Havia quem dissesse que, sem a presença de militares nas ruas, como no clichê das quarteladas da América Latina, a expressão “golpe” perdia conexão com a realidade. Fatos mostram que não é bem assim.
A presença do capitão do Exército William Pina Botelho, infiltrado entre um grupo de manifestantes presos em São Paulo durante protesto de 4 de setembro, não pode ser tratada como um episódio banal da conjuntura. Envolve um fato grave, que deve ser apurado e esclarecido, pois diz respeito às liberdades e direitos fundamentais de todo cidadão brasileiro.
A pergunta a ser esclarecida é básica: o capitão agia por conta própria ou obedecia a superiores? Neste caso, quem eram? O que pretendiam?
Numa situação política inteiramente diferente, a incapacidade de responder com clareza a estas questões, após o atentado a bomba no Riocentro em 30 de abril de 1981, antecipou a ruína do governo João Figueiredo, o último presidente-general do período militar. O silêncio dos superiores e a impunidade dos envolvidos colocou em risco o processo de democratização.
A repetição da mesma atitude, 38 anos depois, tem implicações equivalentes, ainda que a conjuntura seja outra, não custa repetir, ainda que a delicadeza do momento não possa ser ignorada. Mais uma vez, o silêncio e o segredo implicam em proteger ações que podem — escrevi podem — representar uma ameaça a democracia.
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