Nesta entrevista, Francisco Praciano - o deputado federal mais votado nas últimas eleições - diz claramente, que a população de Manaus não tem sido ouvida pelos prefeitos que elege. Defende a presidente Dilma e garante que ela tem compromisso com a manutenção da Zona Franca de Manaus, porque sabe, dentre outras coisas, que é esse modelo o responsável pela geração de 300 mil empregos em Manaus. E mantém firme a crença de que o PT avançará na escolha do melhor nome à prefeitura de Manaus, já que como ele mesmo diz, o "PT não tem dono".
BLOG da FLORESTA - O sr. foi o primeiro político a se pré-lançar candidato a prefeito após ser confirmado como o deputado federal mais votado nas últimas eleições. O anúncio não foi precipitado?
FRANCISCO PRACIANO - Inicialmente, Orlando, parabéns pelo sucesso cada vez maior do Blog da Floresta e pelo importante papel social desempenhado por esse veículo de comunicação e informação. A fase da minha pré-candidatura, na qual ainda estamos, começou a ser discutida por algumas pessoas dentro do PT de Manaus em meados de 2011, ou seja, um ano antes de iniciar o período eleitoral de 2012. Essa foi a época, também, que começaram a ser publicadas, em alguns veículos de comunicação, algumas pesquisas eleitorais contendo nomes de outros deputados, de senadores, de vereadores, do atual prefeito e de quem não está ocupando cargo eletivo. Então, o meu nome começou a ser ventilado e discutido na mesma época em que surgiram os demais pré-candidatos.
BLOG da FLORESTA - Mas, por que, concretamente, o sr. pretende ser candidato a prefeito?
FRANCISCO PRACIANO – Idêntica pergunta me foi feita em uma recente entrevista que dei para um dos grandes jornais do nosso Estado. Vou dizer a você, basicamente, o mesmo que disse naquela entrevista. Nos últimos 30 anos, Manaus tem sido administrada sem que o povo seja ouvido até mesmo nas decisões de grande impacto para a população. Exemplo disso está na privatização dos serviços de água, que foi feita sem qualquer consulta à sociedade e que gera, até hoje, enormes transtornos para grande parte dos moradores da cidade. O caso da água é bem emblemático. A mesma figura política que privatizou os serviços de água em 2000, sem qualquer consulta à sociedade, decide, agora, que vai mandar embora a concessionária, também sem qualquer consulta à sociedade. Ou seja, faz o que bem quer. Outro exemplo é a questão do sistema de transporte coletivo. Seja qual for o sistema a ser implantado, quem vai pagar por ele é o povo, que não é ouvido nem pelos que defendem o BRT e nem pelos que defendem a implantação do “monotrilho”. Não se discute, enfim, nada com o povo. Nem serviços de água, nem tarifa de ônibus, nem privatização da gestão dos nossos mercados e feiras, nada. O resultado dessa prática política salta aos olhos: enquanto alguns amigos de quem ocupa o poder são beneficiados, a maior parte da população tem que conviver com péssimos serviços públicos em praticamente todas as áreas. Se a administração da cidade continuar com essa velha escola, não tenho dúvidas que continuaremos com os péssimos serviços públicos de transporte, de água, de saúde, de educação, de segurança, etc.Então, tenho colocado meu nome junto ao meu Partido, como pré-candidato a Prefeito de Manaus, porque acredito que é possível termos uma Administração que ouve a sociedade e que funcione em benefício de todos e não somente dos “amigos do rei”. Uma administração moderna, com ética, transparência, eficiência e participação do próprio administrado nas decisões mais importantes para a cidade.
BLOG da FLORESTA - O sr. tem feito uma pregação muito forte contra a improbidade e a favor da ética na política. Mas ao invés de o sr. conquistar o apoio dos corações e mentes na República, parece que o sr. prega no deserto. Como o sr. vê essa questão?
