Há 33 anos, em 30 de abril de 1981, uma ameaça pairava sobre artistas e público (cerca de 20 mil pessoas) que chegavam ao Riocentro para prestigiar o show de Música Popular Brasileira, organizado pelo Centro Brasileiro Democrático.
A ameaça que entrou para a história como o atentado do Riocentro foi dissipada quando uma das bombas planejadas para aquela noite – suspeita-se que eram 4 – explodiu dentro de um veículo, no estacionamento da casa de show, provocando a morte do sargento Guilherme Pereira Rosário e ferindo o capitão Wilson Luiz Machado.
Mais de três décadas depois, a investigação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) finalmente detalha a operação e mostra que ela foi articulada pelo Estado militar e que fazia parte de um conjunto de ações semelhantes que aconteceram no começo dos anos 80.
“Os documentos demonstram que esse atentado (do Riocentro) não foi obra de lunáticos nem agentes de agiram por conta própria. Foi uma ação articulada do Estado brasileiro”, afirma Pedro Dallari, coordenador da CNV.
Ele explica que vários atentados como o do Riocentro foram realizados pelas autoridades militares enquanto política de Estado. Ou seja, uma ação planejada executada pela estrutura de extermínio implantada no país durante a ditadura militar, que patrocionou durante 16 meses, entre 1980 e 1981, cerca de 40 atentados a bomba.
Elas explodiam nos escritórios de advogados que defendiam os presos políticos, em veículos da imprensa, bancas de jornais e livrarias, em prédios públicos, em comícios políticos e shows. “O objetivo disso era inibir o processo de abertura política que começava a acontecer no Brasil”, afirma Dallari.
A CNV pretende ouvir o coronel reformado Wilson Luiz Machado e o general reformado Newton Cruz, ex-chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações. Ambos estão entre os seis denunciados pelo Ministério Público Federal. Vale destacar que o caso aconteceu depois do período incluído na Lei da Anistia, que vai até 1979.
A dimensão da tragédia do que poderia ter sido o atentado no Riocentro, caso todas as bombas explodissem, foi bem lembrada pelo delegado da PF e assessor da CNV, Daniel Lerner:
“Seria uma tragédia de proporções catastróficas, com uma multidão de 20 mil jovens assistindo a um show com a explosão de bombas – uma explodiu prematuramente, outras que a gente investiga e que não explodiram, possivelmente sob o próprio palco do show, e uma na casa de força que chegou a explodir e não teve o efeito desejado de causar a queda de energia. Isso sem o policiamento da PM e com portões fechados por uma ordem daquele dia”.
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