Por Dom Luiz Soares Vieira - Arcebispo Metropolitano de Manaus.
Não faz um mês, jovens assaltaram uma padaria e, ao fugirem do local, acertaram vários tiros em um tenente-coronel da Polícia Militar. Aconteceu aqui, em Manaus. Felizmente, o militar supera bem a cirurgia por que passou e todos os assaltantes foram presos. Na ocasião, uma jornalista entrevistou um dos criminosos, um rapaz de 19 anos de idade. Faz pensar e deixar preocupado o que ele disse.
Transcrevo o que está escrito no jornal. ”Cassiano contou que, quando vai fazer um assalto, ele ora antes pedindo proteção de Deus, para que tudo corra bem e que, depois, ora pelas vítimas e até chega a chorar por elas”. Como se pode concluir, o homem é muito religioso e confiante em Deus. Com certeza deve frequentar alguma igreja e fazer orações. Mas, será possível ter fé e praticar atos contrários à vontade de Deus? Dá para conciliar essas duas atitudes?
Na história existem outros casos parecidos com esse. Lampião também era fervoroso cristão. Conta-se que, aos sábados, rezava o ofício de Nossa Senhora e, depois, saia para assaltar, estuprar e matar.
Não seria uma espécie de esquizofrenia ou dualidade diante de Deus? Na ultima guerra, a descoberta de campos de concentração de prisioneiros antinazistas e de judeus pôs às claras até onde pode chegar a maldade humana. Muitos dos oficiais nazistas, que torturavam e matavam, eram ótimos esposos, carinhosos pais e frequentadores de igrejas.
Casos semelhantes se contam aos milhares, em toda a história da humanidade. Não em extremos como esses, que beiram a doenças; em qualquer homem ou mulher de fé, acontecem contradições no relacionamento com Deus e com as outras pessoas. Lembro-me de um pai, cujo filho tinha sido assassinado, que me dizia em alto e bom som: “Se Deus quiser, matarei aquele desgraçado.”
A vontade divina expressa claramente na Bíblia é que ninguém mate seu semelhante. O pai confundia desejo próprio com o querer de Deus.
Jesus nos diz em trecho do Sermão da Montanha (Mt 7,21-23): “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus”. Continuando o texto, o Senhor chega a afirmar que em seu nome até profetizarão, expulsarão demônios e farão milagres, mas ficarão excluídos do Reino Celeste, por que viveram de modo contrário ao proposto pelo Pai. Existem outros textos bíblicos que dizem a mesma coisa, mas ficaria monótono citá-los. A moral é o caminho para viver a fé.
Isso posto, cumpre-nos esforçar-nos para sermos consequentes e seguir a vontade divina, claramente revelada acima de tudo por Jesus Cristo. Não cabe a nós condenar o jovem que orava para dar certo o assalto. Só Deus é juiz. Afinal, ele pode ser mais uma vítima de família arrebentada, a maior geradora de criminosos.
Programas sociais voltados aos adolescentes começam a dar bons resultados, mas ainda há muito caminho a percorrer. Os jovens precisam conhecer os valores morais e éticos para terem futuro.
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