Em Cessão de Tempo na manhã desta quinta-feira (6), de autoria do deputado José Ricardo Wendling (PT), foi debatido no plenário da Assembleia Legislativa (Aleam) o tema abordado no livro “A ditadura militar e o genocídio do povo Waimiri-Atroari”, lançado recentemente pelo Comitê Estadual de Direito à Verdade, Memória e à Justiça do Amazonas.
A obra denuncia o massacre de cerca de dois mil indígenas da etnia Waimiri-Atroari nos dez anos de construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista), conduzida pelo Exército em colaboração com o Governo do Amazonas e forças paramilitares, e os problemas que decorreram da instalação da atividade mineradora.
De acordo com José Ricardo, essa publicação é resultado do trabalho desenvolvido pelo Comitê Estadual ao longo de dois anos, com base em vasta e minuciosa pesquisa realizada pelo indigenista Egydio Schwade e sua esposa Doroty Schwade. “Um trabalho voluntário e que, por meio dessa importante publicação, reconta a história do que de fato aconteceu com o povo Waimiri-Atroari durante a construção da BR-174”, disse ele, relatando que o Governo Federal instalou a Comissão Nacional da Verdade para investigar os casos de violação de direitos humanos na ditadura militar, como torturas, perseguições e desaparecimentos, e estimulou a instalação de comitês estaduais para subsidiá-los com depoimentos e documentos históricos.
O coordenador do Comitê Estadual Direito à Verdade, Memória e à Justiça do Amazonas, o indigenista Egydio Schwade, contou que esse livro é uma tentativa de se iniciar no Amazonas um diálogo com as populações mais oprimidas, como os Waimiri-Atroari. “Porque eles não foram os únicos que sofreram no período da ditadura, quando se iniciou a construção da BR-174. Outras populações também perderam suas vidas”, disse ele, ressaltando que havia interesses por trás dessa grande obra, que era a exploração dos recursos minerais. “E adentraram nesse território como se estivesse desocupado, resultando num grande massacre a esses povos”.
“Por que kamña matou kiña?”
Ele relatou que, ao longo de dois anos, juntamente com sua esposa, colaborou no replanejamento da política indigenista e, na oportunidade, ajudou na alfabetização desse povo na sua língua materna. “Ouvi de muitos deles um questionamento: por que kamña matou kiña? Por que o povo civilizado matou a nossa gente? E eles têm o direito de saber por que mataram dois mil inocentes”, afirmou o indigenista, enfatizando que é preciso rever essa história com verdade, memória e justiça.
Para o vice-presidente do Comitê Estadual e presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Amazonas, Wilson Reis, o trabalho desenvolvido pelo Comitê tem caráter social e é de interesse público.
“Não desenvolvemos somente atividades determinadas pela Comissão Nacional, porque há uma grande necessidade de reescrever a história do Amazonas, já que somos o Estado que congrega a maior população indígena do País. E queremos levar essas discussões para outras etnias, como os Tenharins, no Município de Humaitá, e conduzi-las para o campo das políticas oficiais”, declarou o jornalista, destacando o compromisso do grupo em continuar esse trabalho, com espírito público e voltado para a sociedade, independente da Comissão Nacional da Verdade, que encerra as suas atividades em dezembro deste ano, “porque não se pode ignorar a realidade dos povos indígenas da Amazônia Brasileira”.
Fonte: Assessoria de Comunicação
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