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Fonte: http://urubui.blogspot.com.br/ |
Relatório responsabiliza Ditadura Militar pelo crime de genocídio contra os índios Waimiri-Atroari na Amazônia.
O Comitê Estadual da Verdade, Memória e Justiça no Amazonas apresenta, nesta quarta-feira, 17, o Relatório sobre o massacre de cerca de 2.000 indígenas das etnias Wamiri-Atroari. O documento será entregue ao representante da Comissão Nacional da Verdade – CNV, Gilney Viana, às 10h, no auditório da sede da Ordem dos Advogados do Brasil, em Manaus, Amazonas.
Apoiado em fontes históricas, pesquisas e relatos de pessoas, o relatório se constitui em documento-denúncia do massacre ocorrido com os índios Wamiri-Atroari, durante a implementação na Amazônia de um dos projetos desenvolvimentistas da Ditadura Militar: a construção da BR 174 (Manaus/Boa Vista) e a exploração das riquezas minerais no município de Presidente Figueiredo.
POR QUE KAMÑA MATOU KIÑA ? APIEMIEKE ? (Por quê). A pergunta exige uma resposta da sociedade nacional, pois foi feita com frequência e de forma insistente pelos índios sobreviventes ao massacre aos professores, Egydio e Doroti Schwade, que desenvolveram o primeiro processo de alfabetização em sua língua materna na aldeia Yawará – Sul de Roraima – entre fevereiro de 1985 e dezembro de 1986. No momento em que a sociedade e o Governo Federal buscam esclarecer os crimes praticados pelos agentes públicos do Estado na Ditadura Militar, os indígenas foram os povos mais duramente atingidos em toda a região amazônica. O que ocorreu aos Cinta Larga e Suruí, na região dos Rios Aripuanã e Rooswelt, entre Rondônia e Mato Grosso; aos Krenhakarore do rio Peixoto de Azevedo, na rodovia Cuiabá-Santarém (conhecidos como Índios Gigantes); aos Kanê ou Beiços-de-Pau do Rio Arinos no Mato Grosso; aos Avá-Canoeiro em Goiás; Parakanã e Arara no Pará e a outros em função dos projetos políticos e econômicos da Ditadura Militar. Também não devem ser esquecidos crimes cometidos contra povos indígenas que, embora desencadeados desde antes do governo militar, se acirraram durante o mesmo devido a negligencia, acobertamento e incentivos fiscais concedidos a latifundiários interessados na morte dos índios. É o caso das “correrias”, expedições de matança de índios que ocorreram até o final da década de 1970, especialmente no sul do Amazonas e no Acre. Entre os povos mais duramente atacados em “correrias” citam-se os Kaxinawa e os Madiha no Acre e os Juma no Sul do Amazonas. Muitos dos episódios de “correrias” tiveram a participação direta de agentes públicos.
O Comitê Estadual da Verdade no Amazonas traz farta documentação por meio do Relatório sobre o que ocorreu aos Kiñá ou Waimiri-Atroari, povo que habitava até 1967 a região entre Manaus (AM) e Caracaraí (RR), ou seja, do Vale do rio Urubu rumo Norte, passando pelos rios Uatumã, Curiuaú, Camanaú, Alalaú e adentrando Roraima até os rios Jauapery e Anauá, em direção à Guiana. Alguns desses documentos apontam também para o genocídio do grupo Piriutiti, na mesma região, que merece uma investigação mais específica.
A respeito do massacre dos Waimiri-Atroari pelos militares, apesar de ainda recente e tão próximo a Manaus (entre 100 e 350 quilômetros), a opinião pública tem poucas informações e descrições do ocorrido que dos massacres acontecidos aos mesmos índios há 150 anos. Isso porque, apesar da farta documentação existente, que comprova o exercício e a prática de uma política genocida, instalou-se junto ao povo Wamiri-Atroari um programa de controle da informação que mantém afastados ou dificulta o trabalho de investigação e pesquisa histórica de indigenistas, cientistas e jornalistas independentes.
Responsabilização
Ao mesmo tempo em que encaminhamos o Relatório à Comissão Nacional da Verdade, Memória e Justiça, contendo documentos sobre as táticas de guerra, instrumentos utilizados e a ocultação dos acontecimentos no processo sistemático de extermínio do povo Waimiri-Atroari para a expropriação do seu território e dos recursos naturais ali existentes, solicitamos providências para que este processo de morte e ocultação de crimes seja superado, afastando da direção da política indigenista as empresas e os responsáveis pelo massacre ocorrido e a todos os funcionários que ao tempo da Ditadura Militar tiveram alguma participação ou presença nas ações da FUNAI e do Exército na área indígena. O Comitê da Verdade no Amazonas crê, que dessa forma, se poderá criar as condições para iniciar um novo diálogo entre os Waimiri-Atroari e a sociedade nacional.
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