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domingo, 18 de novembro de 2012

Opção pelos pobres x opção pelos ricos - Júlio Lázaro Torma*


Olhando a visita do Ícone e da Cruz da Jornada Mundial da Juventude ( JMJ), nos dois dias em que estiveram em Pelotas ( RS) e o número de pessoas nas atividades nos chama a reflexão junto aos dados do censo do IBGE( 2010).

O Brasil é hoje a 6ª economia do mundo, superamos a Grã Bretanha e somos 194 milhões de habitantes. Sendo que 123 milhões se declaram católicos e 42,3 milhões se declaram evangélicos do ramo pentecostal ou neo-pentecostal.

Fomos o maior país católico do mundo, onde em 1980 com a visita de João Paulo II, 85% se declarava católica.

Porque está evasão de fieis nas últimas três décadas, se formos olhar ela esta ligada ao pontificado de João Paulo II ( 1978-2005) e ao atual pontificado de Bento XVI.

Muitos tentam colocar a culpa na Teologia da Libertação, nas reformas do Concilio Vaticano II (1962-1965), nas conferências de Medellin (1968) e Puebla (1979), que consagraram a " Opção preferencial pelos pobres" e as " comunidades eclesiais de base".

Mas se olharmos o auge da Teologia da Libertação, ela ocorre nos anos de 1970-1980, quando o catolicismo era a maioria da população brasileira.

E que tínhamos um episcopado sensível aos apelos e sofrimentos das classes populares, com valiosos, zelosos e proféticos pastores como D.Helder Câmara, D. Ivo Lorscheider, D. Luciano Mendes de Almeida, D. Paulo Evaristo Arns, D. Tomás Balduino, D. Pedro Casaldáliga. Foi a época em que surge as pastorais sociais, as CEBs se difundem por todos os quatro cantos do país.

Com o processo de curianização mundial e desmantelamento do Concilio Vaticano II, a volta da grande disciplina e a " primavera interrompida" de João Paulo II, à nível mundial.

Tal processo de desmantelamento do Concilio e das Conferências de Medellin, Puebla pelo Vaticano, fez com que desse força e folego aos movimentos burgueses.

No qual a Opus Dei que no conclave de 1978, elegeu o Cardeal polonês Karol Wojtyla, como sucessor de João Paulo I ( Cardeal Albino Luciani).

Eis que tais movimentos como o Opus Dei, de carácter burguês, conservadores e de matizes eurocêntricas e norte americana, começaram a ter força no inicio da década de 1990, com a ofensiva neoconservadora de João Paulo II, com apoio de dioceses, arquidioceses do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, onde merece destaque o papel desempenhado do Cardeal Eugênio de Araújo Salles, o programa Evangelização 2000,por via satélite.

Com o processo de desmantelamento das pastorais sociais e as comunidades eclesiais de base, se convertendo em comunidades eclesiais burocráticas, clubes eclesiais de base. Onde agentes de pastorais comprometidos foram colocados de lado.

Conforme acontece a burocratização das cebs e a substituição delas por movimentos conservadores e neopentecostais, a Igreja Católica perde fieis e vê seu rebanho diminuir cada vez mais.

Do outro lado vemos a proliferação de canais de televisão católicos,com uma programção conservadora, padres cantores, seminaristas pop star, sex simbol, disputando audiência com canais de televisão e programas evangélicos.

Movimentos exóticos, inspirados na idade média, com trajes medievais, costumes estranhos, maniqueístas e jansenistas, valam línguas estranhas, volta do latim.

Falam mal da teologia da libertação e colocam nela todos os males, o insucesso de sua própria evangelização neopentecostal.

Há um provérbio popular que diz:" faça o que eu digo e não faça o que eu faço" e diga com quem andas que direi quem és".

O pregador oficial da Casa Pontifícia Frei Raniero Cantalamessa (O.F.M Cap),falou: " A Igreja vez a opção pelos pobres e os pobres fizeram a opção pelas seitas".

Mas será que foram os pobres que mudarão de lado ou foi a Igreja que mudou?, ela fala em opção pelos pobres,mas procura se aproximar cada vez mais dos ricos,das elites econômicas.

Se fala em opção pelos pobres, mas o que na prática vemos a hierarquia rodeada pelos ricos, nas solenidades os ricos estão do lado dos clérigos( ex Pe. Marcelo Rossi ao lado de Xuxa, Gugu, José Serra,...), que causa mal estar nas classes empobrecidas e o seu afastamento da instituição.

Tais movimentos são burgueses e voltados para a burguesia, com uma teologia conservadora.Priorizam o individual e as concentrações de massa.

Diferente das CEBs e pastorais, " pequenos grupos, onde as pessoas tenham contados" (E.N),onde conheço e sei a onde mora, os seus sentimentos de quem está ao meu lado.

Os movimentos prometem igrejas lotadas,mas o que vemos é uma evasão de fieis progressivamente para outras pequenas denominações pentecostais.Onde há uma forte atuação dos movimentos ou que as lideranças das comunidades são conservadoras,podemos ver uma forte atuação e crescimento das denominações pentecostais ou neo-pentecostais,diferente á onde as Cebs,pastorais atuam.

" Hoje em dia diante do agravamento da situação social, diante da contestação crescente que expressa no mundo inteiro contra o sistema neoliberal,a questão reaparece:" A Igreja está a favor dos ricos ou dos pobres?"Não se trata de uma mera questão de palavras.

Pelas palavras todos estão em favor da promoção dos pobres e todos se proclamam a serviço da libertação dos pobres.Mas os discursos nada significam. É necessário ver os fatos e os resultados concretos" (José Comblin).
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* Membro da Equipe da Pastoral Operária Arquiciocesana de Pelotas /RS

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