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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Na ditadura, tortura e repressão estendiam-se às famílias


As comissões da verdade ouviram ontem, no Rio, depoimentos de três filhos de militares, cujos pais sofreram perseguição política e tortura na ditadura, pressões e desrespeito aos direitos humanos estendidos também às famílias.

Os depoimentos foram permeados por um ponto em comum: eles contaram histórias de medo e terror. Entre os depoentes, Pedro Luiz Moreira Lima, filho do brigadeiro Rui Moreira Lima, disse que faz parte da “geração do medo”. Ele relatou que chegou a ser sequestrado para que o pai fosse preso. O brigadeiro foi perseguido por ter se negado a participar do golpe militar de 1964." É uma dor profunda. A gente se emociona porque é a nossa história", disse.

Já o medo de Cláudia Gerpe Duarte, filha do major-brigadeiro Fausto da Silveira Gerpe, era tanto que ela costumava até trocar capas de livros. “Lembro-me que de um deles, de autoria de Nélson Werneck Sodré (militar que teve os direitos políticos cassados pela ditadura), eu arrancava a capa e encapava de marrom. Tinha medo que entrassem na minha casa e encontrassem o livro”, lembrou Cláudia.

Perseguição e repressão contra os queriam cumprir a Constituição

Seu pai comandava a Base Aérea de Val-de-Cans, em Belém (PA), quando recebeu ordens da Aeronáutica para prender o vice-presidente da República, João Goulart - Jango -, sobre o qual surgiram boatos de que após a renúncia do presidente Jânio Quadros (25 de agosto de 1961), faria uma escala na capital paraense, na volta de viagem à China (Jango voltou pelo Uruguai). A posse de Jango no cargo vago pela renúncia era vetada pelos militares.

“Papai respondeu que caso o vice-presidente fosse para lá (IBelém), seria recebido com honras de Presidente da República porque, de acordo com a Constituição, ele era o presidente. O Exército e a Marinha marcharam contra a Base. Papai, sentindo que poderia haver uma carnificina decidiu se render com as seguintes condições: ficaria preso no QG do Exército e não no da Aeronáutica. Junto comigo e a minha mãe, embarcaríamos no dia seguinte para o Rio”, contou Cláudia.

As condições foram aceitas e os três embarcaram para o Rio, onde o pai ficou preso no Forte do Leme. “Lembro-me de ter ido visitá-lo várias vezes. Papai foi preso porque queria cumprir o que determina a nossa Constituição”, ressaltou.

Famílias eram levadas presas a quartéis

Carlos Augusto da Costa, filho do coronel Dagoberto Rodrigues, que dirigia o Departamento de Correios e Telégrafos no governo Goulart, também depôs e lembrou que uma das vezes em que esteve preso foi levado junto com a irmã a um quartel da Polícia do Exército. "A nossa casa foi invadida por agentes do DOI-CODI. Nunca podia imaginar que ia acordar com um revólver (calibre) 38 na minha cabeça. Fomos encapuzados para o quartel da Barão de Mesquita. Perguntaram o que estávamos fazendo no Brasil”, disse.

De acordo com ele, depois disso, a família teve que se mudar para o Uruguai e Dagoberto, ao voltar uma vez ao Brasil foi mais uma vez preso. “Eu não era participante de grupo armado e inventaram que, vindo do Uruguai, eu estava trazendo armas”.

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