O escândalo político mais recente no Rio de Janeiro, por incrível que pareça, não envolve o Palácio Guanabara nem o governador Sergio Cabral. Desta vez, o epicentro da maracutaia – expressão muito cara que tomo emprestada ao ex-presidente Lula – é o polo oposto: o gabinete da deputada estadual Janira Rocha, do PSOL.
Sua excelência, com fortes laços sindicais e ex-presidente do partido no estado, foi apanhada com a mão onde não devia estar, ou seja, no bolso de seus assessores. Promovia, digamos, uma vaquinha, que não pode ser confundida nem com o Caixa 1, informado ao TRE, nem com o Caixa 2, aquele que financiou a campanha, mas com um Caixa 3, para financiar a reeleição.
A base do governo Cabral e sua filial no Palácio da Cidade – sede da Prefeitura do Rio – ficaram eufóricas. Afinal, poderiam espalhar aos quatro ventos: “Estão vendo? Eles são iguais a nós! De honestos só tem a pose”.
Mas a euforia tende a diminuir, pois o problema é muito mais delicado do que parece. E se virar moda? Se outros assessores de outros deputados e vereadores resolverem abrir o bico?
Até as paredes do Palácio Tiradentes (Assembleia Legislativa) e do Palácio Pedro Ernesto (Câmara Municipal) sabem que a prática é corrente; que se conta talvez nos dedos de uma mão o gabinete onde a prática não existe, até porque, ao contrário dos deputados federais, os gabinetes de deputados estaduais e vereadores não dispõem de verba para pagamento de pequenas despesas (nem das grandes!). Tudo sai via contracheques de servidores, sendo certo que há desvios e há desvios. Uns para suprir a falta da necessária verba de gabinete, outros para cobrir as despesas no freeshop de Miami.
Depois de ser flagrada, a deputada pediu afastamento da presidência do partido e da liderança do PSOL na Assembleia por questão de ética, apesar de continuar exercendo seu mandato.
Portanto, o caso da deputada não deve ser tão festejado assim. Há muito telhado de vidro que podem querer espalhar outro tipo de coisa pelos quatro ventos... E pode atingir qualquer um – ou todos os partidos. O alarde sobre o assunto pode fazer mal para a saúde de muitos parlamentares.
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