Por Dalete Soares de Souza – Educadora Popular.
Durante todo processo histórico a luta de classe urbana se deu a partir da percepção dos (as) trabalhadores (as) sob a exploração as quais eram submetidos (as) que provocou os surgimentos dos sindicatos e das centrais dos trabalhadores (as) isso instrumentos de organização para proteção dos trabalhadores (as).
Ao longo da história brasileira os sindicatos tiveram um forte enfrentamento na luta onde os anseios da sociedade em geral estavam contemplados. Até o início da década de 1990, foram desenvolvidos processos de formação tendo como finalidade a educação popular e a organização da classe trabalhadora. Esta formação também era ofertada através das parcerias com os movimentos sociais e na igreja nos espaços da teologia da libertação.
Durante todo período da ditadura militar, a classe trabalhadora contava com estas ferramentas para o enfrentamento diário do sistema opressor. Havia uma luta em comum onde os movimentos tinham a liberdade como uma bandeira de luta única.
Com o fim da ditadura, já na década de 80 os movimentos vão aos poucos se afastando entre si, vão se fatiando cada vez mais, fato que provoca um descenso da luta, e grandes perdas para a classe trabalhadora. Destaco aqui o descaso com os processos de formação, o fortalecimento da influencia da mídia no cotidiano, o engessamento da consciência critica das pessoas.
Mas algumas pessoas se destacam como estrelas de suprema grandeza e começa a falar em nome dos movimentos, só que não dá conta de que a base está cada vez mais se afastando.
Com isso, o sistema capitalista se fortalece e usa todos os mecanismos do estado para impedir a organização da classe trabalhadora. A Educação volta seu principal foco para atender somente as demandas do mercado. A falta de perspectiva de vida e a não contemplação da realidade das pessoas provoca uma grande evasão nas escolas pública.
A maioria das religiões prega o fatalismo total, (não tem mais jeito, é assim mesmo, estamos assim porque Deus quer), a cultura é subitamente substituída pelo lixo. Na música: sertanejo, forró e funk proibidão, letras que discriminam a mulher, o negro, o pobre, deficiente, indígena etc. E que ao mesmo tempo fazem apologia a violência, a mercantilização do corpo da mulher, a droga entre outros.
O modelo desenvolvimentista se consagra através de falsas promessas, de mais emprego e qualidade de vida para as pessoas, expulsão os (as) trabalhadores (as) do campo, usando o argumento que a vida urbana é melhor, diz que na cidade há facilidades para o acesso a saúde, educação, emprego... Com isso, vivemos numa cidade inchada, sem a mínima estrutura e garantia de Direitos Humanos. E em nome deste desenvolvimento que só visam o lucro rápido para os seus, vão aos poucos retirando os direitos fundamentais dos (as) trabalhadores (as). Vão degradando o meio ambiente, poluindo os nossos rios e o pior de tudo que as próprias vítimas deste processo são os que realizam os serviços degradantes.
Mas quem lucra com os inchaços nas cidades, com a fome e a desigualdades?
O (a) trabalhador (a) urbano (a), sem condições de moradia, de transporte, de lazer, de acesso a saúde digna, que estão empregadas, (uma minoria) vivem em situação vegetativa. Estes levantam cedo para servir ao patrão e o pouco tempo que lhes restam é para descansar para servir o patrão novamente no outro dia, a carga horária é abusiva e manter-lhes cansados (as) é uma tática cruel de imobilização, reagir como? Esta pequena parcela da sociedade imagina que são melhores que os demais que nem a oportunidade de serem servil tem. E o modelo coloca na cabeça de muitos que quem não está trabalhando é uma grande ameaça para os que estão, e assim o fazem, constantemente os patrões dizem aos funcionários, trabalhem se submetam pois a fila lá fora é grande, tem milhares de pessoas de olho neste teu salário.
Outra tática do sistema é a interiorização nas pessoas de que elas podem ser melhores se esforçarem mais, trabalharem dobrado, estudarem mais. E muitos (as) vão fazendo tudo isso e quando percebem já está por muito tempo isolado dos demais sem grupos sociais para além dos que estão no mesmo barco de exploração de seus patrões.
Se não bastasse esta prática das grandes empresas, também temos uma mídia numa totalidade voltada para o consumismo desenfreado. Das 24 horas do dia de programas diários mais de 15 horas é dedicado as propagandas, que usam os mais sórdidos conteúdos para convencer seus ouvintes telespectadores a comprar objetos e utensílios sem necessidade. Provocando o endividamento de uma maioria, e com isso a sujeição de horas extras no intuito de pagar as dívidas.
