João Vicente Goulart tinha apenas sete anos quando foi obrigado a trocar a Granja do Torto numa noite, refugiar-se em São Borja e de lá partir para o exílio no Uruguai. Junto da mãe, Maria Thereza, e da irmã, Denise Goulart, apenas um ano mais nova que ele, o plano daquela noite era aguardar a chegada do pai, João Goulart, na estância no interior gaúcho. Jango, no entanto, só pode reencontrar a família quatro dias depois, no Uruguai. Era o início de um exílio sem retorno. Era o começo de 21 anos de ditadura militar no Brasil.
O empresário formado em filosofia, João Vicente, rememora os tempos de exílio e fala sobre o pai, um dos políticos de carreira mais meteórica no país. Próximo do presidente Getúlio Vargas, de quem era vizinho em São Borja e por quem foi lançado na política, Jango foi seu ministro do Trabalho aos 35 anos, duas vezes vice-presidente da República eleito pelo voto direto (de JK e de Jânio Quadros) e aos 42 anos, em 1961, tornava-se presidente da República. Foi deposto três anos depois pelo golpe militar de 1964. A mãe de João Vicente, Maria Tereza Fontella Goulart, foi a mais jovem e é considerada a mais bela primeira-dama do país.
João Vicente evoca conselhos que recebia do pai. Hoje à frente do Instituto João Goulart, instituição que reúne documentos, programas, fotos e vídeos de Jango, ele conta sobre a luta que trava na reconstrução da memória e, sobretudo, o imenso legado de seu pai para o Brasil. Jango fez história até no momento do seu sepultamento, quando sua filha, Denise, estendeu sobre o caixão uma faixa contendo apenas uma palavra, ANISTIA – a primeira que aparecia publicamente sobre o movimento, ainda em plena ditadura militar.
Um legado detratado pelos golpistas de 1964 que começa a ser reparado, 50 anos depois. Um passo importante neste sentido foi a devolução simbólica do mandato de Jango pelo governo Dilma no ano passado. Na cerimônia, João Vicente mandou sua mensagem ao pai: Jango, a democracia venceu! A história de Jango ainda está para ser escrita e será, certamente, quando a verdade sobre a sua morte aparecer e se souber se ele teve morte natural ou foi assassinado. Após a exumação do corpo do ex-presidente, o país aguarda o resultado final das investigações conduzidas no Brasil e, agora, também na Argentina.
João Vicente, porém, afirma que não apenas o corpo de Jango deve ser exumado, mas também as reformas de base propostas por ele. Reformas que devolveram a esperança para o povo brasileiro e que, segundo João Vicente, precisam ser implementadas para que tenhamos um país que efetivamente atenda as necessidades de seu povo.
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