A pesquisa começou em 2015 e, de forma geral, estuda a diversidade de anfíbios, répteis e plantas na região de transição entre os dois biomas, também conhecido como ‘ecótono’.
Procurar prever como as mudanças climáticas - cujas previsão são pessimistas - podem afetar as espécies de animais e vegetais na área de transição entre o Cerrado e Amazônia, o chamado ‘arco do desmatamento’. Este é um dos objetivos da pesquisa realizada pela bióloga do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Fernanda Werneck, uma das sete vencedoras do prêmio “Para Mulheres na Ciência”.
A pesquisa começou em 2015 e, de forma geral, estuda a diversidade de anfíbios, répteis e plantas na região de transição entre os dois biomas, também conhecido como ‘ecótono’, que abrange parte do sul do Amazonas, Pará, Mato Grosso e Rondônia. “É onde acontece uma maior pressão de destamatamento, então estamos interessados em procurar saber como essas mudanças climáticas podem afetar a diversidade de espécies nessa região. A gente conduz uma série de experimentos, a fim de ver como o aumento de temperatura afeta as capacidades ecofisiológicas dos animais”.
Os ecótonos são regiões propensas a apresentar substituições na vegetação entre os biomas adjacentes (devido a diferenças climáticas ou outras variações ambientais), sendo possível modelar ou prever como tais regiões irão se comportar em diferentes cenários de mudanças climáticas. “Igualmente, é possível que variações ambientais encontradas possam influenciar a estrutura genética das populações locais”.
Com a bolsa-auxílio do prêmio, que foi de R$ 50 mil, os pesquisadores irão olhar a partir de agora para o nível genético das espécies, para observar como a variação genética das espécies se distribui nos dois bomas. “O interessante é saber se esta região de transição atua como fonte geradora de diversidade ou como filtro. As populações que estão adaptadas no cerrado, por exemplo, será que conseguem cruzar o ecótono e atingir a Amazônia? Ou será que esta região funciona como uma barreira de migração”? questionou.
Para encontrar estas respostas, os pesquisadores envolvidos no projetos estão conduzindo experimentos em expedições para analisar a capacidade térmica das espécies, especialmente, os lagartos, que conseguem regular a temperatura de diversas formas. “Precisamos entender as temperaturas preferenciais e os limites desses animais, para vê em quais as temperaturas que eles desenvolvem melhor as atividades”.
Os experimentos consistem em expor o animal a altas e baixas temperaturas. “Consideramos a temperatura crítica, e acima desta temperatura, o animal provavelmente não irá desempenhar as funções de reprodução e alimentação e podem entrar em um nível de extinção”.
As projeções usadas são baseadas nos cálculos climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que estima que a temperatura do planeta subirá quase 5 graus Celsius (ºC) até 2100, caso as ações humanas não sejam mitigadas. “Alterações climáticas sempre aconteceram, porém, agora estamos notando um incremento considerado muito rápido. A mudança ambiental pode ser extrema, a ponto de afetar as espécies”.
A premiação
Fernanda Werneck, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), é uma das sete ganhadoras do prêmio “Para Mulheres na Ciência”, promovido pela L’Oréal, Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco/Brasil) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), para incentivar mulheres cientistas a seguir carreira na pesquisa.
Ela é natural de Goiânia e fez graduação e mestrado na Universidade de Brasília (UNB). Aos 35 anos, a jovem pesquisadora se diz emocionada ao receber a premiação. “É um reconhecimento interessante, é uma premiação para mulheres mas também voltada pra jovens pesquisadores”.
Para Werneck, além de ser um reconhecimento para o projeto, a premiação também garante oportunidades iguais para o gênero feminino. “Sabemos que as mulheres ainda sofrem com as limitações que nos são impostas em todas as áreas de trabalho. Então esse reconhecimento acaba ajudando e incentivando estudante a ingressarem na área da ciência, na área acadêmica, com oportunidades iguais”.
Ela conta, ainda, que oportunidades como estas são importantes para captação de recursos e aprimoramento da ciência. “Nós, pesquisadores, sempre estamos correndo atrás de financiamentos externos. Toda fonte de financiamento vem em geral de fontes externas, algumas delas que a gente aplica de fontes do governo ou não governamentais”.
O projeto também é financiado pela agência internacional United States Agency for International Development (USAID), por meio do programa científico Partnerships for Enhanced Engagement in Research (PEER), em colaboração com o Inpa, a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e a University of California-Santa Cruz.
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