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Fonte: https://prefeituradeitacoatiara.com.br/turismo/locais-para-visitar/ |
Para falar das ‘itaquatiaras’ devo pedir licença pelo menos a dois filhos naturais da boa terra da “pedra pintada”, muito próximos a mim pela amizade fraterna e convivência atenciosa que estabelecemos no cotidiano e em particular no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e na Academia Amazonense de Letras, faz muito: Francisco Gomes da Silva e Elson José Bentes Farias, historiador e poeta.
Com esse introito permissivo creio
que posso ousar e falar das inscrições rupestres encontradas em pedras da
região, as quais foram reveladas, inicialmente, há muitos anos, quando de uma
forte vazante do rio Urubu e serviram de objeto de estudo e tradução por parte
de Bernardo Azevedo da Silva Ramos, o ilustre amazonense que traduziu as
inscrições das pedras da Gávea, no Rio de Janeiro, formou uma das mais
importantes coleções de numismática do seu tempo herdada pela sociedade
amazonense em 1900 e exposta no Palacete Provincial, foi o primeiro presidente
do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, vereador de Manaus com a
República e secretário do Clube Republicano do Amazonas, além de empresário do
comércio e presidente da Associação Comercial.
Essas inscrições seriam de origem
fenícia e assim foram estudadas em 1919, e noticiadas fora do país, especialmente
por revistas inglesas, ainda que pouco valorizadas em nosso Estado e pelo resto
do Brasil, durante muitos anos.
Esse marco singular da passagem de
outros povos e da presença de outras culturas em nossa região, muito antes da chegada
dos europeus que vieram com o intuito de “civilizar”, bem mais tarde foi
identificado por um “tal” de Roldão Pires Brandão que se apresentava como
arqueólogo e que perambulou por Manaus por algum tempo e, pasmem os leitores, dinamitou
o bloco de pedra ou parte dele e levou como se fosse troféu de guerra para o
centro da cidade de Itacoatiara, o qual foi instalado nas imediações da sede da
Prefeitura, com o fim de se tornar atração turística.
O criminoso fugiu da capital
amazonense e das raias do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
- IPHAN, não sei para onde e nem como conseguiu se esconder das autoridades,
embora considere que, à época, pelos anos 1970, as autoridades locais não
estavam muito bem conscientes da importância desse patrimônio e do papel que
ele representaria se permanecesse no seu lugar de origem, mergulhando e
submergindo conforme o movimento do rio Urubu, de acordo o ciclo natural das
águas.
Quando denunciei o fato ao IPHAN,
apenas o meu amigo Alfredo Theodoro Rusins, alto funcionário do órgão federal, se
interessou pelo assunto, mobilizou o setor jurídico da repartição, expediu
relatório do qual possuo cópia carbonada em meu arquivo particular, e promoveu
denúncia aos setores competentes visando a reparação e punição do autor da ação
delituosa.
Mais ainda, na época, Rusins
revelou, publicamente, que se tratava de um charlatão que já havia praticado
outros crimes da mesma natureza em pontos diferentes do país, sempre prestando
longas e fantásticas entrevistas a jornalistas e veículos desavisados de sua
perigosa incompetência técnica e desvio moral.
O fato é que, até onde sei, esse
bloco de pedra com as possíveis inscrições fenícias, ainda se encontra em ponto
destacado do centro de Itacoatiara, como mais uma prova da ação vandálica e
criminosa desse senhor de nefasta memória.
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