E assim este público fica cada vez mais impossibilitado de participar, seja de mobilizações ou dos processos de formação, pois tem todo seu tempo, consumido pelo mercado a quem serve.
Qual a realidade da classe trabalhadora excluída?
Nas grandes cidades é percebível a diferença de classe a olhos nus. Não só em relação à qualidade da moradia, dos bens materiais quanto na estrutura dos bairros onde estes vivem. Na região onde vivem os ricos, as ruas são asfaltadas, não falta água, tem iluminação pública, área de lazer e a presença constante da polícia para garantir a segurança. Se alguma violência ou crimes bárbaros acontece, onde vive este povo, e são eles os autores nenhum apresentador de programa sensacionalista vai dizer algo que afete a comunidade dos ricos no geral. Mas se ao lado houver uma comunidade onde vivem os despossuídos, nada de políticas públicas chega até lá, se alguma violência é praticada ali ou no entorno, os servidores do sistema que tem o poder de mídia irá condenar até a última geração de todas as famílias deste aglomerado (bairro). Sem perceber às vezes muitos oprimidos repetem os chavões que o sistema quer, “é bandido tinha que morrer mesmo”. Mas porque será que só os bandidos pobres morrem? Porque será que os presídios não estão lotados com os bandidos ricos? As constantes violências contra a juventude, pobre, negra e excluída tem uma intencionalidade política principalmente o extermínio. A disseminação da droga e a inércia de políticas de combate também é uma intencionalidade política. Eles querem fazer com que acreditemos que não valemos nada mesmo. Como despertar a consciência crítica numa mente doente. Porque não existem hospitais públicos de tratamento de dependentes químicos? A dependência química tem tratamento, mas só os filhos deles podem acessar, aos nossos resta à morte como a única saída. Então estamos navegando num mar extremamente turbulento, cada qual buscando se salvar, passar pela tempestade que é a vida dos excluídos sem se afogar. Cegos e com as verdades do opressor como única.
O que devemos fazer?
Diante da monstruosidade a qual estamos submetidos (as) os desafios são grandes. Precisamos retomar os processos de formação. Desvelar a realidade do povo, despertar a consciência crítica. Acabar com a prática de militância de gabinete. Por os pés no chão e correr atrás do tempo perdido.
Temos que caminhar ao lado dos oprimidos, falar com eles e não para eles.
Nossa missão enquanto militante é o de devolver o direito de sonhar de muitos, porque só nós os resistentes da luta ainda sabemos o que é sonhar.
Embora muitos se encontram com seus sonhos anestesiados, adormecidos vamos fazendo barulhos e acordando o povo com nosso exemplo de luta, de compromisso e envolvimento de causa.
Precisamos voltar atrás e buscar os que ficaram pelo caminho, que se desiludiram e dizer o quão importe são para o processo de um Brasil justo, digno de se viver.
Não devemos deixar morrer a história dos que tombaram na luta, devemos valorizar cada um/a destas pessoas, elas não tiveram medo, não recuaram e doaram suas vidas para que a nossa vida fosse melhor.
Temos um dever moral de pelo menos assegurar as conquistas que tivemos através de todo processo de luta para o que virão depois de nós. Então resistir é o mínimo que podemos e devemos fazer. Pois a cada sonho que deixamos para trás fica um pedacinho de cada um/a de nós.
O que temos de luta urbana?
Hoje as centrais e os sindicatos não dão conta de pautar as necessidades no contexto além da luta por salário e qualidade de trabalho. Não desenvolvem processos de formação não inclui os desempregados e os não sindicalizados. A igreja assumiu de vez o papel desarticulador das lutas sociais. A adoração e oração sem ação é a meta principal.
Nos principais centros urbanos do mundo vão pipocando mobilizações, muitas destas sem focar um objetivo, sem uma bandeira consistente, por isso mesmo em grande número de pessoas não surtem efeito, os opressores ignoram.
Estamos num processo de retomada de unicidade da luta, percebemos que ainda devemos lutar por muito tempo para garantir a vida, enfrentar o modelo capitalista o inimigo da classe trabalhadora e da luta organizada.
Precisamos avançar mais, já perdemos tempo demais, a corrupção se alastrou em todos os setores da política instalada e mal aplicada deste país.
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