaA pesquisa da UERJ mostra claramente a necessidade de fazermos uma avaliação do modelo da escola atual. Definitivamente ela não atrai a juventude. Até porque a juventude não quer somente a forma tradicional da formação do ensino médio. Ela busca formação profissional. Daí todo o esforço atual pela junção da educação formal com a profissional. A criação do PRONATEC pelo governo traz muitas oportunidades neste sentido.
A pesquisa está correta quando aponta a necessidade de termos cada vez mais creches para as jovens mães que precisam dar continuidade aos seus estudos. Neste sentido, vejam a importância do Brasil Carinhoso que tem foco nessas jovens.
Chamo a atenção também para o fato de que a juventude não se educa apenas a partir deste modelo tradicional de escola. Mas pelo conhecimento popular, comunitário. Existe uma educação informal muito forte, assim como coletivos diferenciados nos quais a juventude se organiza e pode desenvolver sua formação pessoal e cidadã. Outras pesquisas, como a do Fórum Brasileiro, colocam o emprego, a formação profissional e educacional como prioridades da juventude brasileira.
Expansão das universidades
Hoje, cerca de 79% dos jovens brasileiros querem ter um diploma universitário. Entre os que concluem o ensino médio, 70% buscam qualificação primeiro, ao invés de entrarem no mercado de trabalho. E 55% da juventude quer conjugar felicidade, satisfação pessoal, com o exercício da sua profissão.
Veja a importância da expansão das universidades federais após o governo Lula. E é bom lembrar que ela se deu também nas zonas rurais e nas regiões mais distantes do país, em consonância com a economia local onde foram instaladas para gerar desenvolvimento e empregos.
Destaco ainda a questão das cotas, cuja lei foi sancionada agora pela presidenta Dilma Rousseff, que faz com que parcela significativa da população jovem mais pobre tenha acesso à educação superior. E mais: os estudos apontam que os jovens cotistas estão apresentando bons resultados, basta ver a Universidade Estadual da Bahia, a primeira a implementar cotas, onde os alunos cotistas tiveram desempenho maior do que os demais.
Papel das eleições na mudança desta realidade
É importante lembrar que mais de 80% dos jovens brasileiros buscam aprendizado além das escolas e das universidades. Eles conseguem ter formação cidadã e política através de coletivos das universidades, de partidos políticos, de participação nos movimentos da juventude em diferentes setores. Uma participação, aliás, muito voltada para a busca por melhorias nas áreas do esporte, lazer, cultura. E não só a juventude dos centros urbanos está participando desse processo, mas a juventude das periferias, dos centros rurais, da regiões mais distantes do nosso Brasil.
As mudanças, obviamente, não acontecem de uma hora para outra. Mas, sem dúvidas, elas são fruto das políticas públicas que o nosso governo vem fomentando para que o jovem tenha mais conhecimento dos seus direitos, inclusive para cobrá-los do poder público. Se o jovem mais pobre entra no sistema de cotas, se tem mais acesso aos PRONATEC e às demais áreas, ele tem mais condições de cobrar.
Agora, quero chamar a atenção para a importância das eleições municipais para mudarmos a situação dos jovens tais como relata a pesquisa da UERJ. Ressalto a quantidade significativa de jovens disputando a urnas em busca de políticas públicas para este segmento. As eleições não são somente o momento do voto, mas de estudar o projeto de cada candidato, cobrar e reafirmar o compromisso deles com as políticas públicas de juventude.
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