Faz muito bem - e até já tardava - a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ao reconvocar para depoimento o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o comandante do DOI-CODI do 2º Exército (hoje Comando Militar do Leste) de 1970 a 1974, considerados os mais temíveis dos chamados "anos de chumbo" da repressão na ditadura militar.
A reconvocação de Ustra foi anunciada nesta 2ª feira (ontem) pela coordenadora dos trabalhos da CNV, Rosa Cardoso, em audiência em São Paulo ao lado da Comissão Estadual da Verdade. Rosa transfere a coordenação no próximo dia 16 para o ex-ministro da Justiça (governo FHC), José Carlos Dias, também integrante da Comissão. A futura audiência para o novo depoimento ainda não tem data marcada.
Ulstra foi descoberto e reconhecido como torturador em 1985 pela então deputada Beth Mendes - uma de suas vítimas - servindo na Embaixada do Brasil em Montevidéu, no começo do Governo José Sarney. O presidente fazia uma visita oficial ao Uruguai, Beth (também atriz e ex-secretária de Estado) integrava a comitiva oficial e reconheceu Ustra ao pé da escada, no momento em que desciam do avião.
Primeiro militar brasileiro declarado torturador
Por sua atuação no comando de um dos principais centros de tortura da ditadura militar (1964-85), Ustra responde a processos e é acusado de inúmeros crimes de lesa humanidade. Em 2008, tornou-se o primeiro e único militar declarado pela Justiça brasileira como torturador. Ustra nega os crimes e alega perseguição.
Em maio pp., o coronel prestou depoimento à CNV, em Brasília. Defendeu a ditadura, negou os crimes mesmo confrontado com vítimas que foram por ele torturadas - ou sob seu comando no DOI-CODI, como o vereador paulistano Gilberto Natalini - e alegou que apenas cumpria ordens. Seu primeiro depoimento foi tumultuado porque ele compareceu acompanhado de dois generais da reserva que o defenderam e a ditadura.
O resultado foi insatisfatório, reconhece Rosa Cardoso. "À época não tínhamos experiência, e ficou decidido não confrontá-lo com testemunhas para não se transformar numa sessão longa. Agora devemos fazer isso", disse. Além de testemunhas, a Comissão reuniu, também, novos documentos do período sobre torturas e crimes no DOI-CODI paulista para esta nova inquirição.
"Vamos aos símbolos (da ditadura), precisamos esgotar tudo o que eles têm a dizer. Pegar os símbolos é importante para que a sociedade saiba o que aconteceu", concluiu Rosa Cardoso ao anunciar a reconvocação de Ustra.
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