FRANCISCO PRACIANO – A história tem mostrado que mesmo quando se prega no deserto, o que não é bem o meu caso, colhem-se bons resultados no futuro. Foi assim, por exemplo, com o profeta bíblico João Batista, o mais famoso dos pregadores em deserto. As mensagens de João Batista levaram muitas pessoas a acreditar, posteriormente, em Jesus Cristo, e o resto da história nós conhecemos. No caso da luta contra a corrupção e a impunidade de corruptos, presidi no Congresso, no ano de 2011, a Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção, mas não estava e nem estou sozinho. Além de outros parlamentares no Congresso e nas Casas Legislativas estaduais e municipais pelo Brasil afora, existem muitas outras pessoas e entidadesda sociedade civil organizada empenhadas em acabar com essa praga no nosso país. Há, também, os trabalhos da Polícia Federal, do Ministério Público e de outros órgãos públicos responsáveis pelo combate à corrupção e pela correta aplicação dos recursos públicos. De concreto conseguimos pouco, até agora, mas o importante é que a sociedade brasileira está cada vez mais indignada com a corrupção e esse é o primeiro resultado que buscamos. Um dia, a própria sociedade vai dizer: BASTA.
BLOG da FLORESTA - O sr. defende a eleição direta dos dirigentes de instituições como TCE, TCU, Defensorias. E a propósito da Defensoria, o sr. considera se a ascensão do defensor-chefe acusado daquelas supostas irregularidades, as chances de improbidade seriam nulas?.
FRANCISCO PRACIANO – Tenho acompanhado, por jornais, o recente escândalo envolvendo possíveis atos ilegais cometidos por alguns defensores públicos e sei que a própria instituição – Defensoria Pública - e o Ministério Público estão tratando do caso. Por mais de uma vez manifestei-me, da tribuna da Câmara, sobre os problemas da nossa Defensoria Pública, principalmente quanto à falta de defensores públicos nos nossos municípios, o que deixa à mercê da própria sorte o cidadão que não pode pagar pelos serviços de um advogado. Até procurei tratar disso, pessoalmente, com o governador Omar Aziz, atendendo a pedidos de alguns membros da associação dos defensores. Sobre os Tribunais de Contas, essa é uma questão que sempre me preocupou, principalmente porque vejo esses órgãos muito ligados às figuras dos governadores, no caso dos TCEs, e à figura do Presidente da República, no caso do TCU. Os Tribunais de Contas dos Estados, principalmente, viraram abrigos para amigos pessoais, figuras políticas sem mandato e ex-secretários dos governadores. Por causa disso, apresentei uma Proposta de Emenda à Constituição – PEC propondo alterar a forma de escolha dos Ministros do TCU e, em consequência, dos Conselheiros do TCE. Na forma que propus, nem o governador poderá indicar qualquer membro para o TCE e nem o Presidente da República poderá indicar qualquer membro para o TCU, a fim de acabarmos com essa história do “auditado escolhendo o seu auditor”. Além disso, de acordo com a minha PEC, cada um dosConselhos de Administração, de Contabilidade, de Economia e a OAB poderão indicar um membro para esses Tribunais.
BLOG da FLORESTA - Alguém já falou que o sr. ficava muito a vontade como vereador de Manaus, mas, não como deputado federal...?
FRANCISCO PRACIANO – Nunca me calei nem como vereador e nem como deputado federal. Nas Comissões das quais tenho sido membro, na Câmara dos Deputados, nunca votei contra a convocação de Ministros para darem explicaçõessobre possíveis irregularidades ou escândalos envolvendo as Pastas desses Ministros, mesmo eu sendo de um Partido da base do governo. Mesmo eu sendo da base de apoio ao governo, não recusei a indicação para presidir, no ano de 2011, a Frente
Parlamentar Mista de Combate à Corrupção, mesmo sabendo que isso poderia me levar, como realmente aconteceu, a assinar pedido de CPI contra algum membro do alto escalão do nosso governo. Enfim, nunca compactuei e jamais irei compactuar com o erro. Por isso, na condição de deputado federal, sinto-me inteiramente à vontade, pois sei que só estou fazendo aquilo para o qual fui eleito.
