"Vocês compreenderam que acabei de fazer?"
Estamos na Semana Santa, a " Grande Semana" ou a "Semana Grande", em que recordamos o grande acontecimento que mudou a face da terra.O antes e depois do grande Mistério da Entrega, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesta semana que iniciou com o Domingo de Ramos, com a entrada triunfante e provocativa de Jesus em Jerusalém na grande romaria da Páscoa Judaica.Agora iniciamos no inicio da noite as últimas horas de Jesus entre nós e como um dos nossos ser humano, recordamos o maior gesto de amor realizado por um ser humano e no caso por um Deus, que é servir e doar a sua própria vida pela humanidade.
O Evangelho de João 13,1-15, nos fala do lava pés, enquanto os sinóticos nos apresentam a "Instituição da Eucaristia", que acontece antes da tragédia de Jesus (Mt 26,26-35; Mc14,22-26; Lc22,14-23; I Cor 13,1-15).
João não nos fala da Instituição da Eucaristia, mas conta do lava pés, que acontece durante a ceia da Páscoa Judaica em que todo o judeu celebrava.
João durante todo o seu evangelho nos fala da Eucaristia,como a multiplicação dos pães e o discurso sobre o Pão da Vida ( Jo 6,1-52), do vinho (Jo 6,53-60) e nos apresenta Jesus que é morto como Cordeiro Pascal ( Jo 19,31-37).
Mas aqui ele nos fala do lava pés, que não acontece no inicio da ceia, mas durante a ceia. Pois para o semita, antes da refeição deve se lavar as mãos e os pés, isso era coisa do empregado ou do dono da casa fazer aos convidados.
Jesus repete, aqui o gesto de Maria em casa de Lázaro e Marta em Bêtania (Jo 12,1-9), antes de entrar em Jerusalém, onde Maria lava os pés de Jesus e enxuga com os seus cabelos, durante a ceia em sua casa.
"Ele se levanta, tira o manto e pega a toalha e cinge-se com ela. Depois coloca a água na bacia, começou a lavar os pés dos discipulos e enxugar com a toalha que estava cingido".
Ele aqui vai a condição de empregado, vai e lava os pés de todos, se doa, se faz servo, menor de todos, nos recordando o servo " servidor" ( Is 42,1-9).
Na mesa Jesus não exclui ninguém, ao mesmo tempo em que lava os pés de Judas o traidor, que já havia se afastado e se auto excluído da comunidade, no momento em que decide vender Jesus ao sinédrio ( Mt 26,14-25).
Vemos também Pedro, que se recusa em ter os seus pés lavados pelo Mestre. Pedro tem outra visão de Jesus, de um " Cristo Rei", "Messias dominador", que libertara Israel e colocara seu jugo, sobre todos os povos pagãos. Mentalidade está com que fez, que fosse repreendido pelo próprio Jesus:" Retira-te de mim satanás"(Mt 16,23).
Ele nos fala da limpeza do corpo, da pessoa estar limpa, perfumada ou elegante. Mas a limpeza corporal não se reduz só a higiene corporal, pois muitas vezes vemos o lindo corpo, as aparências externas, elegância das pessoas. Que observam os preceitos e as leis.
Mas não conhecemos o seu interior, as suas reais intenções e ações, como diz Jesus;" É de dentro do coração das pessoas que saem as más intenções" (Mc 7,14), mas para ele a verdadeira limpeza é a prática das suas Palavras e seus gestos de vida.
O que aconteceu com Judas, quem dos outros onze assentados a mesa imaginava que ele ia trair Jesus? Creio que ali ninguém imaginava isso?
Jesus após lavar os pés de seus amigos, pega o manto e coloca de novo e se assenta a mesa e pergunta aos discípulos e há cada um de nós: "Vocês compreenderam o que acabei de fazer? (Jo 13,12). Eis que Jesus se faz "Servo" (Fl 2,6-7; Jo 14,8-11), por amor a humanidade, que esta corrompida pelo pecado.
Ele por Amor, se faz servo, humilde, nos mostrando e contrariando a nossa mentalidade de grandeza, a onde nos fala " de quem deseja ser o maior, deve ser o menor de todos "(Lc 22,26-27). Onde nos deixou o seu exemplo de vida.
O exemplo ao qual Jesus quer se reportar não é tanto o de ter lavado os pés dos apóstolos, quando, ao invés o da humildade e da caridade com o qual, sem nenhuma consideração por sua dignidade, pôs-se a servir quem lhe era inferior. Nota-se a importância que atribui á expressão Mestre e Senhor.Única vez que assim falou.
Até o Concilio de Trento ( 1545-1563), o lava pés era considerado na Igreja como um dos sacramentos ou poderíamos dizer um gesto sacramental.
Olhando o gesto do lava pés, a morte de Jesus na cruz, poderemos dizer, quando perdemos um ente querido, de que está pessoa nos deixou um legado, na qual recordamos a sua vida e memória para sempre, como ele nos recorda: "Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei- vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós" e " Fazei em memória de mim" ( Jo 13,14-15;Lc 22,19).
Para a comunidade Joanina, celebrar a Eucaristia, recordar o Amor e a vida de Jesus, o seu amor é estar a serviço. Só somos de fatos e verdadeiramente cristãos, quando servimos aos irmãos.
Servir, exige de cada um de nós, renunciar, humildade de ir ao encontro do irmão, principalmente aquele que mais sofre e que o próprio Cristo se faz um deles( Mt 25,31-46).
A comunidade que não serve, o cristão que não serve, não celebra a Eucaristia e nem está em comunhão com Cristo.
Assim como ele por Amor, se doou, entregou-se na cruz, para nos salvar. Devemos nos doar aos outros, sem esperar nada em troca.ESTE FOI O MAIOR GESTO DE AMOR, que um ser humano, que um Deus pode nos dar.
Pois Jesus na sua grandeza, nos mostrou a sua pequenez, se tornou o menor, para ser o Maior. E como cantemos em nossas comunidades.
" Prova de Amor Maior não há, do que dar a vida pelo irmão".
Só sabe amar o seu irmão de fato, quem sabe servir e é capaz de doar-se ao seu próximo de corpo e alma.Este é o grande gesto concreto da Eucaristia e da recordação da memória incomoda de Jesus de Nazaré.
Que recordamos no Triduo da Semana Santa, da Grande Semana da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo na Páscoa.
Como nos ensina o apóstolo João:"Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com atos e em verdade" (I Jo 3,18).
* Membro da Equipe da Pastoral Operária da Arquidiocese de Pelotas /RS
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