Há exatos 20 anos a se completarem nesta 3ª feira, num 2 de outubro de eleição municipal, no governo Fleury Filho, policiais invadiram o Complexo Penitenciário do Carandiru durante uma rebelião de presos e mataram com tiros de metralhadoras, fuzis e pistolas, ao menos 111 detentos.
Há quem diga que o número de mortos foi maior. Ninguém foi responsabilizado até agora, duas décadas depois, embora finalmente tenha sido marcada o julgamento dos réus do processo para este ano. Conhecido como massacre do Carandiru, foi considerado um dos maiores atentados contra os direitos humanos, contra condenados que já cumpriam pena e estavam sob a guarda do Estado.
Para relembrá-lo, hoje a tarde, movimentos sociais, ONGs e a Pastoral Carcerária realizaram ato na Praça da Sé - inicialmente, uma cerimônia ecumênica na Catedral e depois um ato político-cultural. A manifestação tem seguimento no próximo sábado, com uma caminhada no Parque da Juventude, onde antes estava instalado o Complexo do Carandiru.
"Não esquecemos e não esqueceremos jamais"
“O ato não é apenas um resgate da memória dos 20 anos do Carandiru, uma situação clara de que não esquecemos e não esqueceremos jamais do que aconteceu, mas é também uma denúncia pública sobre todas essas políticas de massacre das populações periféricas, pretas e pobres, que ainda acontece nos dias de hoje”, explica Rodolfo Valente, advogado da Pastoral em São Paulo e integrante da Rede 2 de Outubro, um movimento em defesa dos direitos humanos.
Segundo Valente, o ato de hoje foi uma denúncia e um protesto, principalmente contra a impunidade, não só do Massacre do Carandiru mas, também, do massacre de Eldorado dos Carajás e dos Crimes de Maio.
Entre os dias 12 e 20 daquele mês de 2006 nos ataques comandados pela facção criminosa PCC, 493 pessoas foram mortas em São Paulo, entre elas, 43 agentes públicos. Um estudo da ONG Justiça Global aponta que, em 71 desses casos, há fortes indícios do envolvimento de policiais integrantes de grupos de extermínio que agiram em parceria com o PCC.
Três massacres numa história de violência
Em Eldorado dos Carajás, no Pará, em abril de 1996, a ação da PM do então governador tucano Almir Gabriel, provocou a morte de 21 integrantes do MST - 19 sem-terra morreram no local e dois a caminho do hospital. As mortes ocorreram durante o confronto com a polícia no km 96 da Rodovia PA-150, na chamada Curva do S.
No caso de Eldorado de Carajás, houve julgamento e há condenados. Já o Massacre do Carandiru continua impune e a policia de São Paulo continua matando - como comprovam dados exaustivamente divulgados - em ofensivas e escaladas de violência que mal arrefecem e já recomeçam.
Pior é que o governo tucano paulista se recusa a aceitar a realidade e não impõe à PM e à mais violenta de suas polícias, a ROTA - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, um controle que ponha fim à politica do olho por olho, ou a ação de grupos de extermínio que atuam como os esquadrões da morte do passado. Pelo contrário, o governo Geraldo Alckmin as premia: os dois últimos coronéis promovidos a comandantes da ROTA são réus no processo do massacre do Carandiru.
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