BLOG da FLORESTA - O sr. considera que a presidente Dilma tem sido leal com o Amazonas, já que quase toda semana uma medida editada gera transtornos à Zona Franca de Manaus?
FRANCISCO PRACIANO – É claro que a expressão “quase toda semana”, utilizada por você, é apenas uma força de expressão. A Presidente Dilma é a Presidente de todo o país. Tem que olhar pelo Amazonas mas tem que atender, também, alguns dos reclamos de Minas Gerais, da Bahia, de São Paulo, etc, e os interesses desses outros Estados muitas vezes se chocam com os nossos interesses. Considero, sim, que a Presidente Dilma tem sido leal para com o Amazonas, um dos poucos estados em que ela já esteve duas vezes, no intervalo desse seu primeiro ano de mandato. Sei que, apesar da força econômica e política dos Estados do Sul e do Sudeste, principalmente, o governo federal entende que a Zona Franca não pode acabar, porque sem ela o Amazonas perde sua principal fonte de emprego e de geração de renda, algo, hoje, em torno de 300 mil empregos, sendo 120 mil nos postos de trabalho diretamente nas fábricas instaladas em Manaus. Sei, também, que o governo federal entende a ZFM como o principal motor de dinamismo econômico de toda a Amazônia Ocidental, responsável por ¾ do PIB de toda a região. Recentemente, realizamos um Seminário no PT sobre a situação da Zona Franca, com participação, inclusive, de especialistas de fora do Partido. Um dos compromissos que tiramos, ao final do Seminário, foi o de propor ao governo federal a formação de uma comissão de especialistas, com presença interministerial, para que analise a situação atual da ZFM e proponham medidas para o seu fortalecimento. Já no início de fevereiro estaremos entregando essa e outras propostas à Presidente Dilma.
BLOG da FLORESTA - O sr. acredita mesmo que pode vencer numa eleição o grupo incrustado no poder há 30 anos cujos caciques e aliados brigam entre si, mas diante de uma "ameaça" eleitoral como a candidatura de Vossa Excelência, eles imediatamente se unem?
FRANCISCO PRACIANO – Todos nós conhecemos o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Foi assim com o Lula e acredito que será assim também em Manaus. O sr. acredita que o PT possa sair unido nas próximas eleições com petistas publicamente abandonando a pré-candidatura, de um lado na prefeitura, e outros inflamando no governo a provável pré-candidatura de José Melo.
BLOG da FLORESTA - Se o sr. tiver o seu nome homologado como o candidato petista à prefeitura de Manaus, o sr. acredita que unirá o PT e sairá com toda a militancia em busca da vitória?
FRANCISCO PRACIANO – O PT é um partido que não tem dono e, por causa disso, os militantes não somente são ouvidos como decidem tudo, da escolha de seus dirigentes à escolha de seus pré-candidatos para vereador, deputado, senador, prefeito, governador, etc. Uma situação que ilustra bem isso, para todo o país, foi a escolha do Lula, dentro do PT, para representar o Partido como candidato a Presidente da República. Para ser o candidato à Presidente o Lula teve que enfrentar o Senador Suplicy em uma disputa interna. Você vê, portanto, que nem o Lula é unanimidade dentro do Partido. No nosso caso, aqui em Manaus, não há abandono à pré-candidatura própria. Há os que defendem a candidatura própria e indicam o meu nome, há os que defendem candidatura própria, mas com o nome do deputado Sinésio, por exemplo, e há, também, de forma totalmente aberta e transparente, militantes que defendem que o PT apóie candidato de outro Partido. Isso será levado à votação pelo conjunto dos militantes. Isso é democracia.