Agora é oficial, de um lado isento, mas ainda é parte de um relatório parcial e não final da investigação. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgou relatório parcial hoje no qual afirma que, pelo que dispõe de investigações até agora, tudo indica que o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu mesmo em acidente de trânsito na Via Dutra, em agosto de 1976, como diz a versão oficial do regime de exceção, e não vítima de um atentado organizado pela ditadura militar (1964-85).
A CNV, oficial, instituída pelo governo e que programa entregar seu relatório final de trabalhos à presidenta Dilma Roussef até 10 de dezembro próximo, tem pouco poder de investigação e limita-se mais informações recebidas de outras comissões, da mídia, de testemunhas e de parentes de vítimas da ditadura.
Este trecho de relatório sobre a morte do ex-presidente JK será incorporado ao relatório final de todo o trabalho da CNV, a ser entregue em dezembro. A CNV completa dois anos de trabalho no próximo dia 16, mas por ato da presidenta da República teve sua atuação prorrogada por mais seis meses, até dezembro.
Comissão da Verdade de São Paulo sustentou que JK morreu em atentado
A versão de que JK e Geraldo Ribeiro, seu motorista particular há décadas, morreram em um atentado arquitetado pelos militares foi apresentada pela Comissão Municipal da Verdade de São Paulo em dezembro pp. À época, em relatório passado à CNV, o presidente do grupo, o vereador Gilberto Natalini (PV-SP), afirmou que o ex-presidente foi vítima de “conspiração, complô e atentado político”.
A história oficial, sempre difundida inclusive pela ditadura militar é de que JK (presidente da República de 1956 a 1961), morreu em um acidente automobilístico quando se dirigia de São Paulo para o Rio, em um Opala conduzido por Geraldo. O veículo teria colidido com um caminhão após ser atingido por um ônibus em alta velocidade.
Mas a CNV sustenta no relatório parcial divulgado hoje não haver nada que comprove o complô para assassinar o ex-presidente. A Comissão Nacional começou a investigar o acidente em setembro de 2012, após receber pedido nesse sentido da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB-MG.
Não há “elemento material” que sustente a teoria de crime, diz CNV
A Comissão Nacional rebate os pontos levantados pela Comissão Municipal da Verdade paulistana para sustentar a versão do atentado. “Não há nos documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinado vítimas de homicídio doloso”, diz o relatório da Comissão Nacional da Verdade.
As suspeitas de que JK teria sido assassinado pelos militares da ditadura que haviam cassado seu mandato de senador por Goiás, suspendido seus direitos políticos, humilhado em depoimentos em Inquéritos Policiais Militares (IPMs) e obrigado a viver anos no exílio em Paris e Lisboa, surgiu logo após sua morte. Todos os seus pertences, objetos pessoais e documentos, inclusive um diário, desapareceram na Dutra, no local do acidente, e jamais foram encontrados pela família.
As suspeitas foram reforçadas, também, porque 15 dias antes surgira a versão, comunicada até à família, de que ele morrera num acidente no mesmo local e hora em que morreu na Dutra duas semanas depois. A isto se somou o fato dos dois outros líderes civis da resistência à ditadura morrerem em seguida: o ex-presidente João Goulart, o Jango, no exílio na Argentina, de “problemas cardíacos” em dezembro do mesmo ano, 1976, e o ex-governador Carlos Lacerda, em março de 1977. Lacerda entrou num hospital para tomar uma injeção contra gripe e saiu morto.
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