Todos os anos durante a Semana Santa e no Sábado Santo ou de Aleluia, após as dolorosas recordações da Paixão e Morte do Senhor, o povo de modo satírico, tem mania de malhar o Judas.
A tradição esta originada na Idade Medieval quando a população saia as ruas, praças das cidades e aldeias para malhar o Judas, que era a personificação de algum desafeto das comunidades, como no caso de algum ladrão, político...
Depois chegou ao Brasil, através dos colonizadores ibéricos, principalmente portugueses e açorianos, que após as penitencias da Quaresma e as lamentações da Paixão, caiam em alegria ou vingança pela morte de Jesus, por assumir a culpa pela sua crucificação por causa dos nossos pecados.
Na Bíblia encontramos 15 referencias á este personagem, que foi um dos integrantes do colégio apóstolico, na qual na lista esta Judas Iscariotes " aquele que traiu ou entregou", o porta bolsa, que com um beijo traiu Jesus e depois se enforcou.
Se chegou até absolver a sua figura e ato, como sendo um pedido de Jesus para realizar o plano de Salvação, onde á vitima se torna ré e o réu se converte em herói, seguindo á famosa cultura da impunidade brasileira.
Mas afinal que é Judas Iscariotes, o décimo segundo discípulo?
Judas Iscariotes, nada mais é do que cada um de nós, eu e você que lê este texto, nós somos Judas, pois traímos Jesus de diversas formas e atos, pode ser por trinta moedas de prata (Mt 26,15; Mc14,10-11; Lc 22,5) e um beijo (Lc 22,47-48; Mc 14,44-45; Mt 26,48-49), como fez o traidor.
Mas as formas de trair podemos usar de diversas formas, desde usar a Palavra de Deus para justificar a dominação, exploração e a violência, ouvir e saber o Evangelho e não por em prática.
Traímos Jesus quando banalizamos a violência, a morte sem sentido de milhares de inocentes, acumulação de riquezas, enquanto 800 milhões vivem na miséria e na pobreza e do outro lado se esbanja dinheiro e alimentos em futilidades e se fala que isso é normal e sempre existiu.
Se usa o nome de Deus e a religião para matar e fabricar armas que destruira o semelhante, para destruir e poluir a natureza e o planeta a nossa comum, explorar e cometer fraudes, fazer juramentos falsos que prejudicam os mais pobres e excluidos, os pequenos de Jesus, aqueles em que a face sofredora do Mestre se espelha (Mt 25,31-46; Is 52,13-53,1-12).
Os casamentos de fachadas e amizades sem amor e respeito para com o próximo, á hipocresia que fere e que mata, o homem espiritualmente e corporalmente. Este é o Judas Iscariotes que mora em nós e que procuramos esconder no nosso dia a dia, através de atos que gostamos de atribuir ao demônio e aos seus anjos decaídos que vagam por ai.
Todos os dias e momentos de nossa vida vendemos, traímos, crucificamos e matamos Jesus, desde os nossos pecados leves até os grandes que brandam os céus que nós temos medo de revelar no Sacramento da Penitência, como medo do sacerdote nos olhar com indiferença.
Talvez a malhação de Judas, seja á nossa forma de exorcisar e penitenciar este personagem bíblico, que vive no nosso interior, onde o boneco se torna na nossa brincadeira o lado mal que temos e que queremos nos livrar.
E esta é a forma que conseguimos para livrar-nos da culpa da morte de Jesus que morre todos os dias e que teimosamente Ressuscita para nos apontar o caminho da Salvação e Redenção.
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* Membro da Equipe da Pastoral Operária da Arquidiocese de Pelotas/ RS
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