quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES

Por Júlio Lázaro Torma*
 
"Uma nuvenzinha,do tamanho da mão de uma pessoa,vem subindo do mar" ( I Rs 18,44)

Há exatamente dois séculos iniciava nas águas do sul do Brasil,a devoção à Nossa Senhora dos Navegantes. A origem desta devoção remota ao navegadores e pescadores espanhóis e portugueses que iam enfrentar as águas perigosas do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo.

Ela era a Stella Maris," Estrela do Mar", "Rainha do Mar", "da Esperança", estava presente nas caravelas, navios de pequeno porte de 30 metros de altura e de largura,com capacidade de transporte de 40 homens e 4 tripulantes.Acompanhou as caravelas de Vasco da Gama, Cristovão Colombo, Américo Vespúcio, Vicente Yanéz Pinzon, Pedro Álvares Cabral e Fernão de Magalhães.

Esteve presente no século XV nas águas do sul do Brasil nos galeões espanhóis e caravelas portuguesas, Gaspar de Lemos chega no dia 2 de fevereiro de 1502, no cabo de Santa Maria no Uruguai; Juan Diaz de Solis( 1515), Fernão de Magalhães(1519) e Martim Afonso de Souza(1531).

A devoção a Santa Maria dos Navegantes vem para o extremo sul, junto com os soldados, camponeses e pescadores pobres do arquipélago dos Açores. No ano de 1720 é fundado o povoado de São José do Norte e ao sul do canal que liga o Oceano a Laguna dos Patos a cidade de Rio Grande de São Pedro(1737).

A partir de 1811, na povoação de São José do Norte, cuja capela sucursal da Igreja de Nossa Senhora da Conceito do Estreito, pois só foi elevada à freguesia em 1820. Um grupo de homens que empregavam suas atividades nas operações de carga e descarga dos navios, iniciaram um movimento de festividades em veneração à Nossa Senhora dos Navegantes.

As catraias eram então devidamente ornamentadas e o vigário da povoação do Norte prestigiou, desde logo a festividade de origem popular.

Acompanhado pelos devotos, o sacerdote encabeçava uma procissão. Chegando á praia todos tomavam os seus lugares nas catraias, que enveredavam em direção aos navios fundeados. Ao passar por eles o vigário lançava a sua benção e os respectivos tripulantes, em gesto que correspondia a um espetáculo de devoção,lançavam as suas oferendas florais.

Quando o tempo permitia, as catraias estendiam o percurso, tornando a procissão mais longa,vindo até a porta da macega, na Vila de Rio Grande de São Pedro e rumavam pelo canal do Norte, chegando à povoação de pescadores,em torno da Atalaia,onde estes profissionais a recebiam ruidosamente, geneflexos, em seus pequenos barcos ou nas areias da praia e recebiam a Benção Litúrgica.

Ao iniciar-se a Segunda metade do século XIX, São José do Norte experimentava um período de progresso e de prestigio.

E, por essa época, foi lá construída a nova Igreja da localidade,um templo majestoso que logo se tornou o exemplar mais expressivo da sua arquitetura urbana, superando em porte e atrativos, a Matriz do Rio Grande, que já havia se tornado cidade(desde 1835). Este templo com pedra fundamental lançada em 1840, passou a ser utilizado em 1850 mas o translado oficial da Eucaristia e a desativação da Igreja Antiga acontece em 1º de Fevereiro de 1860.

A festividade de Nossa Senhora dos Navegantes, iniciada em 1811, ganhou então novo impulso, envolvendo as duas localidades de fronteira. Anos mais tarde, o templo de São José do Norte ganhou a sua imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, que segundo o escritor rio-grandino Marcos de Miranda Aramado (intendente de São José do Norte entre 1912-1920), foi oferecida a Irmandade criada sob à sua invocação por capitães, mestres e tripulantes de variadas categorias, homens que arrastando, permanentemente os perigos do mar em frágeis embarcações enchiam-se de fé para implorar a proteção da Virgem.

A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes era de pequenas dimensões e fora mandada fazer em Salvador da Bahia, então um centro famoso de artistas escultores em madeira, com finalidade sacra.

Colocada no interior de um barquinho delicadamente confeccionado a imagem chegou ao Rio Grande do Sul no dia 21 de dezembro de 1875 e logo foi levada para a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes da Vila do Norte, tendo sido levada processionalmente através do canal, a bordo de uma catraia pertencente a Fortunato Gomes Polonia. A catraia foi rebocada pelo vapor "Progreso", seguido de intenso cortejo de embarcações.

No ano de 1869 chega o segundo bispo da Diocese do Rio Grande do Sul, Dom Sebastião Dias Laranjeira(1820-1888), vindo da Bahia e assume a Sede Episcopal em Porto Alegre e introduz a devoção no ano de 1869, a procissão nas águas do rio Guaíba tem inicio em 1871.

A devoção a Navegantes se espraia pelo estado,em 1910 é iniciada em São Lourenço do Sul, 1932 em Pelotas, Arroio Grande (Vila Santa Isabel), Rio Pardo, Porto Lucena,Uruguaiana, Salto do Jacuí, Tramandaí e no estado de Santa Catarina nas cidades de Laguna, Florianópolis, Navegantes.

Como em muitos lugares aqui no sul do Brasil, ela é o porto seguro dos pobres que encontram em Maria de Nazaré, o apoio para atravessia do mar de sua vida e a esperança de poderem um dia chegar lá a onde ela chegou na liberdade dos filhos e filhas de Deus e ela nos encoraja a navegar com Deus e é possível realizar está esperança.

"A PRAIA, O MAR, O CÉU E A TERRA/ COM TODOS OS SEUS HABITANTES/
TE SAÚDAM E TE VENERAM SENHORA E MÃE DOS NAVEGANTES"

( Fr. Celeste José Conte. O F M.Cap)

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