Os nadadores Jean Cláudio e Manoel Erivelton disputariam em campeonato em São Paulo este final de semana custeados pela Sejel. Entretanto, as passagens aéreas foram negadas no último momento.
Uma história de superação que poderia servir de exemplo a milhares de jovens com deficiência no Amazonas teve um final melancólico nesta quinta-feira (31). A trajetória de conquistas dos nadadores paralímpicos Jean Cláudio Dias e Manoel Erivelton Pereira, ambos com 39 anos, esbarrou numa dificuldade difícil de superar: a falta de apoio.
As passagens que levariam os atletas a uma competição nacional em São Paulo, neste fim de semana, foram negadas pela Secretaria de Estado de Juventude, Desporto e Lazer (Sejel), às vésperas do evento. Os dois reclamam que, no começo do ano, a Secretaria havia se comprometido a bancar o deslocamento.
Para a mãe de Jean Cláudio, a fisioterapeuta Maria Dias, 58, essa quebra de acordo por parte da Sejel é uma grande derrota. “Os rapazes treinaram duro, tiveram dedicação total ao esporte nos últimos anos, e agora vão ver o sonho deles ser desfeito por esse gesto injusto. Não tem como continuar motivado depois disso”, lamenta Maria, que já viu o filho superar inúmeras barreiras por puro amor ao esporte, tendo sido desacreditado e desestimulado diversas vezes ao longo da vida.
Erivelton resumiu o sentimento de revolta diante da situação: “Isso desmotiva quem admira a gente, quem nos via como exemplo. Recentemente, um rapaz que também é deficiente entrou lá na Atlética (Rio Negro, o local onde Erivelton e Jean Cláudio treinam), justamente porque viu a gente competir, e isso o motivou a tentar a natação. É frustrante”.
Jean, que nasceu com paralisia cerebral, a qual lhe dificulta os movimentos da parte direita do corpo, e limitação intelectual, é um sobrevivente. As dificuldades que ele herdou do berço são enormes, e já lhe tornam a trajetória mais difícil que a das pessoas sem deficiência, mas, como se isso não fosse o bastante, ele também teve de lidar com o preconceito.
“As pessoas ‘comuns’ não estão preparadas para acolher alguém como o meu filho. No Brasil não há estrutura física para receber o deficiente, não há calçadas, não há transporte adequado, mas o pior de tudo são as atitudes das pessoas, a incompreensão, a humilhação, a falta de incentivo, que fazem o deficiente se sentir um pária, um excluído”, denuncia Maria, que viu o filho tentar o suicídio diante da falta de perspectivas.
O esporte, porém, deu um novo propósito à vida de Jean Cláudio. Com dedicação resoluta, ele ascendeu nas categorias da natação paralímpica e se tornou uma das figuras notáveis desse esporte no Amazonas. Seu grande sonho era disputar uma competição de nível nacional. Ao menos por enquanto, ele vai ter de esperar. “Ele ainda não entendeu. Ele está tendo dificuldade para entender como as pessoas prometeram esse apoio para ele e depois simplesmente não aconteceu”, resume, com tristeza, a mãe do atleta.
Verba anual esgotada em sete meses
Por meio de nota, a assessoria da Sejel informou que o problema com as passagens de Jean Cláudio e Erivelton foi falta de verba. Segundo a entidade, a gestão atual assumiu a pasta com apenas um terço do valor anual para as passagens em caixa, e esse valor se esgotou entre maio e julho. A Secretaria enfatizou, porém, que está negociando com o Governo do Estado um novo repasse para poder custear passagens aéreas para atletas.
A Sejel foi administrada por Alessandra Campelo até maio deste ano, quando se desincompatibilizou do cargo para disputar as eleições. Antônio Eduardo Ditzel a substituiu no cargo.
Fonte: http://acritica.uol.com.br/craque/Atletas-paralimpica-AM-denunciam-Sejel_0_1184881527.html
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