Morreu Carlos Alberto Luppi, capixaba com carreira feita no Rio e em São Paulo, um dos primeiros jornalistas que, com uma série de reportagens publicadas na Folha de S.Paulo no início dos anos 80, e com o livro “Manoel Fiel Filho: Quem vai pagar por este crime?”, provou que a versão oficial do II Exército de que o operário paulista cometera suicídio no DOI-CODI em janeiro de 1976 fora forjada pela ditadura.
Luppi era formado em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Juiz de Fora (MG), especializou-se em jornalismo investigativo, publicou um total de 11 livros-reportagem e foi o único brasileiro a ganhar o Prêmio J. Elliot de Direitos Humanos concorrendo com jornalistas de 120 países. Ele começou a carreira no Diário Mercantil, de Juiz de Fora – onde foi editor – trabalhou no Jornal do Brasil, na Folha, Estadão, Jornal da Tarde, mas só O Globo publica hoje uma nota sobre sua morte, ocorrida na última 3ª feira.
Em sua história, Luppi orgulhava-se de em 1971, durante uma epidemia de meningite que o governo Médici, valendo-se da censura à imprensa, tentou esconder, ter vasculhado nos órgãos de saúde até encontrar um documento com dados que comprovavam a epidemia. Outro feito seu resultou na reabertura do rumoroso processo do caso Araceli, menina misteriosamente assassinada nos anos 70 em Vitória (ES).
No início dos anos 90, Luppi abandonou as redações por achar que não havia mais espaço para o tipo de jornalismo que fazia e trabalhou como diretor de criação em agências de publicidade. Mas voltou ao jornalismo investigativo e em 2008 publicou o livro Dinastia das Sombras – O Homem que Matou Jesus, que tem como personagem principal uma vítima da ditadura militar na guerrilha do Araguaia.
A morte do operário Manoel Fiel Filho, cujo laudo atestando como causa mortis “suicídio” Luppi provou ainda na ditadura que fora forjado, veio na esteira da morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975. Fiel Filho foi assassinado no DOI-CODI do II Exército e o general-presidente Ernesto Geisel demitiu seu comandante, general Ednardo D’Ávila Mello. O caso começou a desestabilizar, também, o ministro do Exército, Sylvio Frota, derrubado pouco depois, mas aí já no bojo de outros desdobramentos – Frota fazia articulações para suceder Geisel.
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