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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sabino, o candidato da assistência aos desassistidos

Por Frederico A. Passos - fred_passos@yahoo.com.br
 
Há duas décadas, Sabino era um desconhecido. Não tinha casa, exceto quando estava preso. Não tinha nada, exceto algumas tatuagens pelo corpo feitas no presídio. Sim, caros leitores e únicos amigos, Sabino não tinha nadica de nada. Era um pobre coitado! Até que um dia, uma mulher resolveu lhe dar colo, carinho e atenção. Essa mulher, que mandava prender e soltar bandidos, afeiçoou-se pelo meliante e mudou sua vida.

Sabino também recebeu colo, carinho e atenção de Amazonino, seu padrinho político. Foi Amazonino que lhe ensinou que distribuir sopa na zona Leste rendia mais votos que distribuir dentadura em Manaus. E assim, de sopa em sopa, Sabino se elegeu vereador; depois, ganhou um programa na TV e aí não parou mais. Em 2006, chegou ao ápice da carreira política, quando se elegeu deputado federal com 138.932 votos, o segundo mais votado daquele pleito. Na mesma eleição, com seu dedicado apoio, sua esposa foi eleita deputada estadual, com 14.034 votos. Na eleição seguinte, em 2008, elegeu o filho vereador, com 12.327 votos. Em 2010, conseguiu ser reeleito deputado federal, com 93.109 votos, também reelegendo deputada estadual a esposa, com 23.941 votos. O cara era bom!

Sabino já foi acusado de surrar a esposa, de quem está separado; já foi acusado de pedofilia; de ser usuário de droga; de servir sopa com ingredientes vencidos etc. Em fevereiro deste ano, o TRE cassou o mandado de deputado federal de Sabino por ele ter utilizado seu programa de TV indevidamente. Mas Sabino saiu ileso dessa e de outras acusações. Nesta eleição, seu filho é candidato a vereador, talvez até seja eleito, mas não com o entusiasmo eleitoral de 2008.

Sabino é candidato a prefeito sem apoio de ninguém. Resolveu se rebelar e voar por conta própria. Seu padrinho político o abandonou. Seus antigos aliados sumiram. A massa que o acompanhava desapareceu. Até o programa na TV lhe tomaram. Sabino esqueceu que tentar brilhar mais que o chefe só é para quem tem bastante munição e não para um modesto caçador de tatu. Talvez até consiga algo, caso não vá para o segundo turno e resolva apoiar um dos candidatos a prefeito. Quem sabe uma secretaria municipal, como a Secretaria de Ação Social, que seria a “menina dos olhos” de Sabino.

Como candidato a prefeito, Sabino mudou o visual. Arrumou os dentes. Comprou novas camisas compridas e paletós. Já aparece até sorrindo na TV! Mas continua com alguns vícios, principalmente o de cerrar os olhos quando está falando, como se estivesse todo tempo piscando. Anda prometendo muita coisa. Que construirá diversos locais em Manaus para distribuir sopa; que oferecerá almoço a R$ 0, 50 e jantar a R$ 1,00, sem envolver o Tambaqui Urbano. Que distribuirá colchões, travesseiros e redes de graça. Seu lema de campanha é: Manaus com assistência aos desassistidos!

Mas existe algo escondido na candidatura solitária de Sabino: a sua reeleição para deputado federal. Ele sabe que não terá mais o apoio dos homens que mandam no Estado. Por isso, a grana ficará escassa. Ele também sabe que seu programa de TV não volta mais. E, por último, ele também sabe que o TRE está na sua cola. Por isso, sua candidatura é mais uma estratégia para adquirir musculatura e disputar uma vaga de deputado federal em 2014 do que uma disputa para prefeito para valer!

Sei que ainda veremos Sabino retornando ao passado, como candidato a vereador em 2016. Afinal, quem se acostuma com o poder não quer mais largá-lo. E todos que lhe apresentaram ao poder desapareceram de sua vida. O poder embriaga, mas a ressaca é muito pior, dá uma dor de cabeça horrível e deixa uma sensação de solidão!

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